sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Diários da Resistência - 13 de março de 2017





Diários da Resistência, 13 de março de 2017.

Não sei se alguém vai ler isso, mas quero registrar mesmo assim. Pode ser culpa, ou esperança, ou medo, chame como quiser. É difícil escrever no escuro, mas sair dos subterrâneos é perigoso demais. Hoje faz 3 meses da aprovação da (ai, meu Deus!) PEC do Fim do Mundo, então acho que devo isso a mim mesmo.

Um pouco de luz aqui ajudaria, mas mesmo acender uma vela é um risco excessivo. Os Tucanossauros, pavorosos vigias robóticos de tecnologia extra-terrestre, patrulham cada palmo aqui de Cotia. Os mais perigosos, claro, são aqueles com aparência de pterodátilo; eles têm a face do José Serra para serem ainda mais assustadores e gritam “quem assume é o Aéeeeecio!!!” quando despencam dos céus sobre suas vítimas. Só os esgotos ainda são seguros, mas há boatos de que, em São Paulo, já há Tucanossauros específicos para patrulhar esse último reduto da Resistência. Como fomos tolos em achar que o PSDB era praticamente igual ao PT! Ingênuos, nós os chamavam de “socialistas azuis”. Quem poderia adivinhar que eles estavam mancomunados com os reptilianos?

Temer-o-Temível, claro, é um desses reptilianos; parece até que é um dos chefes deles. Um dos líderes da resistência chegou a perguntar uma vez “ué, mas ele não era vice da Gilma Rocefe?...” Nunca mais foi visto. Tempos de desespero pedem medidas desesperadas.

Tento ser condescendente comigo mesmo. Achávamos, com base em séculos de história, com base na lógica e nos fatos, com base em TODOS os países bem-sucedidos no mundo, que o liberalismo era a saída, que a livre concorrência e o direito de propriedade deveriam ter respeito absoluto, que o estado precisava ser radicalmente diminuído. Como estávamos errados! Achávamos, suprema heresia, que a PEC do Fim do Mundo, na verdade, era muito pouco, ainda que fosse um bom começo. Afinal, ela não diminuía o estado; ela não diminuía o gasto do estado; ela nem ao menos impedia o estado de gastar mais do que arrecadava! Ela, APENAS, determinava que o gasto colossal do estado deveria ser igual ao do ano anterior, ainda que com várias exceções e ainda que com a correção da inflação.

Achávamos, nós idiotas, que isso na verdade adiantava pouco, porque é o próprio estado que tem o monopólio da moeda e o monopólio dos juros (sim, você consegue acreditar que eu, enfiado aqui nesse esgoto, vendo o mundo desmoronar enquanto fujo dos Tucanossauros, cheguei a acreditar que o BACEN deveria ser extinto?!?...), então o próprio estado determina quanto vai haver de inflação... Bom, mas achávamos que era um bom começo, que era melhor do que nada.

Bem, isso era o que achávamos. Só começamos a perceber que algo estava realmente errado quando os prédios começaram a derreter. Foi na Av. Paulista que começou, alguns dias depois da aprovação da PEC do Fim do Mundo, o horror que selaria nossos destinos: os prédios estavam derretendo diante de nossos olhos! Em menos de três dias, tudo que restava dos edifícios era o concreto liquefeito inundando as ruas. No quarto dia os polos magnéticos da Terra foram misteriosamente invertidos e, nesse processo, as tempestades solares (amplificadas pelos reptilianos, claro) fustigaram impiedosamente nosso planeta por várias horas. Muitos pereceram pela radiação; as plantações e os rebanhos foram devastados. Os mares começaram a evaporar na segunda semana, seguidos dos rios no mês seguinte. As terríveis máquinas de guerra dos invasores alienígenas destroem o pouco que ainda resta. Os líderes da Resistência não falam para não causar ainda mais pânico, mas todos sabem que até a rota da Terra foi alterada e estamos, neste exato momento, nos afastando do Sol e começando a mergulhar no espaço vazio. As únicas coisas que permanecem iguais e intocadas, óbvio, são o imposto sindical, o fundo partidário, o foro privilegiado e o fato de que o Lulla continua solto. (É mais fácil alterar a rotação do planeta do que mexer em qualquer uma dessas coisas, como até os reptilianos descobriram).

Como poderíamos imaginar que era a gastança alucinada do estado que impedia tudo isso? Como poderíamos saber que era com o estado criando dívidas impagáveis e gerando déficits absurdos para nossos filhos e netos que se evitava de prédios derreterem, do mar evaporar e da Terra se afastar do Sol?


Bem, nós deveríamos. Agora é tarde. 

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Meu Depoimento para o Escola Sem Partido

Segue o depoimento que mandei para o ESP. E eu sou só um entre milhões...

Escola Sem Partido – Depoimento


Prezados,
Acompanho e admiro o trabalho do Escola Sem Partido há muito tempo. Acredito que, no longo prazo, a luta pelo fim da doutrinação nas salas de aula é o que de mais importante pode haver para impedirmos que o Brasil afunde no totalitarismo.
Claro, parte da estratégia de quem pratica lavagem cerebral contra crianças é ou dizer que isso não existe, ou tentar minimizar a prática.
Eu sou a prova viva de que eles mentem. Para quem viveu a doutrinação, chega a ser patético ouvir que isso “não existe”, ou que “não é tão grave”, ou que “é questão de opinião”.
Este é o meu depoimento.
Estudei o que na época se chamava “primário” em escola pública, em meados dos anos 70, e a partir do “ginásio” num colégio de padres jesuítas. A “Teologia da Libertação” fazia com que os dirigentes do colégio considerassem questão de fé a doutrinação marxista desde o mais cedo possível. Os professores, por sua vez, eles próprios também doutrinados desde sabe-se lá quando, atendiam alegremente a exigência – e o nível do ensino era bastante baixo, mas o nível de doutrinação era extremo. Não aprendíamos nada além de “uma visão marxista” de cada matéria, ao invés de a própria matéria.
Lembro-me bem que até as aulas de matemática (sim, até elas!) eram moldadas com coisas como “considerando-se um latifúndio improdutivo de x m2 invadido pelo MST, quantas bravas famílias de sem-terra serão legitimamente contempladas...” Aula após aula, dia após dia, ano após ano, nada escapava de um prisma marxista sobre todas as matérias. Todas, em tudo, o tempo todo. E ai daquele que não repetisse o discurso oficial!
“As Veias Abertas da América Latina” e “História da Riqueza do Homem” eram os livros básicos e onipresentes de história e geografia, e nenhuma fonte “não autorizada” era admitida. Mais do que isso: esses livros também eram usados para literatura, interpretação de texto, atividades extra-classe, tudo. Os próprios manuais dessas disciplinas eram também tão “engajados” quanto. A vulgata marxista era o começo, meio e fim de todo o processo de ensino.
O uso da autoridade na imposição de idéias era a tônica: ensinava-se o marxismo como sendo uma verdade científica e incontestável, ao mesmo nível de “científica e incontestável” conferido à lei da gravidade do professor anterior, como da reação química explicada pelo professor que viria depois; e, claro, quem não fizesse a reprodução fiel do discurso ensinado era não apenas discriminado e ridicularizado, mas ameaçado ou efetivamente reprovado.
Salvo casos muito excepcionais, não há criança que consiga se proteger disso. Esse processo de moer cérebros é pavoroso, mas eficiente: a grande maioria sairá dele como militante autômato, com pouca ou nenhuma capacidade de raciocínio crítico. Há, hoje, milhões de adultos-zumbis que, inteligentes em outros aspectos, comprovam a validade da técnica em tudo que se relaciona a política ou economia.
Foram anos difíceis, sempre sob a ameaça de reprovação. Ainda assim, jamais serei grato o bastante a Henry Maksoud e sua Revista Visão, que adquiri o hábito de ler bem antes de ser submetido ao moedor de cérebros – e que me mostrou o mundo sob a óptica das idéias da liberdade, da pluralidade de pensamentos, do uso efetivo do raciocínio sobre questões sociais (sim, acredito que vai haver gente desonesta o bastante para comparar a “leitura de textos que encontrei por conta própria” com a doutrinação que descrevo). Boa parte dos meus colegas não teve a mesma sorte e, ainda que a realidade comprove os erros e os absurdos diariamente, continuam até hoje acreditando no discurso dos doutrinadores escravocratas quase com a mesma fé que acreditam na gravidade ou na classificação ácido/base.
Isso não é uma opinião, não é uma hipótese, não é uma teoria. Isso são FATOS. Isso foi minha vida. Estou aqui para contar a quem queira ouvir.


R. Ives Braghittoni
Bacharel, mestre e doutor em Direito

Advogado e professor