quarta-feira, 1 de julho de 2009

Horror em Gaza - Primeira Parte

Eu não pretendia que o primeiro assunto desse blog fosse logo um tão terrível. Mas a realidade se impõem, esse é o assunto mais importante do momento e eu não tenho nenhuma vocação pra avestruz.

O complicadíssimo conflito entre israelenses e palestinos está ganhando mais um capítulo sangrento na faixa de Gaza, um estreito trecho de terra árida encravado em território israelita (veja o mapa da região clicando aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Gaza_conflict_map.png). É cedo para dizer se os objetivos estabelecidos pelos militares de Israel vão ser atingidos; desde já, porém, a própria ofensiva caracteriza uma vitória dos radicais – de ambos os lados.

O Hamas sempre se pautou no uso de civis, tanto como alvo quanto como escudo. Seu objetivo declarado é destruir Israel inteiro, como se verifica em sua própria ata de fundação (confira aqui: http://avalon.law.yale.edu/20th_century/hamas.asp). Que ninguém tenha a ingenuidade, portanto, de acreditar que algum processo de paz duradouro possa passar pela negociação com o Hamas: o grupo não quer paz, quer o extermínio de um país inteiro. E, para esse objetivo, a morte de palestinos inocentes é bastante conveniente. São incontáveis os relatos de palestinos de que a cúpula do Hamas procura as áreas mais povoadas para estabelecer seus depósitos de armas; que disparam os mísseis sempre nas áreas mais povoadas; e que reiteradamente convocam mulheres e crianças para ocupar prédios toda vez que o exército de Israel avisa que vai destruí-lo.

Pois é: por ser uma democracia, a praxe do exército israelita, quando identifica um alvo, é (pelo menos era…) avisar com antecedência que irá atacá-lo, justamente para dar tempo de os civis fugirem. O Hamas usava isso para tentar evitar que o alvo fosse atacado, ou para provocar a morte deliberada de seu próprio povo. Em Gaza, porém, não está havendo aviso algum – o que é só mais uma vitória para o Hamas.

Como o próprio grupo declara, seus alvos nunca são militares. O objetivo de seus foguetes e de seus homens-bomba são, sempre, alvos civis. Os foguetes reiteradamente atingem creches, e se o número de vítimas não é maior é, somente, porque foi estabelecido em Israel um eficiente sistema de alarme contra os mísseis, que rapidamente evacua os civis para bunkers enormes.
É preciso, então, que não se confunda a defesa da causa palestina com a defesa de terrorismo palestino. Confundi-los é fazer o jogo dos terroristas.

Israel deixou a faixa de Gaza, voluntaria e unilateralmente, em 2005. O Hamas venceu eleições legislativas em Gaza em 2006 – o que, talvez, se explique pelo estado de desespero a que chegaram os palestinos – e no ano seguinte consolidou seu poder pela força, derrotando na base do tiro os partidários do presidente eleito Mahmud Abbas. Com isso, o partido de Abbas, o Fatah (que é moderado, e por isso mesmo rival do Hamas) passou a governar, somente, a região da Cisjordânia. O Hamas, agora instalado no poder, se sentiu ainda mais confortável em ampliar o ataque aos civis israelenses, sabendo que isso, mais cedo ou mais tarde, provocaria a resposta de Israel. Em 2008 houve um acordo de cessar-fogo, sob a condição de que fossem encerrados, definitivamente, os disparos de foguetes contra seu território.

A resposta veio junto com o fim unilateral do cessar-fogo, provocado por novos disparos de foguetes pelo Hamas. E, dentro da lógica do terrorismo, quanto mais horríveis forem as conseqüências dessa resposta, melhor; quanto maior o número de crianças atingidas, maior a chance de criar uma nova “intifada” que jogue todo o mundo islâmico contra Israel. Ponto para o Hamas.

Infelizmente, a saída das tropas de Israel da faixa de Gaza, negociada pelos partidos moderados que estão atualmente no poder, trouxe exatamente a conseqüência prevista pelos partidos “linha-dura”: o aumento do lançamento de mísseis, não sua diminuição. Ponto para os radicais israelenses, que há muito defendiam o uso da força em Gaza e agora se regozijam em declarar “eu avisei”.

Dentro dessa equação, há que se considerar ainda o fato de que as eleições em Israel ocorrem em 10 de fevereiro, o que leva a ser difícil não ponderar que, em algum aspecto, essa resposta em Gaza pode ter funções eleitoreiras. Não estariam os atuais governantes de Israel temerosos de perder espaço político para os radicais – que se apresentam como alternativa para dar uma “resposta mais eficaz” para os ataques do Hamas? Difícil dizer, mas talvez a propalada “desproporção da resposta” tenha aí as suas origens.

As agências internacionais dão conta que, no momento em que escrevo este texto, começaram as primeiras negociações de paz. Talvez esse “excesso de força” de Israel tenha sido justamente para que, quando começassem os protestos internacionais, seus objetivos já tivessem sido atingidos, e só então se iniciassem as negociações para o cessar-fogo. Até aqui, parece que só os radicais se saíram bem – e os inocentes é que pagaram o preço.

E por falar em vitória de extremistas: onde estão as manifestações contra os massacres ocorridos recentemente no Congo? E contra os ocorridos em Darfur, na ditadura islâmica do Sudão?
Vejo muitos e profundos erros na atuação de Israel, por mais que seus motivos sejam justificáveis. Tratarei desses erros no próximo texto.

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