Publicado por Braghittoni Ives em 18 Jan 2009 sob: Internacional (editar)
Enquanto escrevo, acabam de chegar notícias de que Israel iniciou a retirada unilateral de Gaza. Apesar disso, ainda não foi confirmado o número de mortos pelo disparo contra uma escola da ONU com artilharia – o que é mais conseqüência de uma estratégia de ação errada do que um “erro isolado”. A contagem geral de mortos civis provavelmente vai demorar muito.
Defendi na postagem anterior que Israel tinha o direito de se defender contra o lançamento de mísseis contra civis. O grande problema está no como isso vem sendo feito.
A primeira coisa a entender é que Gaza é densamente povoada e tem alto grau de verticalização (os prédios de apartamentos predominam sobre as casas) – na verdade, Gaza é um grande adensamento de cortiços e favelas. Ou seja, é um completo absurdo a utilização de ataques aéreos contra uma região assim. Por mais “cirúrgicos” que fossem os ataques, o número de vítimas civis seria altíssimo e é exatamente o que aconteceu. Felizmente, essa fase da operação parece encerrada, mas a “desproporção” em disparar armamento aerotransportado contra um prédio inteiro porque “um andar” servia de abrigo ou depósito de armas para o Hamas é evidente.
O uso de artilharia, nessas condições, é igualmente inaceitável, pelos mesmos motivos. Se Israel queria se defender, deveria, desde o começo, ter realizado operações exclusivamente por terra, com tropas de infantaria em combate direto. Isso permite minimamente a tal “seleção cirúrgica” de alvos, que ataques aéreos ou de artilharia jamais poderiam fazer. Explicando de um jeito mais simples: deveriam ter sido utilizados somente fuzis, não caças e canhões. Usar esse tipo de arma dentro de uma favela não podia mesmo ter outro resultado.
É certo que, nessa hipótese, as baixas de Israel seriam mais altas – mas é inaceitável que vítimas inocentes, muitas delas crianças, paguem o preço da operação como foi feita.
A situação em Gaza é apavorante. Não existem abrigos de nenhum tipo. Não há lugar seguro onde os civis possam se refugiar. Um prolongado bloqueio comercial já deixava a região desabastecida dos itens mais básicos, o que o ataque só piorou exponencialmente. O governo de Israel não permite o acesso de observadores imparciais e, para completar, não está sendo garantido aos civis o direito (estabelecido em legislação internacional) de fugir para outras regiões.
Como dito, a intervenção era direito de Israel; a execução dela, no entanto, está sendo realizada de uma tal forma que é de se cogitar se não estamos diante de verdadeiro caso de crime de guerra, que precise ser apurado e julgado como tal.
E, como se não bastasse, houve disparos diretos de artilharia contra uma escola da ONU – isso, por si só, já justificaria a entrada de tropas da ONU em Gaza. Mas a ONU, dessa vez, fará o mesmo que geralmente faz: absolutamente nada.
Nem se diga que Israel está “respondendo na mesma moeda” do Hamas. Israel é uma democracia e tem o dever de se pautar como tal, enquanto o Hamas nunca teve vergonha de se declarar genocida. Descer ao nível do Hamas é dar a vitória a ele – a vitória ideológica, independemente de quem tenha a vitória militar. É dar, ao mundo árabe, a exata mensagem que o Hamas quer passar: a de que Israel é (o país inteiro!) “genocida”, e quer matar o maior número possível de civis. Não é verdade, mas vai acabar parecendo ser.
A imensa maioria da população de Israel quer paz, e não deseja a morte de civis palestinos tanto quanto não desejaria a morte de inocentes de qualquer lugar. Por isso mesmo, a fim de não se cometer ainda mais injustiças, é preciso diferenciar também o governo de Israel da população de Israel.
A paz é possível? Claro que é, ao contrário do que a maioria gosta de afirmar. Basta ver Egito e Jordânia, que há poucas décadas travaram guerras totais com Israel e hoje têm uma paz bastante sólida – a tal ponto que, hoje, é exatamente o Egito o negociador entre Israel e os palestinos. Ninguém iria imaginar isso entre os países que travaram a sangrenta guerra do Yom Kippur na época, e hoje é fato consumado.
No entanto, a maior prova de que a paz é possível talvez seja a Cisjordânia, um trecho de terra com um número muito maior de palestinos do que Gaza e que também é vizinho de Israel. Ali, o governo democraticamente eleito do Fatah não dispara mísseis contra Israel, nem envia homens-bomba para explodirem em pizzarias (pelo menos por enquanto…). Ali, a preocupação é em resolver os problemas dos palestinos, gerar e administrar instituições republicanas e, ao fim, criar o Estado palestino. E – incrível surpresa! – Israel não invadiu a Cisjordânia. Nem vai invadir (pelo menos por enquanto…).
A meu ver, isso também é prova de que o verdadeiro inimigo do povo palestino é o Hamas, e não Israel, por mais condenável que tenha sido a atuação de seu exército nos últimos dias.
Por falar em Hamas, o que o grupo fez quando se iniciou o ataque a Gaza, já que odeia tanto Israel? Foi para campo aberto satisfazer seu desejo de luta, certo? Não, claro que não: continuou usando a população como escudo. Mas, pelo menos, evacuou uma região de Gaza, para concentrar ali o combate e proteger ao máximo o maior contingente possível de habitantes palestinos, certo? Não, nunca. A guerra de propaganda se ganha com muitos civis mortos. E o principal líder do Hamas, certamente, esteve de arma em punho, o tempo todo, protegendo a população, certo? Não, óbvio que não. Khaled Meshal continua morando numa confortável casa em Damasco, beeeem longe de Gaza. Quanto a esses fatos já não há mais dúvida; o que ainda depende de compravação são os relatos de que membros do Hamas se aproveitaram da investida israelense para caçar e matar rivais do Fatah. Triste sina a dos palestinos, tendo representantes assim!
O Hamas não se preocupa com o povo palestino. Está preocupado, apenas, em atender às ordens de seu verdadeiro chefe – o governo do Irã, que nem faz fronteira com Israel (e que também nem é árabe, é persa, ao contrário do que muita gente imagina). Curiosamente, apesar desse ódio todo, o Irã não ataca diretamente Israel; prefere fazer isso usando buchas de canhão palestina (Hamas) e libanesa (Hesbollah).
Se um governo assim chegar a ter armas nucleares, o mundo inteiro vai ter motivos bem sérios para se preocupar.
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Horror em Gaza - Primeira Parte
Eu não pretendia que o primeiro assunto desse blog fosse logo um tão terrível. Mas a realidade se impõem, esse é o assunto mais importante do momento e eu não tenho nenhuma vocação pra avestruz.
O complicadíssimo conflito entre israelenses e palestinos está ganhando mais um capítulo sangrento na faixa de Gaza, um estreito trecho de terra árida encravado em território israelita (veja o mapa da região clicando aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Gaza_conflict_map.png). É cedo para dizer se os objetivos estabelecidos pelos militares de Israel vão ser atingidos; desde já, porém, a própria ofensiva caracteriza uma vitória dos radicais – de ambos os lados.
O Hamas sempre se pautou no uso de civis, tanto como alvo quanto como escudo. Seu objetivo declarado é destruir Israel inteiro, como se verifica em sua própria ata de fundação (confira aqui: http://avalon.law.yale.edu/20th_century/hamas.asp). Que ninguém tenha a ingenuidade, portanto, de acreditar que algum processo de paz duradouro possa passar pela negociação com o Hamas: o grupo não quer paz, quer o extermínio de um país inteiro. E, para esse objetivo, a morte de palestinos inocentes é bastante conveniente. São incontáveis os relatos de palestinos de que a cúpula do Hamas procura as áreas mais povoadas para estabelecer seus depósitos de armas; que disparam os mísseis sempre nas áreas mais povoadas; e que reiteradamente convocam mulheres e crianças para ocupar prédios toda vez que o exército de Israel avisa que vai destruí-lo.
Pois é: por ser uma democracia, a praxe do exército israelita, quando identifica um alvo, é (pelo menos era…) avisar com antecedência que irá atacá-lo, justamente para dar tempo de os civis fugirem. O Hamas usava isso para tentar evitar que o alvo fosse atacado, ou para provocar a morte deliberada de seu próprio povo. Em Gaza, porém, não está havendo aviso algum – o que é só mais uma vitória para o Hamas.
Como o próprio grupo declara, seus alvos nunca são militares. O objetivo de seus foguetes e de seus homens-bomba são, sempre, alvos civis. Os foguetes reiteradamente atingem creches, e se o número de vítimas não é maior é, somente, porque foi estabelecido em Israel um eficiente sistema de alarme contra os mísseis, que rapidamente evacua os civis para bunkers enormes.
É preciso, então, que não se confunda a defesa da causa palestina com a defesa de terrorismo palestino. Confundi-los é fazer o jogo dos terroristas.
Israel deixou a faixa de Gaza, voluntaria e unilateralmente, em 2005. O Hamas venceu eleições legislativas em Gaza em 2006 – o que, talvez, se explique pelo estado de desespero a que chegaram os palestinos – e no ano seguinte consolidou seu poder pela força, derrotando na base do tiro os partidários do presidente eleito Mahmud Abbas. Com isso, o partido de Abbas, o Fatah (que é moderado, e por isso mesmo rival do Hamas) passou a governar, somente, a região da Cisjordânia. O Hamas, agora instalado no poder, se sentiu ainda mais confortável em ampliar o ataque aos civis israelenses, sabendo que isso, mais cedo ou mais tarde, provocaria a resposta de Israel. Em 2008 houve um acordo de cessar-fogo, sob a condição de que fossem encerrados, definitivamente, os disparos de foguetes contra seu território.
A resposta veio junto com o fim unilateral do cessar-fogo, provocado por novos disparos de foguetes pelo Hamas. E, dentro da lógica do terrorismo, quanto mais horríveis forem as conseqüências dessa resposta, melhor; quanto maior o número de crianças atingidas, maior a chance de criar uma nova “intifada” que jogue todo o mundo islâmico contra Israel. Ponto para o Hamas.
Infelizmente, a saída das tropas de Israel da faixa de Gaza, negociada pelos partidos moderados que estão atualmente no poder, trouxe exatamente a conseqüência prevista pelos partidos “linha-dura”: o aumento do lançamento de mísseis, não sua diminuição. Ponto para os radicais israelenses, que há muito defendiam o uso da força em Gaza e agora se regozijam em declarar “eu avisei”.
Dentro dessa equação, há que se considerar ainda o fato de que as eleições em Israel ocorrem em 10 de fevereiro, o que leva a ser difícil não ponderar que, em algum aspecto, essa resposta em Gaza pode ter funções eleitoreiras. Não estariam os atuais governantes de Israel temerosos de perder espaço político para os radicais – que se apresentam como alternativa para dar uma “resposta mais eficaz” para os ataques do Hamas? Difícil dizer, mas talvez a propalada “desproporção da resposta” tenha aí as suas origens.
As agências internacionais dão conta que, no momento em que escrevo este texto, começaram as primeiras negociações de paz. Talvez esse “excesso de força” de Israel tenha sido justamente para que, quando começassem os protestos internacionais, seus objetivos já tivessem sido atingidos, e só então se iniciassem as negociações para o cessar-fogo. Até aqui, parece que só os radicais se saíram bem – e os inocentes é que pagaram o preço.
E por falar em vitória de extremistas: onde estão as manifestações contra os massacres ocorridos recentemente no Congo? E contra os ocorridos em Darfur, na ditadura islâmica do Sudão?
Vejo muitos e profundos erros na atuação de Israel, por mais que seus motivos sejam justificáveis. Tratarei desses erros no próximo texto.
O complicadíssimo conflito entre israelenses e palestinos está ganhando mais um capítulo sangrento na faixa de Gaza, um estreito trecho de terra árida encravado em território israelita (veja o mapa da região clicando aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Gaza_conflict_map.png). É cedo para dizer se os objetivos estabelecidos pelos militares de Israel vão ser atingidos; desde já, porém, a própria ofensiva caracteriza uma vitória dos radicais – de ambos os lados.
O Hamas sempre se pautou no uso de civis, tanto como alvo quanto como escudo. Seu objetivo declarado é destruir Israel inteiro, como se verifica em sua própria ata de fundação (confira aqui: http://avalon.law.yale.edu/20th_century/hamas.asp). Que ninguém tenha a ingenuidade, portanto, de acreditar que algum processo de paz duradouro possa passar pela negociação com o Hamas: o grupo não quer paz, quer o extermínio de um país inteiro. E, para esse objetivo, a morte de palestinos inocentes é bastante conveniente. São incontáveis os relatos de palestinos de que a cúpula do Hamas procura as áreas mais povoadas para estabelecer seus depósitos de armas; que disparam os mísseis sempre nas áreas mais povoadas; e que reiteradamente convocam mulheres e crianças para ocupar prédios toda vez que o exército de Israel avisa que vai destruí-lo.
Pois é: por ser uma democracia, a praxe do exército israelita, quando identifica um alvo, é (pelo menos era…) avisar com antecedência que irá atacá-lo, justamente para dar tempo de os civis fugirem. O Hamas usava isso para tentar evitar que o alvo fosse atacado, ou para provocar a morte deliberada de seu próprio povo. Em Gaza, porém, não está havendo aviso algum – o que é só mais uma vitória para o Hamas.
Como o próprio grupo declara, seus alvos nunca são militares. O objetivo de seus foguetes e de seus homens-bomba são, sempre, alvos civis. Os foguetes reiteradamente atingem creches, e se o número de vítimas não é maior é, somente, porque foi estabelecido em Israel um eficiente sistema de alarme contra os mísseis, que rapidamente evacua os civis para bunkers enormes.
É preciso, então, que não se confunda a defesa da causa palestina com a defesa de terrorismo palestino. Confundi-los é fazer o jogo dos terroristas.
Israel deixou a faixa de Gaza, voluntaria e unilateralmente, em 2005. O Hamas venceu eleições legislativas em Gaza em 2006 – o que, talvez, se explique pelo estado de desespero a que chegaram os palestinos – e no ano seguinte consolidou seu poder pela força, derrotando na base do tiro os partidários do presidente eleito Mahmud Abbas. Com isso, o partido de Abbas, o Fatah (que é moderado, e por isso mesmo rival do Hamas) passou a governar, somente, a região da Cisjordânia. O Hamas, agora instalado no poder, se sentiu ainda mais confortável em ampliar o ataque aos civis israelenses, sabendo que isso, mais cedo ou mais tarde, provocaria a resposta de Israel. Em 2008 houve um acordo de cessar-fogo, sob a condição de que fossem encerrados, definitivamente, os disparos de foguetes contra seu território.
A resposta veio junto com o fim unilateral do cessar-fogo, provocado por novos disparos de foguetes pelo Hamas. E, dentro da lógica do terrorismo, quanto mais horríveis forem as conseqüências dessa resposta, melhor; quanto maior o número de crianças atingidas, maior a chance de criar uma nova “intifada” que jogue todo o mundo islâmico contra Israel. Ponto para o Hamas.
Infelizmente, a saída das tropas de Israel da faixa de Gaza, negociada pelos partidos moderados que estão atualmente no poder, trouxe exatamente a conseqüência prevista pelos partidos “linha-dura”: o aumento do lançamento de mísseis, não sua diminuição. Ponto para os radicais israelenses, que há muito defendiam o uso da força em Gaza e agora se regozijam em declarar “eu avisei”.
Dentro dessa equação, há que se considerar ainda o fato de que as eleições em Israel ocorrem em 10 de fevereiro, o que leva a ser difícil não ponderar que, em algum aspecto, essa resposta em Gaza pode ter funções eleitoreiras. Não estariam os atuais governantes de Israel temerosos de perder espaço político para os radicais – que se apresentam como alternativa para dar uma “resposta mais eficaz” para os ataques do Hamas? Difícil dizer, mas talvez a propalada “desproporção da resposta” tenha aí as suas origens.
As agências internacionais dão conta que, no momento em que escrevo este texto, começaram as primeiras negociações de paz. Talvez esse “excesso de força” de Israel tenha sido justamente para que, quando começassem os protestos internacionais, seus objetivos já tivessem sido atingidos, e só então se iniciassem as negociações para o cessar-fogo. Até aqui, parece que só os radicais se saíram bem – e os inocentes é que pagaram o preço.
E por falar em vitória de extremistas: onde estão as manifestações contra os massacres ocorridos recentemente no Congo? E contra os ocorridos em Darfur, na ditadura islâmica do Sudão?
Vejo muitos e profundos erros na atuação de Israel, por mais que seus motivos sejam justificáveis. Tratarei desses erros no próximo texto.
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