domingo, 26 de julho de 2009

Dica em Veneza







Vai para a Europa? Tente conhecer Veneza, que realmente é única no mundo. E, se for, uma boa dica é ficar no Hotel Rialto, bem ao lado da ponte do mesmo nome (uma das três principais). Com decoração de castelo renascentista, café da manhã e serviços caprichados, preço camarada comparado à média da cidade (tudo em Veneza é muito caro), tudo no hotel agrada. Mas o melhor de tudo é a vista... Essas fotos foram tiradas de dentro do quarto! Como se pode ver, o Rialto fica bem de frente para o Grande Canal, que é a principal "rua" de Veneza. Não é difícil entender porque um embaixador francês o chamou de "a rua mais bonita do mundo", em 1495.



Mesmo comparada a qualquer cidade da Europa, Veneza é realmente única... É difícil competir com uma cidade em que as ruas são feitas de mar...

domingo, 12 de julho de 2009

A Ministra Mentiu

A Exma. Sra. Ministra de Estado Dilma Rousseff mentiu sobre o próprio currículo – e não verbalmente, mas por escrito, no cadastro oficial da plataforma Lattes do CNPQ. Ela afirmava ter os títulos de mestrado e de doutorado em economia pela UNICAMP; no entanto, não tem nenhum dos dois. Desmascarada, admitiu que só tem a graduação e disse que “errou”; e, claro, já corrigiu seu “erro” no Lattes (veja o currículo da Ministra aqui: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4708688A9)

Esse “erro” é bastante estranho por dois motivos. O primeiro é que o Lattes é informado pelo próprio acadêmico; ou seja, o que a Ministra está dizendo é que “se enganou” sobre não ser mestra e não ser doutora. Ora, isso não é estranho? Ela não sabe os títulos que tem? Como alguém “se engana” sobre isso?

Mais estranho, porém, é que a Sra. Ministra da Casa Civil tenha uma “opinião” tão diferente do que diz o Código Penal Brasileiro a respeito (a íntegra do CPB: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del2848.htm). Segundo a lei, esse “erro” tem outro nome: chama-se falsidade ideológica e prevê pena de um a cinco anos de reclusão (CPB, art. 299).

Reconheça-se que há uma certa coerência na atitude da Ministra quanto ao governo de que faz parte; afinal, quem a colocou no cargo sempre se orgulhou de ter se tornado Presidente “sem nunca ter estudado”.

O que vai acontecer com a Ministra que mente e pratica falsidade ideológica? Será que vai ser punida, nos termos da lei? Bom, todos sabemos o que vai acontecer. Nem vai ser preciso que seu chefe diga, a respeito dela, o mesmo que disse sobre o Sr. Senador Sarney (que não podia ser tratado perante a lei como “uma pessoa comum”). Estamos no país do Mensalão, o mais escandaloso e bem provado esquema de corrupção e compra de votos no Legislativo já praticado pelo Executivo de qualquer país. E mesmo com todas as provas, mesmo com tudo apurado, com a comprovação de quanto saiu da conta de quem, para entrar na conta de quem, para comprar qual voto, mesmo com a comprovação irrefutável da participação dos mais altos escalões do Executivo, o que aconteceu?...

O Brasil é um país em que, infelizmente, costuma ser fácil prever o futuro. Ele é sempre muito parecido com o passado.

domingo, 5 de julho de 2009

Blog em endereço novo

Pois é, mudei o endereço do blog. O principal motivo é que o antigo não tinha a ferramenta de acompanhamento de que este dispõe (e que todo mundo me cobrava). Agora, quem quiser acompanhar só precisa clicar em "seguir blog" (no alto, à esquerda) para que seja enviado um e-mail avisando quando houver texto novo.

Migrei os textos antigos, mas não foi possível migrar os comentários desses textos. Quem quiser vê-los precisa acessar o endereço antigo do blog:

http://blog.livroguardiao.com.br/

Abraços!

Casa e Restaurante


Esse é um daqueles “temas sem fim” e, talvez até por isso mesmo, seja tão divertido: comida caseira ou de restaurante famoso? Comida simples ou “gourmet”? Qual é o melhor macarrão, o da avó ou do “chef” estrelado?

Um dos motivos que fazem dessa uma “discussão sem fim” é que não há parâmetros muito claros: o que é delicioso para um pode ser péssimo para outro, e é só comparar as comidas de países ou regiões diferentes para ver o quanto há de verdade aí. Exatamente por isso é que se costuma dizer que a “comida da avó” está num patamar fora de qualquer comparação justa; ali não se analisa a comida, mas todas as “memórias afetivas” (ah, como os psicólogos gostam dessa expressão!) que vêm junto com ela.

Então, hoje, convido você, leitor, a colocar junto comigo um pouco de lenha na fogueira, ou talvez até entornar esse caldo (curso “Faça sua Metáfora Gastronômica”, lição 46...)... E se a questão fosse levada, exclusivamente, para a cozinha “sofisticada”, esquecendo um pouco a cozinha “caseira”? Será que, sem nenhuma “memória afetiva” envolvida, um cozinheiro amador teria condições de competir com um profissional?

De antemão já digo: acho que jamais vai haver uma resposta definitiva porque, como eu disse, não existe um metro para definir “quão boa” é uma refeição. Mas quero apimentar a coisa (lição 73!!...) e apontar algumas aspectos para se pensar.

O profissional, claro, dispõe de algumas vantagens bem óbvias. Ele tem acesso a cursos com que o amador apenas sonha. Por força das circunstâncias, o amador talvez até freqüente a mesma escola em que o profissional se formou, mas vai fazer nela um curso de duas vezes por semana, durante um mês – enquanto o profissional vai investir tempo, dinheiro e esforço para cursar dois ou mais anos nessa escola, 20 horas por semana (às vezes até 40 ou mais, se ela for vinculada a um restaurante, como é comum atualmente).

O profissional também tem acesso, até em função desses cursos, a técnicas normalmente muito mais elaboradas do que o amador dispõe. Isso sem falar nos equipamentos, às vezes caríssimos (grandes fornos elétricos ou a lenha, só para começar) que cozinhas profissionais podem ter. Por fim, o acesso aos melhores ingredientes, que muitas vezes pode ser uma informação impenetrável para amador, constitui obrigação para o profissional.

Isso tudo não quer dizer, porém, que a comida do profissional vai ficar, necessariamente, melhor do que o jantar especial feito pelo amador. Quer ver quantas vantagens o amador tem?

Especificidade. O amador vai fazer um jantar com aqueles 2 ou 3 pratos, e nada além. Todo seu tempo, esforço e cuidados vão ser dedicados a eles. O restaurante precisa ter um cardápio inteiro ao dispor do cliente, o que nem sempre se “corrige” com o fato de haver uma equipe maior trabalhando. Isso está também diretamente ligado com o fator tempo...

Tempo. O amador tem o sábado inteiro para se preocupar com o jantar que vai fazer. Normalmente até mais do que isso, porque na sexta à noite (ou antes, se necessário) ele já vai ter comprado os principais ingredientes (uma carne que passe a noite inteira marinando, por exemplo). Os profissionais só vão ter o dia inteiro nos restaurantes que não servem almoço, o que é muito raro de acontecer (e quando acontece, está embutido no preço do jantar. Não se iluda!). E, mesmo que tenham o dia inteiro, lembre-se! Eles vão dividir esse tempo com um enorme cardápio, com dezenas de entradas, dezenas de pratos principais, dezenas de sobremesas e – putz! Esquecemos de deixar a carne marinando durante a noite! Coloca agora mesmo, ninguém vai notar a diferença...

Personalização. O amador cozinha para os amigos e para a namorada. Ou para a família, nos casos “amador-mãe” e “amador-avó” (mas mãe a avó também são profissionais, ou não são? “Prendas domésticas” não inclui cozinha?) Ele sabe quem não gosta de alho, quem não come peixe de jeito nenhum, quem prefere o tomate em cubos ao invés de rodelas, quem não gosta de pimenta. Já o sujeito que quiser ficar dando palpite sobre como deve vir sua comida num restaurante corre o sério risco de recebê-la com algum “tempero especial” não muito higiênico – pelo menos é o que dizem as “lendas” a respeito...

Segurança. Por falar em coisas pouco higiênicas, nada passa tanta segurança quanto ver quem preparou sua comida comendo dela também...

Ingredientes. O amador nem sempre vai conhecer “o melhor” fornecedor de algum produto específico, mas às vezes isso não importa tanto. O fornecedor primário para quase tudo é o CEAGESP, então o que ele precisa é ter boas informações e um bom relacionamento com “aquele” revendedor que o atende. Na dúvida, o Mercado da Cantareira e os outros mercados municipais costumam ter os melhores produtos, por isso mesmo um pouco mais caros (se você está preocupado só com preço baixo, já começou errado seu “jantar especial”). Às vezes até os grandes mercados podem ser bons fornecedores quando se entende daquilo que se quer (e se conhece o peixeiro ou o açougueiro dali também, claro).

Só para ilustrar, nunca me esqueço do peixeiro que me atendia num grande supermercado (é, eu também não tenho paciência de ir ao Mercadão todas as vezes...): “Não, doutor, o senhor não quer o salmão... Nem adianta insistir, porque eu sei que, hoje, o senhor não quer o salmão! Hoje o senhor quer o atum!... Este atum aqui!...”

Pois é, aí ocorre o seguinte: o amador vai levar o atum pelo motivo singelo de que o atum está melhor. O “chef” é obrigado a levar o salmão porque seu cardápio inclui um prato com salmão...

Limitação de preço. E por falar em ingredientes, conheci uma vez um “chef” cuja maior reclamação era ter sempre uma voz no seu ombro repetindo “não use isso, é caro demais! Não coloque tanto daquilo!” O amador, se tem um mínimo de apreço pelo que pretende chamar de “seu jantar especial”, quer simplesmente fazer o melhor possível, sem tanta preocupação com preço. Ele não depende do lucro que o prato vai gerar...

Especialização. O amador faz o que melhor sabe, não o que o dono do restaurante mandou. Exatamente por causa disso, sua técnica pode até não ser a mais precisa, mas ela foi aperfeiçoada por anos (às vezes décadas) de aprimoramento daquele prato especial. Aqui, porém, cabe uma ressalva: na culinária, do mesmo jeito que no Direito, é comum se confundir “experiência” com “repetição”... Nem sempre o que foi feito durante vinte anos foi “aprimorado” por vinte anos; às vezes, o que o sujeito tem é um ano de experiência e 19 de repetição...

Isenção contra modismos. Tem tudo a ver com o anterior: o amador faz o que sabe e o que gosta, não o que a moda manda. Sim, moda! Haja “petit gateau” em todos os restaurantes, de todos os estilos (atualmente até restarante japonês tem, como sobremeza principal, o inevitável “petit gateau”)!... Haja purê de mandioquinha só pra dizer que o restaurante é “descolado” e “incorpora a culinária nacional”!... Aliás, caberia até mais uma vantagem nesse mesmo aspecto: a isenção contra rótulos. Só para exemplificar: o coitado do “chef” que cair num restaurante dito “contemporâneo” vai ser obrigado a fazer “combinações criativas” de “culinárias variadas”, como sushi de presunto Parma, sorvete de salsicha, sopa de farofa de mandioca, estrogonofe de anti-matéria e por aí vai. O amador, ao contrário, só dá risada disso tudo.

Comecei o texto perguntando se o amador podia competir com o profissional, mas não pretendo responder; vou deixar você decidir se tem um amigo que faz algum prato melhor do que o do “restaurante badalado”. No fundo, seu amigo tem uma outra vantagem com a qual é mais difícil o “chef” competir (e agora, de novo, vou sair do campo estritamente gastronômico). O ponto central é que sempre vai ser uma grande diversão “comer fora”, mas há algo de muito profundo na experiência de preparar e degustar uma boa refeição com quem a gente gosta, e isso definitivamente vai além da mera diversão ou do simples paladar. Talvez a explicação esteja em algo arraigado em nosso passado mais profundo, quando os primeiros seres humanos perceberam que precisavam partilhar comida para sobreviver – e o partilhar comida se tornou o ritual mais importante que jamais tivemos. Há algo de primitivo e, ao mesmo tempo, de sofisticadamente reconfortante na comida preparada com calma e cuidado pelo nosso próprio clã, no calor de nossa própria caverna, para ser apreciada sem pressa e sem pretensão.

Não há “tournedo rossini” que possa competir com isso.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Viagem!





























"Eu Odeio MPB"

Publicado por Braghittoni Ives em 27 Abr 2009 sob: Cultura (editar)

Essa estou devendo faz tempo: nos confins do Orkut há uma comunidade intitulada “Eu Odeio MPB”, da qual orgulhosamente sou integrante… Lá, há uns tempos, escrevi esse texto aqui… É, depois disso, começaram a surgir galinhas pretas na frente de casa periodicamente… :-)

Esta comunidade está errada!!

Sim, a comunidade está errada!! Se somos brasileiros, temos obrigação de gostar de MPB! Afinal, MPB é “legítima” música de nosso país… Alguém decidiu assim, pelo menos… E ele devia saber do que estava falando, certo?

Gostar de outro tipo de música, portanto, é um crime de lesa-pátria. A manifestação cultural, para ser legítima, precisa ser exclusiva de um único país! Vejam o meu exemplo – meu MAU exemplo, diga-se, que precisa ser rapidamente doutrinado: eu gosto de música erudita (que se custuma chamar de “clássica” por aí). É uma manifestação alienígena, nascida na Europa. Então, só quem é europeu pode gostar de erudito! Aliás, as primeiras composições foram registradas na Áustria… Xi, então só quem é austríaco pode gostar de erudito!

Ahn… É, isso é meio complicado. A música erudita nasceu de uma mistura de um sem-número de influências, a maioria com raízes na idade média… Cujas origens se perdem nas tradições ancestrais de vários países… Puxa, nem mesmo quem é austríaco pode gostar de erudito! Que droga! Claro que é um tipo de música que já nasceu internacional (“globalizado”, como gostam de dizer hoje em dia), mas isso não importa. Claro ainda que, em pouco tempo, se tornou mundial, mas isso também não importa. Não é uma “legítima manifestação cultural” de nenhum país!! Então nem mesmo um austríaco pode gostar de erudito!!…

Bom, mas o que eu gosto mesmo é de rock, em suas infinitas vertentes. Imperdoável, não é mesmo? Afinal, todos sabem que o rock surgiu nos EUA. Então, só quem é estadunidense pode gostar de rock. Não importa que, em pouco tempo, o movimento tenha se tornado mundial – o que importa é o lugar onde surgiu, na primeira vez. Também não importa que, desde a década de 1960, pouco rock bom tenha vindo dos EUA (Ramones não conta, ok?), que nunca se recuperaram da “invasão britânica” iniciada com os Beatles… Nada disso importa! O resto é discurso de gente colonizada, originária de país sub-desenvolvido!

Então, bem entendido, só quem é americano pode gostar de rock. Mas o rock é uma mistura do blues dos negros com o country dos brancos… Ai, ai!! Só quem for americano e mulato pode gostar de rock!! Mas os negros eram da costa leste, os brancos da costa oeste… Então, para gostar de rock, você precisa ser americano, mulato e ter nascido exatamente no meio dos Estados Unidos!!…

Nossa, isso tudo está ficando muito complicado… Chega de falar de música. Esse papo dos defensores da MPB já me cansou. Eu vou é pedir uma pizza!…

Ah, claro, eu não posso pedir uma pizza. A pizza é invenção dos italianos, então não tenho o direito de comer pizza. Só um legítimo italiano pode comer pizza.
É, mas a pizza é basicamente uma torta de tomate, e o tomate é originário… Das américas, então nem os italianos podem comer pizza!! Terão de comer a massa de trigo pura mesmo. Hum, mas o trigo é originário do Oriente Médio… Xi, os italianos vão ter de comer a pizza sem tomate e sem massa!!…

"O Grande Irmão a tudo vê", ou como até eu fui assistir BBB


Publicado por Braghittoni Ives em 23 Mar 2009 sob: Cultura, Comportamento (editar)

Eu iria tratar do filme Wacthmen… Mas ele não merece. Leia o texto anterior, pense naquilo tudo bem piorado e você entendeu o que é o filme. Em resumo, já tenho meu candidato para o prêmio Framboesa de Ouro de pior filme do ano. E também para pior roteiro adaptado, pior ator (o que é aquele Ozimandias com cara de Clodovil?!…), pior atriz (precisa explicar?…), pior trilha sonora…

Falemos, então, do tsunami televisivo de todo começo de ano: “Big Brother”.

Tenho um amigo, também escritor, que costuma brincar dizendo que o talento verdadeiro se mostra quando conseguimos escrever sobre algo que não conhecemos; “escrever sobre aquilo que se domina é fácil”, diz ele, “bom mesmo é quem consegue escrever sobre aquilo de que não sabe nada”. Claro que é uma piada, mas é exatamente o que vou tentar fazer hoje: escrever sobre algo de que não conheço quase nada. Não só porque é o assunto da moda, mas também porque minha “ex” está lá dentro (fazer o quê… :-)… ) – além, é claro, do insopitável prazer de ser do contra (já explico o porquê…), então vou tentar expor a visão de alguém que nunca antes tinha assistido aquilo.

O motivo do nome deve ser de conhecimento geral: o “Grande Irmão” (“The Big Brother”) é como é chamado o dirigente máximo da Eurásia, país fictício de que a Inglaterra faria parte na apavorante ficção de George Orwell, “1984”. As circunstâncias em que essa obra prima foi escrita também são bem conhecidas: depois de vencido o nacional-socialismo de Hitler, o mundo se entorpecia de felicidade em achar que a democracia triunfara definitivamente; o livro de Orwell era um assustador alerta de que o socialismo estava longe de ser extirpado – como a URSS demonstrava de forma bem convincente. Um dos mecanismos de que o Estado totalitário do Grande Irmão se utilizava para controlar a população eram as “teletelas”, parecidas com televisores exibindo propaganda socialista 24 horas por dia, mas que também fiscalizavam os cidadãos, observando e filmando cada movimento que faziam e dando ordens o tempo todo a cada um, individualmente – daí o motivo do nome.

A primeira observação que faço então é que esse nome, apesar de ser mera metáfora, está errado. Os participantes, como em 1984, são mesmo observados o tempo todo, mas não recebem ordens. As câmeras só observam; não há ordens para tudo e para todos, nem vindas delas nem de lugar algum – o que torna tudo bem diferente do mundo criado por Orwell. Ainda bem, diga-se!

Outro nome que me parece equivocado: aquilo não é um “reality show”. O tal BBB pode ser tudo, menos um “espetáculo de realidade” – porque o que é filmado é tudo, menos realidade. Quer coisa mais irreal do que ficar semanas trancafiado numa casa, cercado de pessoas que você nunca viu? Sem poder sair, sem nenhum acesso ao mundo exterior? O que isso tem de “realidade”? Bom, talvez você tenha tido experiências próximas a essa se já viajou para Ubachuva ou São Sebastrovão e ficou preso em casa por tempestades intermináveis (:-) ), mas para a maioria dos mortais isso está bem longe de uma “exibição de realidade”.

Mas indo ao que interessa: é incrível o quanto as pessoas abominam esse programa – ao mesmo tempo em que os índices de audiência são sempre incrivelmente altos. A matemática me obriga a concluir que boa parte desses críticos são também, ao mesmo tempo, ávidos espectadores.

Não vou entrar na discussão sobre se o programa é bom ou ruim; não só porque já há milhares (talvez milhões) discutindo exatamente isso, como porque não é isso que interessa: cada um que saiba por si se deve ou não assisti-lo. A grande questão é, justamente, a liberdade de ver. Essa merece ser discutida e defendida.

Há aqueles que dizem “o programa é uma droga, então eu decido que eu não vou ver”. Ótimo. O grande problema é que há quem diga “o programa é uma droga, então quero decidir que ninguém no mundo tenha o direito de decidir se vai ou não ver”. São poucos os que têm coragem de colocar as coisas em termos tão claros, mas é exatamente isso o que muitos defendem. E é isso que tem de ser combatido.

Essas pessoas levaram muito a sério a idéia do “Grande Irmão”. Tão a sério que querem se transformar nele. “EU acho que BBB é ruim, então EU decido que ninguém mais pode assistir” – socorro! Quem lhe deu esse direito, Cara Pálida? Quem o nomeou ditador do mundo? Tantos anos passados depois de escrito 1984, depois do próprio ano de 1984, e o livro se mantém cada vez mais atual.

Os argumentos para defender essa proposta de censura são mais bizarros do que dia de paredão (viu? Estou aprendendo!). Há quem diga que “as crianças assistem”, e se é ruim, então “deveria ser proibido” (olha o Grande Irmão aí, gente!!), porque os pais “não conseguem controlar os filhos”. Traduzindo: algumas pessoas não aceitam que são responsáveis por criar os filhos que tiveram; eles querem que a televisão os crie. Então, ao invés de decidirem o que os filhos podem ver, acham que têm o direito de decidir o que o mundo inteiro pode ver. Que pavor! Nem Orwell pensaria numa sandice como essa!

Outros seguem uma linha diferente: as televisões seriam obrigadas a produzir e emitir programas “de qualidade”, porque são “concessão pública”. A idéia já nasceu errada: “qualidade” na opinião de quem? Quem será o gênio eleito para decidir? Não deveria ser cada cidadão decidindo por si mesmo?… Ah, claro… O cidadão só poderia “escolher por si mesmo” se tivesse “educação adequada”… Estranho: ele pode eleger o Presidente, mas não pode eleger o que quer assistir na televisão.

Pior ainda é o próprio conceito de “concessão pública”, um resíduo da época da ditadura criado para que só os “amigos do rei” fossem contemplados com canais de TV e de rádio, a fim de que neles só fosse dito o que Sua Majestade quisesse. A majestade mudou de nome, mas a idéia continua útil: por ser “concessão pública”, a TV só deveria mostrar o que “alguém” quer, não o que o próprio cidadão decidiu assistir. O Grande Irmão agradece!

Variação do mesmo tema é que a TV deveria ter programação “cultural”. Esse é uma mistura dos dois anteriores: a educação que a escola não deu seria, na mente dos gênios de plantão, responsabilidade da TV; além disso, deveria mostrar o que “alguém” decidiu que era “cultural” (lembram dos manifestos de Goebbels determinando o que era e o que não era “arte” para o 3º Reich??…). Bem estranho isso… Bem digno do Grande Irmão. Se o cidadão decide que quer passar seu tempo de descanso caminhando numa praça, ninguém exige dele que esse passeio seja “cultural”; mas se decide que, ao invés de ir a uma praça, vai descansar ficando em casa e assistindo BBB… Pronto, abriram-se as portas do inferno.

Em resumo: a única forma de censura que se pode admitir é o controle remoto. O resto é conversa das viúvas da ditadura, ou de aprendizes de Grande Irmão. :-)

E por fim: boa sorte, Fran!! Estou torcendo por você!! E votando também, descobri que dá pra votar pela Internet!!

Watchmen e os Esquecidos


Publicado por Braghittoni Ives em 09 Mar 2009 sob: Cultura (editar)

É, o BBB vai esperar mais um pouco. O assunto do momento é o filme que acaba de estrear, levando para as telas “a mais celebrada HQ de todos os tempos”. E aí, toda a crítica cinematográfica divide o universo inteiro em dois públicos: os leitores de HQ, automaticamente classificados como “fãs radicais de Watchmen”, ou “nerds” mesmo; e o público em geral, que nunca ouviu falar disso – e que nem sabe o que é “HQ”. Tudo gira em torno de saber se os “fãs” vão considerar o filme fiel o bastante à sacrossanta HQ, e se quem não a conhece vai gostar do filme.

Bom, HQ é, apenas, “história em quadrinhos”. Quem quer dar uma de exibido fala “graphic novel”, mas trata-se simplesmente do bom e velho gibi – que talvez mereça ser chamado de “nona arte”, por combinar literatura e pintura.

Enfim, fomos todos divididos nesses dois grupos – o que me leva a reclamar por não estar representado: e quem gosta de HQ, leu Watchmen logo no lançamento… e não gostou? Fomos esquecidos, pelo jeito! Ou talvez eu seja o único no mundo (:-) ); se for, é um motivo a mais para escrever esse texto. Então, vou falar primeiro da HQ, depois do filme que a retrata – e fique tranqüilo, não vou estragar nenhuma surpresa nem de um, nem de outro (odeio quando algum crítico faz isso!).

Indo direto ao ponto: Watchmen é uma droga. É ruim, bem ruim, e o filme conseguiu potencializar tudo que a HQ tem de pior. O primeiro problema insuperável de W é que já nasceu velha – mais do que isso, nasceu obsoleta. Lançada em 1986 e ambientada no ano anterior, seu pano de fundo é a Guerra Fria… Que, nessa época, já era quase lembrança (veja quantas críticas da Internet falam que foi a época do “auge” da Guerra Fria!!…). O socialismo estava em fase final de agonia, depois de décadas de miséria absoluta e sofrimentos indizíveis para a população que o suportava. A URSS seguia um processo firme e gradual de abertura (na política interna) e aproximação com o Ocidente (na política externa); e, em 1989 (bem pouco tempo depois, portanto), os regimes socialistas do mundo inteiro desmoronavam de vez, derrubados por revoltas populares quase simultâneas. Sem, lembremos, que fosse dado um único tiro pelos países democráticos.

Mas divago. W, na falta de outra coisa, usou essa idéia requentada para criar, numa “realidade alternativa”, “um mundo à beira do apocalipse” de guerra nuclear. Aliado a isso, tem pretensões de gerar “discussões morais profundas”, quando na verdade segue, apenas, a cartilha rasteira de que “os fins justificam os meios”. Nem vou entrar na discussão do quanto isso é inaceitável; vou só chamar a atenção de quão pouco profunda é essa “discussão moral”. Ora, bastou isso para que W fosse considerada pela Times uma das “100 melhores ficções” já escritas?! Essa lista é bastante capenga, e para provar não é preciso nada além de ver que ela inclui o besteirol de W, mas não tem um único livro de Machado de Assis (veja a lista completa aqui: http://www.time.com/time/2005/100books/the_complete_list.html) . Enfim, essa é a “profunda discussão moral” que conseguimos de W? É só isso que surge de tanta pretensão?

Aliás, pretensão é o que mais sobra em W, desde sempre apresentada como “a HQ de heróis que iria acabar com as HQs de heróis”. Quanta arrogância!

A precariedade da “profunda discussão moral” chega ao auge de defender que seria lícito “matar x para salvar 10x” – e não vou explicar mais para não descumprir a promessa sobre não revelar o conteúdo da história. Vou apenas sugerir que você analise, lendo ou vendo o filme, até onde vai a tal “discussão moral”.

W também é terrivelmente lenta, arrastada mesmo. Nunca entendi o porquê; eu achava que era, apenas, parte daquela pretensão toda. Mas é mais: em recente entrevista do responsável pelas ilustrações, Dave Gibbons (essas, reconheço, excelentes), admitiu que inicialmente só havia material para seis publicações… E tiveram de “dar um jeito”, por pressão sabe-se lá de quem, de fazer W render doze. Ou seja, metade de W é pura encheção de lingüiça!

O pior de tudo na história, porém, é a completa falta de sentido, especialmente do final, que é seu ponto mais importante: toda aquela moral obtusa é defendida através de um enredo que, ao fim, se mostra totalmente sem pé nem cabeça. É óbvio que ficção (e HQs de heróis em especial) não precisa ter nenhuma verossimilhança; tanto quanto é óbvio, porém, que ela precisa ter um mínimo de lógica, de sentido. Leia a HQ e veja depois se você não concorda comigo: se o(s) personagem(ns) fizesse(m) aquilo, o resultado seria mesmo aquele? Ou seria exatamente o contrário?

Simplificando bastante: se alguém está com o dedo no gatilho e leva um susto, o que acontece? Ele puxa o gatilho no susto… ou vira “amiguinho” de quem estava na mira? Ora, faça-me o favor!
A “solução” proposta pelo final é, penso, um completo absurdo, mesmo dentro das premissas da HQ. O que começou com uma enorme pretensão se encerra com uma enorme bobagem; tente imaginar aquela situação… E você também vai concluir (acho) que a tal “solução” iria produzir o efeito exatamente oposto ao que a HQ tenta empurrar goela abaixo do leitor. História inteligente (seja em HQ, filme de heróis ou em qualquer coisa) exige, no mínimo, um pouco de sentido nas “relações de causa e efeito”; e W, no desejo de surpreender (ou de pretensiosamente fazer “discussões morais”), faz o exato oposto.

O filme piorou a HQ. Semana que vem falo dele.

Por que a Justiça é tão lerda? Parte 3

Publicado por Braghittoni Ives em 04 Mar 2009 sob: Direito (editar)

Finalmente, há um terceiro ponto no CPC que é um fundamental causador de demora: a rejeição profunda e consciente ao princípio da oralidade.

Resumindo bastante, a idéia de “oralidade” no processo significa que as coisas devem ser resolvidas diretamente entre os integrantes do processo (autor, juiz e réu), e não por escrito. Isso é tão importante no processo que foi elevado à categoria de “princípio”. E, como tal, é ensinado nas faculdades desde o início do curso de processo – o que gera no aluno a natural noção de que, se é um “princípio”, ele é adotado pelo ordenamento.

Ocorre que não é – pelo menos, no CPC não é. Nosso Código de Processo abomina a oralidade, ao contrário do que normalmente se aprende nos bancos das faculdades. Essa aversão à oralidade está explícita em inúmeros comandos e, mais ainda, está declarada na exposição de motivos do CPC. Não se trata de acaso, portanto, mas de opção deliberada do legislador. Quaisquer que fossem seus motivos, Alfredo Buzaid (autor do anteprojeto que se tornou o CPC) queria a oralidade morta e enterrada. E conseguiu.

Veja-se, por exemplo, a rejeição que o CPC tem pelas provas orais (especialmente a testemunhal), comparada à sua predileção pela prova escrita… E ainda temos a coragem de dizer que no Brasil não há a arcaica valoração legal da prova!

O princípio da oralidade determina que, tanto quanto possível, tudo se resolva em audiência. O CPC rejeita a audiência, e os “operadores do direito” (advogados, juízes, promotores) mais ainda. Audiência é encarada como simples perda de tempo, que poderia ser mais bem aproveitado estando todos nos respectivos escritórios, redigindo petições e sentenças gigantescas em torrentes verborrágicas devidamente embaladas pelo delicioso “control C control V”…

Parte do problema, hoje, decorre mais da mentalidade desses “operadores do direito” do que do CPC propriamente. Ao invés de se produzir a prova pericial num laudo imenso, que levará meses e meses (às vezes anos…) para ser produzido, o CPC atualmente permite que esse laudo seja substituído por simples inquirição em audiência do perito e dos assistentes (CPC, art. 421, § 2º. Essa norma foi introduzida pela Lei 8.455, de 24.08.92 – ou seja, o CPC originalmente não tinha esse importantíssimo mecanismo de oralidade).

Isso deveria ser a regra, deixando-se os laudos escritos somente para casos absolutamente excepcionais, de complexidade tão grande que o próprio perito não pudesse se explicar diretamente. Na prática, porém, isso nunca acontece. Somos todos apaixonados pelos laudos de 300 páginas – mesmo sabendo que o perito poderia explicar suas conclusões em cinco minutos na audiência, talvez no máximo levando fotos ou gráficos que considerasse mais importantes.

A propósito, há dois filmes que eu sempre indico em aula para ilustrar como essa forma de produzir prova pericial é utilizada nos EUA, com as peculiaridades da Common Law: Meu Primo Vinny e O Informante. Assista, prestando atenção no fato de que o perito é simplesmente chamado para explicar as coisas em audiência, e portanto a perícia é instantânea.

O pior é a prática utilizada para os inevitáveis (e indispensáveis) “esclarecimentos do perito”. Se estivessem em audiência, todo esclarecimento desejado poderia ser conseguido em questão de minutos. No Brasil, porém, isso é feito através de uma “conversa por petições” – que, claro, leva meses e meses.

O CPC diz que a manifestação final é oral como regra (até o nome é “debate oral”!); sua substituição por memoriais (escritos, portanto) está reservada a casos de excepcionalíssima complexidade (CPC, art. 454, § 3º). Na prática, isso nunca acontece, e os advogados em geral têm verdadeiro pavor de exporem as razões finais oralmente – também, pudera, jamais foram treinados para isso. Tudo que se ensina, desde sempre, é a fazer petições. Desde a primeira prova na faculdade, tudo que ele faz é por escrito, nunca oral – aliás, desde a primeira prova na escola é assim!

O caso mais grave é o que ocorre na audiência do art. 331, inspirada no “pre trial” dos americanos. Quando foi criada com o atual contorno, na reforma de 1994 (Lei 8.952, de 13.12.94), essa audiência tinha como objetivo que houvesse uma verdadeira “pré-análise” do processo, e nela se resolvesse por inteiro a especificação de provas e a fixação de pontos controvertidos. Contrariando a lei, porém, os juizes continuaram determinando que as provas fossem especificadas por petição, num ritual longo e inútil, ao invés da especificação oral. A importantíssima audiência prevista no art. 331 se tornou uma mera “audienciazinha de conciliação”, como passou a ser chamada, com utilidade praticamente nula. Por causa dessa má prática, todos chegam à audiência sem nem lembrar (ou nunca ter visto…) do que trata a causa; o juiz simplesmente pergunta “tem acordo?”; as partes respondem que não e vão embora. Desse jeito, essa audiência realmente não tem nenhuma utilidade.

Defendendo o ponto de vista contrário: talvez o art. 331 pudesse mesmo ser mais claro a respeito, dizendo, com todas as letras, que “as partes especificarão em audiência as provas que pretendem produzir”.

O § 3º do art. 331 veio com a reforma de 2002 (Lei 10.444, de 07.05.02). É o reconhecimento, pelo legislador, de que a ótima lei teve uma péssima aplicação. Esse parágrafo, com outras palavras, diz o seguinte: “tá bom, já que vocês não sabem fazer direito, então façam como bem entenderem”. O que me lembra um professor da pós graduação que, comentando esse artigo e sua utilização, deu a explicação perfeita: “não adianta ter uma lei moderna se a mentalidade está na idade da pedra. Não adianta ter um bom ‘hardware’ se o ‘software’ continua ruim!”… É, disse tudo.

Nem só na primeira instância a oralidade faz falta. As intermináveis leis alterando o agravo de instrumento só mostram uma coisa: do jeito que era anteriormente não estava bom. Se estivesse, não se precisaria de outra reforma… Antes dessa última (última? Será?…) alteração, um colega professor, que é desembargador, dizia que o nome do cargo dele deveria ser mudado; ele só julgava agravos, então deveria ser “desagravador”… A avalanche de agravos de instrumento não deixava tempo para se julgar as apelações, que é o que realmente importam – e haja demora também na segunda instância.

Para quem não sabe, a oralidade determina a irrecorribilidade das decisões interlocutórias. O CPC segue o caminho exatamente oposto: todas as interlocutórias podem ser objeto de recurso, não só as mais importantes ou mais urgentes. Daí a termos uma segunda instância abarrotada não vai muita distância. E quanto à reforma de 2006 (Lei 11.187, de 19.10.05. É chamada de “reforma de 2006” porque entrou em vigor depois de 90 dias), que autoriza a conversão dos agravos de instrumento em retidos? Se você leu até aqui, já entendeu que as coisas não se resumem apenas ao que diz o texto da lei; a celeridade tão desejada também depende da forma com que ela será aplicada.

Quero falar também dos efeitos da informatização na rapidez do processo, mas isso não vai ser na semana que vem. Antes, pedem-me para tratar de um assunto muito mais importante (por favor, isso é uma ironia, ok?): um tal de “Big Brother”.

Até lá.

Por que a Justiça é tão lerda? Parte 2

Publicado por Braghittoni Ives em 16 Fev 2009 sob: Direito (editar)

O segundo grande problema diretamente decorrente da legislação para a demora dos processos cíveis era (era, felizmente!) o efeito suspensivo dos embargos do devedor. As coisas funcionavam assim: alguém lhe dava um calote numa dívida, ou então lhe causava um prejuízo e não pagava.

Você, cidadão honesto, processava o sujeito (é agora que ele começa a exibir um sorriso de canto de lábio). Passava-se uns dois ou três anos esperando a sentença (aqui ele já está rindo de verdade); o juiz diz que você está certo, o fulano está errado e tem de pagar. Só que, como você já sabe, ele apela, e a apelação tem efeito suspensivo… Mesmo havendo uma sentença judicial dizendo que ele é que está errado, você é que fica sem o dinheiro, não ele. Lá se vão mais seis ou mais anos de espera (gargalhadas espasmódicas)… Bom, finalmente vem a decisão do tribunal (chamada “acórdão”). Agora, finalmente a coisa anda, certo?

Deve andar – afinal, existem outros recursos, mas graças a Santo Expedito esses, felizmente, não têm efeito suspensivo. Você pode enfim começar a execução da decisão!

É… Pois é, agora entra a pegadinha. Você começava a execução, mas o devedor movia OUTRA ação, chamada de “embargos do devedor”… Para discutir qualquer coisa na sua execução, por mais inútil e sem sentido que fosse… E – olhem que incrível! – tudo parava novamente!! Porque esses embargos do devedor também tinham efeito suspensivo, igualzinho à apelação… E começava tudo de novo. (Aqui, ele já não estava mais rindo da sua cara. Ele tinha coisas mais importantes para fazer, como gastar o SEU dinheiro).

Era difícil de explicar para os clientes. Ninguém acreditava numa coisa tão absurda. “Então, de que vale a decisão do juiz, que levou tanto tempo para ser dada? De nada?” Exato, de nada.
E para explicar isso para os professores estrangeiros, quando havia cursos de intercâmbio? Eles sempre achavam que era piada. O pior é que continuavam rindo depois que entendiam que não era piada…

Felizmente, isso acabou. Os embargos do devedor não têm mais efeito suspensivo – salvo situações excepcionais, decididas pelo juiz da execução, mediante caução e sem impedir vários dos atos constritivos, mas isso tudo é outra história. O fato é que a Lei 11.382/06 (veja a íntegra aqui: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11382.htm#art2) acabou com esse efeito dos embargos, dentre muitas outras alterações fundamentais (uma delas foi minha criação: a possibilidade do uso pela Justiça de leilões eletrônicos, conforme proposta que encaminhei ao Professor Athos Gusmão Carneiro e que foi encampada pelo artigo 689-A). O incrível é que o Código de Processo Civil é de 1973, e a lei em questão é de 2006. Ou seja, essa aberração processual de “efeito suspensivo” levou TRINTA E TRÊS ANOS para ser extirpada do nosso ordenamento. Isso sim é que é “justiça lenta”!!…

De quem é a culpa por isso? É sua. É minha. É de todo cidadão que não votou, somente, em candidatos ao legislativo federal que tivessem como plataforma de campanha mudar isso. É de todos nós que não exigimos, com faixas e passeatas na porta do Congresso, que todos os congressistas votassem pelo fim dessa norma, tivessem isso ou não nas suas promessas.

Pois é, democracia dá trabalho. Inclusive quando se trata dos mais insuspeitos problemas, como justiça lenta.

Semana que vem tratarei do princípio da oralidade.

Por que a Justiça é tão lerda? - Parte 1

Publicado por Braghittoni Ives em 10 Fev 2009 sob: Direito (editar)


De tudo que diz respeito a Direito no Brasil, esse é provavelmente o ponto mais discutido – e talvez, apesar disso, o que mais se desconheça. Que a Justiça brasileira é lenta demais todos sabem, mas os motivos de tanta demora parecem ser misteriosos mesmo para quem nela trabalha. Vou tentar, então, colocar um pouco de luz sobre esse assunto em poucas linhas, ainda que haja assunto para teses inteiras (para quem é da área e deseja se aprofundar sobre o tema, há um livro brilhante e indispensável que deve ser lido antes de qualquer coisa: O Tempo e o Processo, TUCCI, José Rogério Cruz e. São Paulo, Ed. RT, 1997).

O primeiro ponto a ser entendido é que há vários fatores diferentes quanto à demora judicial. Existem as questões relacionadas à legislação processual civil (vou tratar somente desta; as questões penais ficam a cargo de quem seja especialista no assunto), mas há muitas outras, relativos à estrutura do Poder Judiciário, aos recursos materiais e humanos disponíveis, à forma como esses recursos são utilizados, à distribuição das causas, à quantidade de juizes e juizados em relação a esse número de causas, à sistemática de administração da Justiça, dentre várias outras. Ou seja: quem pretender, como tantas vezes já se fez, achar que vai acabar com o problema apenas alterando as leis processuais, vai estar cometendo um erro grave logo de início.

Apesar disso, parte do problema está, sim, relacionado às nossas leis processuais. Então, feita essa ressalva inicial, vou tratar, aqui, só desse aspecto (antes que o blog vire mesmo uma tese).

Existem três pontos essenciais na legislação processual civil brasileira que tornam nossa Justiça intoleravelmente lenta, por ordem de importância: o efeito suspensivo da apelação, o efeito suspensivo dos embargos de devedor e o horror absoluto em relação ao princípio da oralidade. O segundo, felizmente, já não está mais entre nós, mas vou tratar dele porque foi uma aberração que levou singelos trinta anos para ser extirpado do nosso ordenamento.

O primeiro e mais grave dos problemas legislativos que geram lentidão da Justiça é o efeito suspensivo da apelação, previsto no artigo 520 do Código de Processo Civil. Para quem não sabe do que se trata, ele significa que, pela nossa lei, a decisão do juiz de primeira instância (o que “julga primeiro”) simplesmente não tem eficácia nenhuma. É como se ela “não existisse”, salvo raras exceções (como a da tutela antecipada, que dá uma decisão “urgente”). É preciso que haja um recurso dessa sentença de primeira instância, para que a matéria seja decidida pelo tribunal (“segunda instância”) e, então, essa segunda decisão é que pode ser executada (para quem quiser se aprofundar, tenho um artigo completo sobre o assunto publicado na Revista do IASP n. 14, p. 309).

Quem é leigo normalmente tem dificuldade em acreditar que a nossa lei realmente diga tal coisa, mas é a pura verdade. É como se tudo que o juiz de primeira instância fez e decidiu simplesmente não valesse nada – entre os advogados, há até a jocosa expressão de que “julgamento que vale é só o do Tribunal”. Essa questão está relacionada à efetividade das decisões, mas tem reflexo direto na celeridade: é preciso esperar não um, mas dois julgamentos.

Na grande maioria dos países, o efeito suspensivo da apelação ou é exceção, ou não existe nunca. No Brasil é regra. No resto do mundo quase todo, o que o juiz de primeira decide é executado de imediato, mas com sistemas de proteção para evitar que isso gere efeitos irreversíveis (o que, em Direito, se chama de “execução provisória”). Se, em segunda instância, a decisão de primeira for confirmada, a execução que era provisória se torna definitiva. Se, ao contrário, o tribunal reformar a decisão, tudo volta ao que estava antes, e o exeqüente tem de pagar por quaisquer prejuízos que sua execução provisória tenha causado.

A doutrina se bate contra o efeito suspensivo da apelação desde sempre, e inúmeras propostas de reforma processual pretenderam alterar esse erro evidente. No entanto, pelos mais variados motivos políticos, essas propostas nem sequer chegam ao Congresso Nacional para votação.

Justiça que funcione, pelo jeito, é algo que contraria interesses incrivelmente poderosos.Há um outro aspecto pernicioso do efeito suspensivo da apelação. Graças ao fato de a Justiça ser tão lenta, ele permite que se apele pelo único motivo de fazer a causa se prolongar. O raciocínio é muito simples: para que pagar agora, se é possível prolongar o pagamento por 4, 6, ou até oito anos? Se se tratar de Justiça Federal, o tempo de espera para julgamento de uma apelação chega a ser o dobro disso, às vezes até mais. Quem perde, então, apela ao tribunal não porque ache que a sentença esteja errada, mas justamente porque sabe que ela está certa – e sabe também que essa simples apelação vai lhe dar um tempo enorme. Isso também lhe permite tanto propor acordos em condições lamentáveis para o vencedor, quanto simplesmente sumir com todo seu patrimônio. Seis anos é um tempo bem longo quando se trata de planejar e executar maracutaias.

Apenas para comparar: despejo (veja a íntegra da Lei de Locações aqui: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8245.htm) é um dos raros casos em que a apelação não tem efeito suspensivo no Brasil. As estatísticas do Tribunal de Justiça de São Paulo mostram que, nos meses seguintes à aprovação dessa lei, o número de apelações caiu mais de 60% . O motivo é bastante óbvio: a partir da nova lei, só apelava quem realmente achava que tinha sido injustiçado. A apelação “para ganhar tempo” deixou de existir – e o reflexo imediato foi um número muito menor de apelações. E menos apelações significam um tribunal mais rápido para julgar as que sobram…

Semana que vem tratarei dos dois outros pontos da nossa legislação.

Floripa e Outras Histórias


Publicado por Braghittoni Ives em 02 Fev 2009 sob: Carros, Viagens (editar)

Esse texto é de 2005 e conta como foi o encontro nacional do Clube Calibra daquele ano. Ok, é antigo, mas acho que explica algumas coisas a respeito de… Bom, de outras coisas.E você, também tem uma história de viagem que evoca recordações??… Conte pra mim nos comentários.

Floripa e Outras Histórias

— Esportivo de verdade tem de ser vermelho.
— Eu prefiro preto…
— Vermelho sempre chama mais atenção.
— É, mas preto é mais sóbrio…
— Bom, então vamos combinar: um dia, nós voltaremos aqui pra Floripa… Você com um esportivo preto, eu com o meu futuro carro vermelhão!…
— Tá combinado e eu vou cobrar!!

Depois daquela conversa, ainda levaria muito tempo para eu tirar a carta de motorista, mais ainda para comprar meu primeiro carro e muito, mas MUITO mais tempo para conseguir o esportivo que eu queria. Preto, claro.

Não vou no comboio, acordar às 4:00 está fora de questão. Eu acordaria se não tivesse ido dormir tão tarde na sexta – mas deixar de ir ao aniversário de um grande amigo está completamente fora de questão. Às 22:00h, vejo as fotos da lua de mel de que ele acabou de voltar. Parece que foi ontem que apresentei a ele a menina que hoje é sua esposa… Às 7:30 do dia seguinte o motor já está aquecido, ronronando, pedindo atividade. A marginal está livre, antes das oito meu fiel companheiro está em seu habitat natural, a estrada.

Chega de vielas minúsculas, o lugar dele é na estrada! O fato é comemorado transformando o ronco leve num urro sensacional, o corpo sendo empurrado contra o banco, a liberdade crescendo com as rotações. Seu viado, você precisava ver isso.Gott Segnet Calibra. Enquanto lembro dos amigos antigos, peço que abençôe também aos novos – que ninguém exagere no pé direito, que cheguem todos bem, que aproveitem a viagem. Gott Segnet Calibra, e aos donos também! Seu viado, você tinha que conhecer esses caras.

O projeto de som ficou ótimo – forte, definido, está perfeito mesmo para um chato metido a audiófilo como eu. Sem a ajuda dos camaradas, nunca teria ficado tão bom, e com certeza sairia muito mais caro. Aliás, como a própria reforma do carro todo… Faço questão de tocar a seleção que fiz de músicas dos anos 80… As mesmas músicas da primeira vez em Floripa.

Mas às vezes é bom desligar o som, curtir só a sinfonia que o engenho humano criou… O motor, o vento, toda aquela cavalaria ali disponível, mas com um controle tão dócil e tão seguro… O som puro de uma máquina tão perfeita, com forma e função tão bem somadas…

Abro o teto solar, recebo o vento; contorno as curvas, sinto o carro pedir mais velocidade, contenho a mim e a ele com um sorriso… A viagem é pra ser apreciada, não pra se transformar numa briga contra o relógio… Mas isso inclui, claro, eventuais “esticadas” prazenteiras…
A melhor aerodinâmica de todos os tempos, o único campeão mundial de DTM, eleito o carro mais bonito do mundo em… Qual ano mesmo? Tanto faz, pra mim ele sempre teve esse título. O que realmente falta aqui é um igual, vermelho, aqui do lado… Do lado o cacete – atrás, é claro!
Ou talvez fosse um Eclipse vermelho, ou um Audi, só pra me contrariar… Bom, aí sim é que iria ficar pra trás mesmo. Seu viado!

Na altura de Curitiba encontro o comboio que veio de Santos – e o vôo solitário se torna um show acrobático de uma esquadrilha de oito integrantes, dominando a estrada até Floripa. A vista da Ponte é sempre emocionante… “Ei, onde fica o hotel? Alguém conhece a cidade?” Eu conheço bem Floripa, deixa que eu vou na frente!!

Amigos que vejo sempre, amigos que só vi no ano passado, tão longe que estavam – mas agora estão todos aqui, sorrindo e mostrando os carros tão bem cuidados (e quanto nos ajudamos mutuamente nisso!) quanto um filho. No fundo, são quase isso mesmo. Somos todos tios dos carros uns dos outros.

Nunca acreditei em destino, mas algumas coisas são mesmo engraçadas – como essas coincidências tão impossíveis que exigem foto, senão ninguém acredita. E é assim que encontro, na entrada do hotel, um amigo de infância, e é bom tirar a foto logo depois do abraço, senão ninguém acredita. Há meses não nos falávamos pessoalmente, e vamos nos achar tão longe de casa… Floripa é mesmo incrível. Cara, você tinha que ver isso.

Gott Segnet Calibra. Com todos juntos, no dia seguinte, a esquadrilha se torna um esquadrão de quase quarenta carros. É um assombro de se ver… E mais ainda de participar. E pensar que o grande problema das primeiras viagens era o enorme tempo perdido em ônibus pra ir de um lugar ao outro… Floripa sem carro é uma dureza, é verdade. Quanta diferença agora!

À noite revejo meu amigo – não importa há quanto tempo não nos víamos, é como se fosse ontem. Faz dez minutos que entramos no restaurante do hotel. Faz dez minutos que, dez anos atrás, conto a ele que estou insatisfeito no novo emprego, que me paga tão bem, e ele me responde “esquece salário… Como você mesmo me disse, só vai ser feliz quando tiver seu próprio escritório…” Faz dez minutos que, vinte anos atrás, exaustos, imundos e famintos, sorrimos quando olhamos para o topo do monte mais alto de São Paulo e, arrastando os outros quatro que queriam desistir, dizemos um ao outro: “vamos? Sim, vaaaaamos!!…”

Lembro que, antes da minha primeira viagem, não conseguia entender porque falavam tanto de Floripa, e alguém me respondeu que “entre outras coisas, lá até as caixas do supermercado parecem top-models”. No jantar da noite seguinte, é melhor tirar uma foto da garçonete da pizzaria, ou ninguém vai acreditar o quão incrivelmente bonita ela é. Cara, você tá perdendo mesmo…

Ainda há várias visitas por fazer – além das memórias, tantas viagens a Floripa criaram boas amizades. A visita daquele dia é especial, e quando me mostra seu segundo filho (esse eu ainda não conhecia!!), ela parece, aos meus olhos cansados, ainda mais bonita do que quando era a rainha da Joaquina (a Praia Mole naqueles tempos não estava na moda). Lembro como se tivesse sido há dez minutos aquela primeira viagem e eu, completamente perdido ali, e de ela me dizendo “ei, paulista, pára de falar ‘Florianópolis’, diz só Floripa mesmo…” Mesmo sabendo que é três anos mais velha do que eu, ela realmente me parece ainda mais bonita agora e, quando chega a hora de ir, ouço-a dizer “de um jeito diferente, eu ainda gosto de você…”

Vou perder o comboio da volta, há uma última visita por fazer. Uma última foto da ponte, que visão fantástica! Hora de colocar de novo o carro na estrada, e de novo encurtar tanto aquela distância que antes era tão maior… Demorou, mas aqui estou eu. Eu e meu esportivo preto, em Floripa. Espero que você esteja vendo isso!…

Onde quer que você esteja, deve ser um lugar muito parecido com Floripa…

Previsões para... 2008

Publicado por Braghittoni Ives em 25 Jan 2009 sob: Comportamento (editar)

Ano novo, vida nova! E com o ano-novo, chega também a enxurrada de “previsões” de como ele será, pelos mais variados oráculos. Nosso desejo de saber o futuro antes que ele chegue parece mesmo incontrolável.

Este ano, porém, vou propor uma coisa diferente. Que tal, ao invés de ver as previsões para o ano-novo, olhar para as previsões do ano velho?

Uma rápida consulta na internet mostra como foi a mesmíssima enxurrada, só que de um ano atrás… Vamos ver se há algo que se aproveite ali.

É o “ano do rato” no horóscopo chinês; vai ser um ano de “fartura duradoura”… Hum, parece que o rato não se saiu muito bem em prever a crise… Bom, o ano vai ser “regido por Marte” na astrologia tradicional. Marte, “deus da guerra”… Pois é, só que a determinação que a astrologia faz para o que chama de “alinhamento de planetas” (para dizer qual é o “regente”) é completamente aleatória. É tão aleatória que se utiliza da posição da Terra com relação ao céu como ele era há 2.000 anos, e hoje essa posição relativa é completamente diferente por causa do movimento de precessão do nosso planeta. O próprio nome do planeta, Marte, também é completamente aleatório, tanto quanto todos os outros. O planeta que hoje chamamos de Marte poderia se chamar Saturno, ou qualquer outro deus da mitologia romana… Ou até de alguma outra mitologia… Tá bom, é melhor pular a astrologia.

Já na numerologia, encontra-se várias vezes a seguinte preciosidade, com redações diferentes mas de sentido bem parecido: “considerado um ano de início de ciclo, 2008 será um ano para aprender coisas novas, crescer e explorar novas opções.” Nossa, que profundo isso, não? E mais essa: “no próximo ano, devemos nos desvencilhar da velha energia do ano anterior, que apenas terminou, como tinha que ser”. Nossa, sensacional!! O ano que terminou “apenas terminou, como tinha de ser”!! Que bom que ele não terminou e começou de novo!! O que iríamos fazer com os calendários usados, não é mesmo?

Hum… É, eu devo estar procurando no lugar errado. Ou isso, ou essas previsões são tão confiáveis quanto… A criatividade de quem as fez.

Façamos, então, o contrário – vamos partir dos fatos para as previsões. Alguém já sabia, com antecedência digna de oráculo, de algum dos fatos mais importantes que ocorram no ano passado?

Vejamos as eleições municipais… Não, nada. Não acho ninguém que tenha predito algo certo, em nenhuma capital – e nem eram tantas opções assim. As previsões são sempre tão genéricas, tão cheias de “faça isso bem feito, tome cuidado com aquilo”… Aliás, manifestações assim merecem mesmo o nome de “previsões”?… Tudo é tão genérico, e mesmo no genérico conseguem errar.
Vejamos a eleição de Barack Obama como candidato democrata… Não, só um “leitor de runas” americano diz que Hillary Clinton venceria. Ele tinha 50% de chance de acertar, e ainda assim conseguiu errar… Ninguém acertou quem seria o candidato democrata, muito menos que ele seria eleito presidente. Nada. Um “evento cósmico” desse tamanho, e nenhum vidente o viu? Mas que decepção!

E a crise econômica? Ah, essa até o mais míope dos paranormais teria de “sentir”!! Mas… Não, nada. Ninguém previu a crise. Aliás, as previsões dizem exatamente o contrário: de novo, é o “ano de Marte”, então seria um bom ano para “empreendedores” e para “correr riscos”… Ótimo ano para aplicar na Bolsa, então?… Ai, ai!!…

Bom, pelo menos que iríamos descobrir água em Marte algum astrólogo previu, certo? HUm, não? Nem isso?!? Mas era o “ano de Marte”!!… Assim não brinco mais, ora.
Renúncia de Fidel Castro. Concordata do Lehman Brother. Desfecho trágico do seqüestro de Eloá Cristina Pimentel. Compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil (essa teria sido ótima de saber com antecedência, não? Viram o quanto as ações subiram? Por que nenhuma dessas “previsões” me avisou disso?!?). Fusão de Unibanco e Itaú (essa também… Droga, que falta faz uma bola de cristal que funcione!!). Crescimento vertiginoso da economia dos EUA. Queda maior ainda da economia dos EUA quando estoura a crise do crédito imobiliário. Liberação pelo STF das pesquisas com células-tronco embrionárias. Qual desses fatos foi “previsto”? Nenhum. Nada, nada, NADA sobre isso foi dito nas “previsões”.

Então… Vendo como foram as “previsões” de 2008, vale mesmo a pena perder tempo com as “previsões” para 2009?

Vale, claro! Não vamos perder a chance, em 2010, de dar boas risadas com elas!… :-)

Não disse antes, porque não podia falar em felicidade enquanto escrevia sobre Gaza, mas ainda está em tempo: feliz ano-novo para todos. Paz, saúde e prosperidade!

Horror em Gaza - Segunda Parte

Publicado por Braghittoni Ives em 18 Jan 2009 sob: Internacional (editar)

Enquanto escrevo, acabam de chegar notícias de que Israel iniciou a retirada unilateral de Gaza. Apesar disso, ainda não foi confirmado o número de mortos pelo disparo contra uma escola da ONU com artilharia – o que é mais conseqüência de uma estratégia de ação errada do que um “erro isolado”. A contagem geral de mortos civis provavelmente vai demorar muito.

Defendi na postagem anterior que Israel tinha o direito de se defender contra o lançamento de mísseis contra civis. O grande problema está no como isso vem sendo feito.

A primeira coisa a entender é que Gaza é densamente povoada e tem alto grau de verticalização (os prédios de apartamentos predominam sobre as casas) – na verdade, Gaza é um grande adensamento de cortiços e favelas. Ou seja, é um completo absurdo a utilização de ataques aéreos contra uma região assim. Por mais “cirúrgicos” que fossem os ataques, o número de vítimas civis seria altíssimo e é exatamente o que aconteceu. Felizmente, essa fase da operação parece encerrada, mas a “desproporção” em disparar armamento aerotransportado contra um prédio inteiro porque “um andar” servia de abrigo ou depósito de armas para o Hamas é evidente.

O uso de artilharia, nessas condições, é igualmente inaceitável, pelos mesmos motivos. Se Israel queria se defender, deveria, desde o começo, ter realizado operações exclusivamente por terra, com tropas de infantaria em combate direto. Isso permite minimamente a tal “seleção cirúrgica” de alvos, que ataques aéreos ou de artilharia jamais poderiam fazer. Explicando de um jeito mais simples: deveriam ter sido utilizados somente fuzis, não caças e canhões. Usar esse tipo de arma dentro de uma favela não podia mesmo ter outro resultado.

É certo que, nessa hipótese, as baixas de Israel seriam mais altas – mas é inaceitável que vítimas inocentes, muitas delas crianças, paguem o preço da operação como foi feita.

A situação em Gaza é apavorante. Não existem abrigos de nenhum tipo. Não há lugar seguro onde os civis possam se refugiar. Um prolongado bloqueio comercial já deixava a região desabastecida dos itens mais básicos, o que o ataque só piorou exponencialmente. O governo de Israel não permite o acesso de observadores imparciais e, para completar, não está sendo garantido aos civis o direito (estabelecido em legislação internacional) de fugir para outras regiões.

Como dito, a intervenção era direito de Israel; a execução dela, no entanto, está sendo realizada de uma tal forma que é de se cogitar se não estamos diante de verdadeiro caso de crime de guerra, que precise ser apurado e julgado como tal.

E, como se não bastasse, houve disparos diretos de artilharia contra uma escola da ONU – isso, por si só, já justificaria a entrada de tropas da ONU em Gaza. Mas a ONU, dessa vez, fará o mesmo que geralmente faz: absolutamente nada.

Nem se diga que Israel está “respondendo na mesma moeda” do Hamas. Israel é uma democracia e tem o dever de se pautar como tal, enquanto o Hamas nunca teve vergonha de se declarar genocida. Descer ao nível do Hamas é dar a vitória a ele – a vitória ideológica, independemente de quem tenha a vitória militar. É dar, ao mundo árabe, a exata mensagem que o Hamas quer passar: a de que Israel é (o país inteiro!) “genocida”, e quer matar o maior número possível de civis. Não é verdade, mas vai acabar parecendo ser.

A imensa maioria da população de Israel quer paz, e não deseja a morte de civis palestinos tanto quanto não desejaria a morte de inocentes de qualquer lugar. Por isso mesmo, a fim de não se cometer ainda mais injustiças, é preciso diferenciar também o governo de Israel da população de Israel.

A paz é possível? Claro que é, ao contrário do que a maioria gosta de afirmar. Basta ver Egito e Jordânia, que há poucas décadas travaram guerras totais com Israel e hoje têm uma paz bastante sólida – a tal ponto que, hoje, é exatamente o Egito o negociador entre Israel e os palestinos. Ninguém iria imaginar isso entre os países que travaram a sangrenta guerra do Yom Kippur na época, e hoje é fato consumado.

No entanto, a maior prova de que a paz é possível talvez seja a Cisjordânia, um trecho de terra com um número muito maior de palestinos do que Gaza e que também é vizinho de Israel. Ali, o governo democraticamente eleito do Fatah não dispara mísseis contra Israel, nem envia homens-bomba para explodirem em pizzarias (pelo menos por enquanto…). Ali, a preocupação é em resolver os problemas dos palestinos, gerar e administrar instituições republicanas e, ao fim, criar o Estado palestino. E – incrível surpresa! – Israel não invadiu a Cisjordânia. Nem vai invadir (pelo menos por enquanto…).

A meu ver, isso também é prova de que o verdadeiro inimigo do povo palestino é o Hamas, e não Israel, por mais condenável que tenha sido a atuação de seu exército nos últimos dias.
Por falar em Hamas, o que o grupo fez quando se iniciou o ataque a Gaza, já que odeia tanto Israel? Foi para campo aberto satisfazer seu desejo de luta, certo? Não, claro que não: continuou usando a população como escudo. Mas, pelo menos, evacuou uma região de Gaza, para concentrar ali o combate e proteger ao máximo o maior contingente possível de habitantes palestinos, certo? Não, nunca. A guerra de propaganda se ganha com muitos civis mortos. E o principal líder do Hamas, certamente, esteve de arma em punho, o tempo todo, protegendo a população, certo? Não, óbvio que não. Khaled Meshal continua morando numa confortável casa em Damasco, beeeem longe de Gaza. Quanto a esses fatos já não há mais dúvida; o que ainda depende de compravação são os relatos de que membros do Hamas se aproveitaram da investida israelense para caçar e matar rivais do Fatah. Triste sina a dos palestinos, tendo representantes assim!

O Hamas não se preocupa com o povo palestino. Está preocupado, apenas, em atender às ordens de seu verdadeiro chefe – o governo do Irã, que nem faz fronteira com Israel (e que também nem é árabe, é persa, ao contrário do que muita gente imagina). Curiosamente, apesar desse ódio todo, o Irã não ataca diretamente Israel; prefere fazer isso usando buchas de canhão palestina (Hamas) e libanesa (Hesbollah).

Se um governo assim chegar a ter armas nucleares, o mundo inteiro vai ter motivos bem sérios para se preocupar.

Horror em Gaza - Primeira Parte

Eu não pretendia que o primeiro assunto desse blog fosse logo um tão terrível. Mas a realidade se impõem, esse é o assunto mais importante do momento e eu não tenho nenhuma vocação pra avestruz.

O complicadíssimo conflito entre israelenses e palestinos está ganhando mais um capítulo sangrento na faixa de Gaza, um estreito trecho de terra árida encravado em território israelita (veja o mapa da região clicando aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Gaza_conflict_map.png). É cedo para dizer se os objetivos estabelecidos pelos militares de Israel vão ser atingidos; desde já, porém, a própria ofensiva caracteriza uma vitória dos radicais – de ambos os lados.

O Hamas sempre se pautou no uso de civis, tanto como alvo quanto como escudo. Seu objetivo declarado é destruir Israel inteiro, como se verifica em sua própria ata de fundação (confira aqui: http://avalon.law.yale.edu/20th_century/hamas.asp). Que ninguém tenha a ingenuidade, portanto, de acreditar que algum processo de paz duradouro possa passar pela negociação com o Hamas: o grupo não quer paz, quer o extermínio de um país inteiro. E, para esse objetivo, a morte de palestinos inocentes é bastante conveniente. São incontáveis os relatos de palestinos de que a cúpula do Hamas procura as áreas mais povoadas para estabelecer seus depósitos de armas; que disparam os mísseis sempre nas áreas mais povoadas; e que reiteradamente convocam mulheres e crianças para ocupar prédios toda vez que o exército de Israel avisa que vai destruí-lo.

Pois é: por ser uma democracia, a praxe do exército israelita, quando identifica um alvo, é (pelo menos era…) avisar com antecedência que irá atacá-lo, justamente para dar tempo de os civis fugirem. O Hamas usava isso para tentar evitar que o alvo fosse atacado, ou para provocar a morte deliberada de seu próprio povo. Em Gaza, porém, não está havendo aviso algum – o que é só mais uma vitória para o Hamas.

Como o próprio grupo declara, seus alvos nunca são militares. O objetivo de seus foguetes e de seus homens-bomba são, sempre, alvos civis. Os foguetes reiteradamente atingem creches, e se o número de vítimas não é maior é, somente, porque foi estabelecido em Israel um eficiente sistema de alarme contra os mísseis, que rapidamente evacua os civis para bunkers enormes.
É preciso, então, que não se confunda a defesa da causa palestina com a defesa de terrorismo palestino. Confundi-los é fazer o jogo dos terroristas.

Israel deixou a faixa de Gaza, voluntaria e unilateralmente, em 2005. O Hamas venceu eleições legislativas em Gaza em 2006 – o que, talvez, se explique pelo estado de desespero a que chegaram os palestinos – e no ano seguinte consolidou seu poder pela força, derrotando na base do tiro os partidários do presidente eleito Mahmud Abbas. Com isso, o partido de Abbas, o Fatah (que é moderado, e por isso mesmo rival do Hamas) passou a governar, somente, a região da Cisjordânia. O Hamas, agora instalado no poder, se sentiu ainda mais confortável em ampliar o ataque aos civis israelenses, sabendo que isso, mais cedo ou mais tarde, provocaria a resposta de Israel. Em 2008 houve um acordo de cessar-fogo, sob a condição de que fossem encerrados, definitivamente, os disparos de foguetes contra seu território.

A resposta veio junto com o fim unilateral do cessar-fogo, provocado por novos disparos de foguetes pelo Hamas. E, dentro da lógica do terrorismo, quanto mais horríveis forem as conseqüências dessa resposta, melhor; quanto maior o número de crianças atingidas, maior a chance de criar uma nova “intifada” que jogue todo o mundo islâmico contra Israel. Ponto para o Hamas.

Infelizmente, a saída das tropas de Israel da faixa de Gaza, negociada pelos partidos moderados que estão atualmente no poder, trouxe exatamente a conseqüência prevista pelos partidos “linha-dura”: o aumento do lançamento de mísseis, não sua diminuição. Ponto para os radicais israelenses, que há muito defendiam o uso da força em Gaza e agora se regozijam em declarar “eu avisei”.

Dentro dessa equação, há que se considerar ainda o fato de que as eleições em Israel ocorrem em 10 de fevereiro, o que leva a ser difícil não ponderar que, em algum aspecto, essa resposta em Gaza pode ter funções eleitoreiras. Não estariam os atuais governantes de Israel temerosos de perder espaço político para os radicais – que se apresentam como alternativa para dar uma “resposta mais eficaz” para os ataques do Hamas? Difícil dizer, mas talvez a propalada “desproporção da resposta” tenha aí as suas origens.

As agências internacionais dão conta que, no momento em que escrevo este texto, começaram as primeiras negociações de paz. Talvez esse “excesso de força” de Israel tenha sido justamente para que, quando começassem os protestos internacionais, seus objetivos já tivessem sido atingidos, e só então se iniciassem as negociações para o cessar-fogo. Até aqui, parece que só os radicais se saíram bem – e os inocentes é que pagaram o preço.

E por falar em vitória de extremistas: onde estão as manifestações contra os massacres ocorridos recentemente no Congo? E contra os ocorridos em Darfur, na ditadura islâmica do Sudão?
Vejo muitos e profundos erros na atuação de Israel, por mais que seus motivos sejam justificáveis. Tratarei desses erros no próximo texto.