quarta-feira, 1 de julho de 2009

Horror em Gaza - Segunda Parte

Publicado por Braghittoni Ives em 18 Jan 2009 sob: Internacional (editar)

Enquanto escrevo, acabam de chegar notícias de que Israel iniciou a retirada unilateral de Gaza. Apesar disso, ainda não foi confirmado o número de mortos pelo disparo contra uma escola da ONU com artilharia – o que é mais conseqüência de uma estratégia de ação errada do que um “erro isolado”. A contagem geral de mortos civis provavelmente vai demorar muito.

Defendi na postagem anterior que Israel tinha o direito de se defender contra o lançamento de mísseis contra civis. O grande problema está no como isso vem sendo feito.

A primeira coisa a entender é que Gaza é densamente povoada e tem alto grau de verticalização (os prédios de apartamentos predominam sobre as casas) – na verdade, Gaza é um grande adensamento de cortiços e favelas. Ou seja, é um completo absurdo a utilização de ataques aéreos contra uma região assim. Por mais “cirúrgicos” que fossem os ataques, o número de vítimas civis seria altíssimo e é exatamente o que aconteceu. Felizmente, essa fase da operação parece encerrada, mas a “desproporção” em disparar armamento aerotransportado contra um prédio inteiro porque “um andar” servia de abrigo ou depósito de armas para o Hamas é evidente.

O uso de artilharia, nessas condições, é igualmente inaceitável, pelos mesmos motivos. Se Israel queria se defender, deveria, desde o começo, ter realizado operações exclusivamente por terra, com tropas de infantaria em combate direto. Isso permite minimamente a tal “seleção cirúrgica” de alvos, que ataques aéreos ou de artilharia jamais poderiam fazer. Explicando de um jeito mais simples: deveriam ter sido utilizados somente fuzis, não caças e canhões. Usar esse tipo de arma dentro de uma favela não podia mesmo ter outro resultado.

É certo que, nessa hipótese, as baixas de Israel seriam mais altas – mas é inaceitável que vítimas inocentes, muitas delas crianças, paguem o preço da operação como foi feita.

A situação em Gaza é apavorante. Não existem abrigos de nenhum tipo. Não há lugar seguro onde os civis possam se refugiar. Um prolongado bloqueio comercial já deixava a região desabastecida dos itens mais básicos, o que o ataque só piorou exponencialmente. O governo de Israel não permite o acesso de observadores imparciais e, para completar, não está sendo garantido aos civis o direito (estabelecido em legislação internacional) de fugir para outras regiões.

Como dito, a intervenção era direito de Israel; a execução dela, no entanto, está sendo realizada de uma tal forma que é de se cogitar se não estamos diante de verdadeiro caso de crime de guerra, que precise ser apurado e julgado como tal.

E, como se não bastasse, houve disparos diretos de artilharia contra uma escola da ONU – isso, por si só, já justificaria a entrada de tropas da ONU em Gaza. Mas a ONU, dessa vez, fará o mesmo que geralmente faz: absolutamente nada.

Nem se diga que Israel está “respondendo na mesma moeda” do Hamas. Israel é uma democracia e tem o dever de se pautar como tal, enquanto o Hamas nunca teve vergonha de se declarar genocida. Descer ao nível do Hamas é dar a vitória a ele – a vitória ideológica, independemente de quem tenha a vitória militar. É dar, ao mundo árabe, a exata mensagem que o Hamas quer passar: a de que Israel é (o país inteiro!) “genocida”, e quer matar o maior número possível de civis. Não é verdade, mas vai acabar parecendo ser.

A imensa maioria da população de Israel quer paz, e não deseja a morte de civis palestinos tanto quanto não desejaria a morte de inocentes de qualquer lugar. Por isso mesmo, a fim de não se cometer ainda mais injustiças, é preciso diferenciar também o governo de Israel da população de Israel.

A paz é possível? Claro que é, ao contrário do que a maioria gosta de afirmar. Basta ver Egito e Jordânia, que há poucas décadas travaram guerras totais com Israel e hoje têm uma paz bastante sólida – a tal ponto que, hoje, é exatamente o Egito o negociador entre Israel e os palestinos. Ninguém iria imaginar isso entre os países que travaram a sangrenta guerra do Yom Kippur na época, e hoje é fato consumado.

No entanto, a maior prova de que a paz é possível talvez seja a Cisjordânia, um trecho de terra com um número muito maior de palestinos do que Gaza e que também é vizinho de Israel. Ali, o governo democraticamente eleito do Fatah não dispara mísseis contra Israel, nem envia homens-bomba para explodirem em pizzarias (pelo menos por enquanto…). Ali, a preocupação é em resolver os problemas dos palestinos, gerar e administrar instituições republicanas e, ao fim, criar o Estado palestino. E – incrível surpresa! – Israel não invadiu a Cisjordânia. Nem vai invadir (pelo menos por enquanto…).

A meu ver, isso também é prova de que o verdadeiro inimigo do povo palestino é o Hamas, e não Israel, por mais condenável que tenha sido a atuação de seu exército nos últimos dias.
Por falar em Hamas, o que o grupo fez quando se iniciou o ataque a Gaza, já que odeia tanto Israel? Foi para campo aberto satisfazer seu desejo de luta, certo? Não, claro que não: continuou usando a população como escudo. Mas, pelo menos, evacuou uma região de Gaza, para concentrar ali o combate e proteger ao máximo o maior contingente possível de habitantes palestinos, certo? Não, nunca. A guerra de propaganda se ganha com muitos civis mortos. E o principal líder do Hamas, certamente, esteve de arma em punho, o tempo todo, protegendo a população, certo? Não, óbvio que não. Khaled Meshal continua morando numa confortável casa em Damasco, beeeem longe de Gaza. Quanto a esses fatos já não há mais dúvida; o que ainda depende de compravação são os relatos de que membros do Hamas se aproveitaram da investida israelense para caçar e matar rivais do Fatah. Triste sina a dos palestinos, tendo representantes assim!

O Hamas não se preocupa com o povo palestino. Está preocupado, apenas, em atender às ordens de seu verdadeiro chefe – o governo do Irã, que nem faz fronteira com Israel (e que também nem é árabe, é persa, ao contrário do que muita gente imagina). Curiosamente, apesar desse ódio todo, o Irã não ataca diretamente Israel; prefere fazer isso usando buchas de canhão palestina (Hamas) e libanesa (Hesbollah).

Se um governo assim chegar a ter armas nucleares, o mundo inteiro vai ter motivos bem sérios para se preocupar.

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