sexta-feira, 12 de novembro de 2021

A Saída de Amoedo da Corrida Presidencial

 



Pensei bastante sobre a situação do NOVO e a saída de João Amoedo da disputa presidencial. Essa é a minha opinião a respeito.
É fácil não haver divergência quando se é um grupo pequeno, e especialmente fácil se idéias e ideais ainda não foram postos a prova. Quanto maior o partido fica, mais natural é que haja divergência. Isso é da regra do jogo. Em partidos realmente grandes, é normal até que haja não só correntes internas, mas dissidências mesmo (pense nos vários partidos “satélites” que surgiram de dentro do PT ou do DEM ao longo dos anos, apenas como exemplo). A unanimidade, que antes era quase natural, se torna utópica. Ainda mais natural é a divergência quando confrontados os integrantes com casos e disputas reais, como se dá com nossos deputados.
O Brasil tem uma dívida eterna com Amoedo. Ele é brilhante, incansável e certamente seria o melhor presidente que esse país já teve. Ao mesmo tempo, qualquer filiado teria todo direito de pretender ser candidato – você, eu, Mitraud, qualquer um. Isso não é “traição”, é democracia. É perfeitamente legítimo. Exigir unanimidade num grupo tão grande, mesmo com todos os seus outros méritos, demonstra falta de maturidade política.
O mais correto, então, seria o convite ter sido feito para o processo seletivo, ao invés de se atropelar tudo e já nomeá-lo como pré-candidato, certo? Penso que não. O certo seria não haver convite nenhum. O próprio convite mostra uma preferência que, se legítima, deveria se manifestar natural e somente durante o processo de escolha. Aliás, já passou a hora de mudarmos o estatuto para que o processo, também para os cargos majoritários, seja classificatório, não eletivo, e a palavra final seja deixada para os filiados em convenção (era assim na minuta de estatuto que eu redigi para o partido, lá no longínquo ano de 2014). Lembre-se: seria legítimo você querer ser candidato. Eu. Mitraud. Alguém. Qualquer um. Se você chama essa intenção legítima de “traição”, então perdemos em algum lugar o “partido de idéias, não de pessoas”. E digo isso mesmo concordando que seria merecidíssimo que Amoedo fosse nosso candidato, mas DEPOIS de passar pelo processo seletivo, igualzinho a qualquer outro que também quisesse.
Temos aqui, penso, mais um caso de “decisão de cima para baixo” que é o pior defeito do NOVO desde sempre. O ocorrido é só reflexo desse problema maior e mais antigo. Digo isso agora, dizia durante meus dois mandatos no Diretório Estadual, pelo jeito vou ter de continuar me repetindo por mais tempo. Pena: o NOVO é cheio de outras qualidades fantásticas. Mas, nesse aspecto, tenho mesmo de me repetir: parece que o filiado só é ouvido quando atrasa a mensalidade.
Quem fosse aclamado em assembléia uniria o partido. A idéia de que nem precisamos de assembléia nenhuma, nem sequer de seleção nenhuma (já que escolha em assembléia ainda não temos), que basta o João ser o pré-candidato fantástico que indubitavelmente é para que isso crie unanimidade, por mágica ou geração espontânea, é o que realmente está dividindo o partido.
Não concordo com tudo que nossos deputados fazem (eles mesmos discordam entre si às vezes, óbvio. É natural e saudável). Alguns são bem menos anti-bolsonaristas do que eu gostaria. Mas isso não justifica a postura de Amoedo de atacá-los, em público, dia sim e no outro também. Depois de mais de um ano fazendo isso com a bancada do próprio partido, parece quase insano pretender que houvesse unanimidade em seu favor. É, então, segundo penso, totalmente errada a interpretação de que houve “traição” a Amoedo ou, mais errada ainda, a de que houve uma vitória do “bolsonarismo dentro do partido”: alguém realmente consegue afirmar que o Mitraud é bolsonarista?... Aliás, se é para falar em “crítica”, o que dizer do bizarro apoio de Amoedo às piores barbaridades do STF?... Algum dos deputados chegou a fazer algo sequer próximo disso?...
Ronald Regan tinha uma frase de que gosto muito: “quem concorda em 80% com você é um amigo e um aliado, não 20% seu inimigo”. Não tenho intenção nenhuma de me desfiliar do partido que ajudei a criar. Vejo como positivo esse momento de reflexão, tanto para Amoedo como para todos os filiados. Espero que ele continue trabalhando pelo Brasil – talvez como candidato ao Senado no Rio, talvez como vice numa chapa de consenso pela terceira via (não, o estatuto não proíbe coligações). E espero que aprendamos a conviver com os 20% de divergência que temos entre nós, sob pena de não conseguirmos fazer nada em prol dos 80% em que concordamos.
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