sexta-feira, 29 de abril de 2011

Mais uma teoria da conspiração...


Para os que gostam de teorias da conspiração: a Sra. Catherine Middleton, a partir de hoje Duquesa de Cambridge e futura rainha da Inglaterra, morou durante um bom tempo na Jordânia e é fluente em árabe...

Espaço aberto para conjecturas, teorias e especulações :-)

(Enquanto isso, na Síria, que é o que realmente importa, continua difícil de saber quais vão ser os desdobramentos dos protestos, ou se as sanções aprovadas vão surtir algum efeito).

terça-feira, 22 de março de 2011

Um Velhinho em Boston



Sim, existe um velhinho em Boston! Há muitos, é claro, mas esse é especial. Miúdo, meio encurvado pelo peso de seus 83 anos, ele é simpático e de extrema gentileza; quase patologicamente tímido, nunca se casou nem teve filhos. Mora numa casa muito simples, de tijolos aparentes, num bairro operário no lado leste de Boston, onde planta orquídeas e tenta arrumar espaço suficiente para as várias pilhas de livros.

Gene Sharp, além de plantador de orquídeas, é o homem que ajudou o Egito a derrubar Hosni Mubarack. Também é o homem que ajudou a Sérvia a derrubar Slobodan Milosevic e mais um punhado de outras ditaduras.

Seu trabalho já era conhecido antes da revolta egípcia, mas é esta a que agora está lhe dando o status de celebridade. Do alto de sua timidez intensa, ele obviamente não dá a mínima para isso; as ditaduras do mundo, ao contrário, estão com cada vez mais preocupadas com suas idéias e com a velocidade com que elas se expandem.

Desde 1972, Sharp é professor de ciência política na Universidade Dartmouth, em Massachusetts. Fascinado pelo pacifismo de Einstein e pela doutrina de “resistência não-violenta” de Gandhi, ele resolveu estudar a fundo a natureza e a fonte de poder das ditaduras – e como elas poderiam ser combatidas. Seu trabalho de doutorado foi defendido em 1968 e publicado em 1973 sob o nome de “As Políticas de Ação Não-Violenta”. Com base nos elementos elaborados nesse trabalho, ele escreveu outro, bem curto, direto e acessível, para servir de “guia” aos povos oprimidos: Da Ditadura para a Democracia, traduzido para mais de sessenta idiomas e facilmente encontrado na internet.

É fato que as “mídias eletrônicas” (em especial Twitter e Facebook) foram ferramentas importantes para os revoltosos do Egito e da Tunísia, algo que a imprensa do mundo todo tem dado muita ênfase. Mas o quê, exatamente, eles comunicavam por esses meios? O que se divulgava, além de que vinagre e suco de limão no lenço ajudam a minimizar os efeitos do gás lacrimogêneo? A resposta é: as idéias de Sharp.

Segundo ele defende, o poder realmente emana do povo, e nenhuma ditadura consegue se manter indefinidamente se for baseada somente na força. Se perder o apóio popular, e se essa retirada de apóio for feita de forma organizada e planejada, nenhuma ditadura se sustenta – e Da Ditadura para a Democracia explica, de forma simples e detalhada, o passo-a-passo de como isso pode ser feito.
A resistência pacífica, segundo Sharp, não é apenas moralmente melhor do que o combate pela violência: é mais eficaz. O uso da força é o campo da ditadura, e dificilmente os defensores da democracia podem ser páreo para ela nesse seu terreno próprio. Minar suas fontes de poder, ao contrário, sem uso de armas, é muito mais eficiente.

Muito antes das revoltas no Oriente Médio, o trabalho de Sharp já era o livro de cabeceira dos movimentos de libertação na Sérvia e em várias das ex-repúblicas da URSS. O movimento Otpor, da Sérvia, chegou a receber treinamento diretamente do instituto de Sharp (o Albert Einstein Institution, cujo site está aqui: http://www.aeinstein.org/ ).

Tal qual seus colegas do leste europeu, o Otpor (que em sérvio significa “resistência”) teve um papel fundamental na queda de ditaduras que até então pareciam invencíveis (nesse caso, a do ditador-genocida Slobodan Milosevic). Não é à toa que, tão logo começou a se organizar, a juventude no Egito tenha procurado auxílio e treinamento com os militantes do Otpor – e o manual básico de todo o planejamento da revolta tenha sido o livro de Gene Sharp.

Nada mau para um velhinho introvertido!... :-)

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Dominó no Oriente Médio?

Depois dos atentados terroristas em Nova York e em Madri, muito se discutiu sobre o afluxo de imigrantes árabes e muçulmanos nos países ocidentais e os impactos culturais que daí decorreriam. Particularmente no caso do metrô de Madri, alguns aspectos chamavam a atenção: os terroristas eram todos muçulmanos e descendentes de árabes, mas haviam nascido e crescido na própria Espanha. Isso gerou a teoria da “síndrome de desterro”: esses jovens não se sentiriam nem bem árabes (etnia), nem bem espanhóis (nacionalidade). Os pais se reconheciam como estrangeiros e eram gratos à Europa que os recebera e lhes dera boas condições de trabalho; seus filhos, porém, se sentiriam “entre dois mundos” e sem pertencer de fato a nenhum deles; completamente deslocados, acabariam por odiar tanto a Espanha quanto o Ocidente inteiro. Adicione-se isso ao contato com religiosos extremistas, diziam os defensores da teoria, e tem-se como resultado centenas de inocentes mortos barbaramente.

Não sei se essa análise está correta. Provavelmente ninguém nunca vai saber, já que os responsáveis estão mortos. Certa ou errada essa explicação, o que é bem provável, todavia, é que tenha ocorrido um fluxo inverso: o contato cada vez maior dos jovens árabes com o ocidente parece ter sido determinante para a série de revoltas recentes batizada de “Primavera Árabe”, cujo último capítulo (até agora...) se dá na Líbia.

Os próprios revoltosos no Egito explicaram: o estopim dos protestos contra o governo Mubarak foi a revolta na Tunísia, mas a inspiração de seus objetivos são as democracias ocidentais. O maior contato com elas propiciado nos últimos tempos tornou ainda mais visível as diferenças entre sociedades abertas e as ditaduras em que viviam – e da indignação para a revolta aberta não foi um passo tão longo. Se o resultado da revolução vai mesmo ser uma democracia ainda é cedo para dizer, e muito depende de qual caminho o exército egípcio vai seguir. É notável, porém, que até o momento não haja nada no movimento relacionado a religião: não se fala de influência do islamismo na política, em nenhuma vertente. Não se fala de extremistas – pelo contrário, houve cenas tocantes de cristãos coptas protegendo os muçulmanos durante as orações destes na Praça Tahrir, e em seguida sendo convidados pelo imã a orarem juntos. Não se viu ninguém queimando bandeiras dos EUA ou mesmo de Israel.

Nem mesmo a temida Irmandade Muçulmana (autora confessa, no passado não muito distante, de ataques terroristas contra turistas com dezenas de mortos) manifestou interesse em se aproveitar do eventual vácuo de poder. Ao contrário, seus representantes declararam abertamente que não há interesse da organização em disputar a presidência nas eleições que se aproximam (se é verdade ou não, novamente só o tempo vai dizer).

O início é promissor, mas os receios da comunidade internacional sobre qual será o final não são sem fundamento: a História está cheia de exemplos de revoluções que tinham por objetivo pôr fim a uma ditadura e que tiveram como resultado ditaduras piores que as anteriores – o exemplo do que ocorreu no Irã em 1979 é bastante eloqüente.

Há ainda um aspecto fundamental dessas revoltas de que pouco está se tratando: um velhinho numa casinha, num confim gelado do mundo, cercado de livros por todos os lados. Mas vou tratar de Gene Sharp no próximo texto.

Ah, sim, as relações Brasil-Rússia-Ucrânia vão muito bem, obrigado :-)

sábado, 25 de dezembro de 2010

Férias e Diplomacia

A maioria entra agora em férias; este escriba, porém, inicia missão diplomática para fortalecer as relações entre Brasil e Rússia.
Feliz Natal e até 2011!! :-)

sábado, 11 de dezembro de 2010

A farsa da classificação “direita e esquerda”


Socialistas são “de esquerda”? Os liberais são “de direita”? Comunismo é “extrema-esquerda” e nazi-facismo é “extrema-direita”? O “centro” seria então uma mistura dos dois extremos? Qual a “régua” que mede exatamente onde fica cada coisa nessa pretensa divisão bidimensional? Hum, que confusão... Na verdade, essas supostas classificações são a manifestação de uma mal disfarçada ideologia anti-liberal – e, acima de tudo, são completamente falsas. Vou provar.

A origem desses termos bidimensionais é histórica. Na época da monarquia francesa havia o instituto dos “Estados Gerais”, uma assembléia que reunia os representantes da nobreza (“primeiro Estado”) da igreja católica (“segundo Estado”) e do povo (“terceiro Estado”, composto por girondinos e jacobinos). Criou-se o costume, não se sabe ao certo o motivo, de os dois primeiros se sentarem à direita do presidente da assembléia, e os representantes do povo se sentarem à esquerda (aliás, eram exatamente estes que se opunham ao estado totalitário e absolutista, veja que curioso...). Nobreza e igreja, claro, sempre votavam a favor da monarquia e da manutenção de seu poder absoluto; e, com isso, o povo sempre perdia por 2 a 1 – o que, como se sabe, foi um dos fatores que culminaram com a Revolução Francesa em 1789.

A partir daí, consolidou-se a “nomenclatura” de que “direita” significa elitista, ou monarquista, ou “anti-povo”, ou essencialmente conservador – alguém que quer manter as coisas como estão (nenhuma relação com "conservadorismo" como ideário político). Nessa mesma nomenclatura, “esquerda” passou a significar republicano, ou pró-povo, ou simplesmente revolucionário – alguém que quer mudar radicalmente o modo como as coisas estão.

Curiosamente, logo depois da revolução, os girondinos, por serem mais moderados, passaram a ser chamados de “direita”; os jacobinos, mais radicais, se tornaram a “esquerda”. Mais tarde, com a restauração da monarquia, os termos, de novo, mudaram completamente de sentido: direita passou a ser pró-monarquia e esquerda, pró-república.

A simples descrição da raiz histórica dessa divisão já mostra quão pouca relação ela tem com o espectro político moderno. Mas sigamos!

Conforme já expliquei em outro texto, o nacional-socialismo e seu irmão gêmeo, o fascismo, são simplesmente tipos de socialismo. Essa é a essência e a gênese de ambos, e não a de “opostos” do socialismo. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, essa verdade óbvia era extremamente incômoda para os países socialistas. Seus líderes precisavam vender a idéia de que o inimigo não era um igual, mas um “oposto” do que eles próprios representavam.

Lênin já havia usado e abusado do esquema "esquerda é socialismo" e "direita é capitalismo". Stalin não teve muita dificuldade em usar uma “atualização” conveniente: o socialismo seria extrema-esquerda; as “democracias burguesas”, liberais ou social-democratas seriam centro e o nazi-fascismo seria extrema-direita (nos EUA, Adorno teve papel fundamental na divulgação desse esquema falso, com seu delirante livro "A Personalidade Autoritária", em que afirma que a origem do nazi-fascismo seria... repressão sexual. Puxa, então não existia repressão sexual antes do fascismo?...).

Só pelos "autores" já seria possível ver quão pouco crédito a idéia merece; mas é no histórico que essa fraude se mostra por inteiro. A criação, como se vê, é essencialmente ideológica: Stalin quis se identificar como “pró-povo” e “anti-nazista”; ao mesmo tempo, impinge na sua classificação a idéia de que seus adversários são “contra o povo” e “com um pé no fascismo”. A realidade e os fatos históricos comprovam, porém, exatamente o contrário.

Não é de admirar as bobagens colossais que daí são geradas por essa classificação viciada. Veja um exemplo: o governo Fernando Collor, que fez o mais absurdo e inacreditável ataque do Estado à propriedade dos cidadãos, bloqueando os depósitos em banco, é comumente chamado “de direita”... Ou então, a ditadura militar brasileira, também chamada "de  direita", em que no auge do período Geisel tinha quase 80% da economia estatizada...Vá entender!

Não caia nessa. Chame as coisas pelo que elas são, não pelo esquema falso que os marxistas inventaram (liberais de "liberais", conservadores de "conservadores", social-democratas de... ok, você entendeu). Nem eles acreditavam nessa “régua” que pretende classificar as complicadas divisões políticas num mundinho bidimensional de direita/esquerda.

No mundo real, essa divisão tola só confunde, ao invés de esclarecer.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Lula, seus discursos e sua candidata

Pouco antes do segundo turno, fui perguntado num desses fóruns da vida se eu achava que a provável vitória da candidata Dilma seria decorrência da habilidade verbal de Lula. Que cada voto dela era devido a ele ninguém questionava; mas qual seria o peso, nessa relação, de seus famosos discursos?

Muito pequena, a meu ver. Penso que a popularidade de Lula tem pouco a ver com sua capacidade de comunicação. O ponto essencial, e que não tem nenhuma relação com comunicação ou com “carisma”, é que houve um enorme aumento de renda nos últimos 15 anos por decorrência do fim da inflação. É isso que faz Lula ser popular e é isso que elegeu Dilma; os discursos em que ele fala palavrões ou aparece bêbado têm pouca importância para quem, pela primeira vez, consegue comprar comida suficiente para o mês inteiro. É dessas pessoas que o “imposto inflacionário” sugava tudo e são essas pessoas, incluindo as que não recebem Bolsa Família, que lhe dão são sua aprovação recorde.

Falar de incontáveis escândalos comprovados de corrupção não causa efeito nessa imensidão de remediados. Eles não sabem ou não se importam que Lula, no bom e no mau, manteve quase tudo exatamente idêntico ao que havia no governo anterior – e seu grande mérito foi fazer isso na economia, para desespero de seus colegas de partido e para sorte do país e dessa massa de ex-esfomeados. Não adianta dizer que o fim da inflação foi obra do governo anterior, que Lula e seu partido atacaram o Plano Real e votaram contra ele em todas as votações Congresso, nem que Lula (esperto como sempre) colocou como presidente do Banco Central (o “dono do cofre”) um membro histórico do PSDB (ciente que ninguém em seu próprio partido era qualificado). Isso tudo importa pouco para quem passava fome e hoje consegue comprar frango todo domingo.

Lula, como comunicador, é na verdade bastante sofrível, mesmo quando fala para o povão. Se não fosse o frango dominical, suas metáforas de futebol e seus palavrões teriam tão pouco efeito quanto suas demais bravatas tiveram nas três vezes em que foi derrotado – o povo, mesmo com pouca educação formal, não é burro como o PT costuma supor. Ninguém, nem mesmo os analfabetos do mais profundo sertão, têm dúvidas das fragilidades intelectuais e de caráter de Lula; seus discursos deixam as duas coisas bem claras. Mas, lá nos confins da caatinga, esse analfabeto e ex-faminto pragmaticamente apóia quem lhe parece responsável pela melhoria em sua vida – e ninguém pode recriminá-lo por isso.

Aliás, a própria oposição tem grande responsabilidade nesse processo de permitir que o atual governo se aposse do Real e da estabilidade econômica que tanto condenavam.

Lula, mostrando a sagacidade política que, essa sim, é seu grande trunfo, também não mudou absolutamente nada nos pontos que precisavam desesperadamente de mudança. Ele sempre soube, e sempre declarou em seus discursos como candidato, que só com o peso político de um presidente recém-eleito é que o Congresso alteraria alguma coisa nos sistemas previdenciário, tributário e político (a reforma política, em particular, era prometida por Lula “logo nos seis primeiros meses” de seu primeiro mandato). Porém, espertamente, ele ficou bem longe desses vespeiros durante 8 anos, gastando-os em viagens burlescas e colecionando gafes internacionais. Ele sabe que, se tivesse enfrentado esses problemas, os resultados de curto prazo certamente gerariam um desgaste político muito grande. Essa esperta inércia quanto aos grandes problemas é o outro segredo muito especial de sua popularidade tão alta – e o país que pague o preço no longo prazo.

Na educação, que é péssima desde sempre e que deveria ser a prioridade máxima do país inteiro, ele cuidadosa e preguiçosamente fez o que faz melhor: nada, rigorosamente nada. Tudo na estrutura educacional, da forma de financiamento à regulamentação dos currículos, da divisão de competências entre os entes estatais à alocação de recursos, tudo permanece rigorosamente intocado. De novo, no longo prazo se pagará o preço dessa popularidade viçosa.

Com a sorte de não enfrentar crises internacionais, a única que Lula viu encontrou a economia brasileira tão sólida que aqui passou como “marolinha” – e é exatamente essa a “herança maldita” que ele desbragadamente copia há 8 anos, mesmo a amaldiçoando em público.

Mas a esperteza final de Lula, a esperteza maior, foi como se perpetuar no poder. Depois de perceber que proposta de alterar a Constituição para conseguir um terceiro mandato teria um custo político alto demais, ele descobriu um caminho diferente: criou uma candidata que, sem histórico político nenhum, sem ter participado de nenhuma eleição, sem nunca ter recebido um único voto em toda a sua vida, seria em tudo e por tudo completamente dependente dele – e Lula, o político mais esperto que já se viu, encontrou um meio de continuar no poder sem precisar se eleger.

Claro, há um perigo escondido aí – e o homem do povo talvez pudesse explicar a Lula que, “como diz o dito popular”, quem tenta ser esperto demais acaba sendo engolido pela própria esperteza. Ninguém garante que a nova dona da caneta não tome gosto pela coisa e resolva libertar-se de seu patrono. Ou ainda: Lula se orgulha de nunca ter lido nenhum livro, mas os de ficção científica e os de religião talvez lhe ensinassem aquele princípio difícil de fugir de que “a criatura sempre se volta contra o criador”. Por ora, porém, isso ainda é conjectura...

Enfim, a força de Lula não está em seus discursos ébrios e mal educados. Na verdade, o que ele diz tem muito pouca importância. O que ele faz, porém, vem definindo os rumos do país inteiro, num nível mais profundo do que se vê a primeira vista. E, pelo jeito, por um prazo muito mais longo do que se poderia supor.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Heróis da Resistência


Porque as ruas estão sempre cheias de lixo? Porque as pessoas jogam lixo nelas, é óbvio – e é assustador saber que, em São Paulo, a prefeitura gasta com varrição mais de um terço de todo o gasto com educação. E, mesmo assim, as ruas continuam sempre imundas; o que também não é de surpreender, já que, enquanto as pessoas continuarem jogando lixo na rua, nem se fosse gasto o triplo do orçamento da educação elas ficariam limpas (claro: ou muda-se a cultura, ou vai ser preciso um gari para cada habitante).

E esse é só o sinal mais visível de um grau de incivilidade que, além de profundo, parece estar piorando; é o mais visível, mas está longe de ser o único. Sinceramente, não sei se eu é que estou ficando velho demais, e portanto incomodado demais, ou se as coisas realmente estão piorando. Afora a incontornável questão da idade, às vezes acho que há, sim, um assustador contágio de tudo que existe de pior no comportamento das pessoas (tenho vontade de falar sobre o “efeito espelho”, mas isso fica pra outro dia). Parece que o certo é rapidamente desaprendido, enquanto o errado é assimilado com a mesma velocidade. O que diabos está acontecendo? Isso me lembra aqueles filmes de vampiro (os de zumbi também servem) em que o sujeito mordido se torna vampiro, e em seguida também sai por aí mordendo e... Será que falta de educação é contagiosa?...

Não sei, sinceramente não sei. O que sei é que vou dedicar este texto a todos aqueles que bravamente se recusam a ingressar nessa pavorosa maré de desrespeito e anti-cidadania. São verdadeiros heróis da resistência. A eles! :-)

A todos aqueles heróis que, óbvia e primeiramente, se recusam a jogar lixo na rua – que se recusam a usar como lixeira o espaço que é de todos. Àqueles que, além de não fazerem isso, ainda conseguem se sentir indignados com quem o faz, tanto quanto com quem diz coisas como “todo mundo joga” e “os garis ganham para isso”.

A todos aqueles corajosos que se recusam a falar no elevador, incomodando o espaço coletivo com seu palavrório privado – especialmente usando o bendito telefone celular. Aos que, igualmente, vão ao cinema para assistir ao filme, não para incomodar o mundo com sua verborragia infecciosa. Aos que se negam a aderir à barbárie no trânsito e continuam respeitando suas leis (lembremos que são LEIS, não “sugestões”!) – e se recusam a fechar os outros, a parar em cima da faixa de pedestres, a entupir o mundo estacionando em local proibido. A esses bravos que se recusam a aderir ao “todo mundo faz” das ruas, mesmo assistindo os absurdos ao volante praticados pela turma do “o bom é levar vantagem”. Aos sentinelas que rejeitam as infinitas formas de “jeitinho” para resolver, com algum tipo de patifaria, o que não conseguem (ou têm preguiça de) resolver com competência. Aos que, por não terem necessidades profundas de auto-afirmação, conseguem conversar sem interromper o infeliz interlocutor a cada meio segundo.

Aos guerreiros que não aceitam tossir em cima dos outros, nem espirrar em cima dos outros, nem bocejar exibindo o esôfago para o mundo – e, em respeito à saúde e higiene alheias, praticam o enorme esforço de pôr a mão na frente da boca durante esses atos. Heróis! Aos que conseguem deixar que os outros espirrem em paz, sem dizer “saúde” ao pobre autor da esternutação. Aos valentes que não furam fila, mesmo assistindo o mundo inteiro fazendo isso. Aos que têm a fulgurante inteligência de entender que, para entrar em qualquer lugar (seja numa sala, num elevador ou num vagão de metrô) é também muito mais fácil, além de mais educado, esperar sair quem já está dentro! Vejam que idéia revolucionária!

Acima de tudo, aos heróis que rejeitam a imundice suprema de falar de boca cheia – e cuspir comida em cima dos outros e da comida dos outros (sem falar naquele barulho nojento)!!... Esse, pior do que o crack, o analfabetismo ou a corrupção, é o mal maior que atinge nossa civilização cambaleante! Aos guardiões da civilidade que não se contaminaram com essa podridão, Ave! Ave adsertor civitas, mortitani salutari!! A barbárie avança, mas a civilização ainda tem os seus soldados!

Brincadeiras à parte, sempre defendi que, nas últimas décadas, o mundo tem melhorado muito, em quase todos os aspectos. Em alguns pontos básicos de civilidade, porém, pelo que consigo enxergar do meu pouco tempo de vida (“pouco” em termos históricos; não vou desmentir no final do texto o peso dos anos que admiti no começo) parece que estamos regredindo. O que está acontecendo?

domingo, 22 de agosto de 2010

Camiseta Famosa!... :-)


Quem disse que eu não ligo pra moda? Olha o modelito da minha nova camiseta, que coisa mais fashion!...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Menos Guerras no Mundo

Desde sempre ouvimos que “Nostradamus previra” o fim do mundo para o ano 2000. Quando 2000 chegou, disseram que tinha havido uma “falha na interpretação”, e o fim na verdade ocorreria em 2001. Ou seja, a partir de 2002 ficamos livres de ouvir esse tipo de bobagem, certo?

Não, claro que não!... Agora, os “intérpretes de Nostradamus” dizem que o fim virá em 2012 – e, pra melhorar, incluem na trambicagem profética o “fim do calendário maia”... Afirmam que “os sinais do fim dos tempos” estão claramente visíveis (!); o mundo, segundo dizem, estaria cada vez pior: mais crises, mais desastres naturais e, claro, mais guerras. Será mesmo?

Essa discussão é praticamente idêntica à ocorrida – acredite! – no longínquo ano 1000, em que "profetas” também garantiam que o mundo chegaria ao fim. Além, claro, do nosso inexplicável fascínio por “números redondos”, existe nisso um outro aspecto mais fácil de explicar: toda pessoa sempre acredita que a sua geração é a mais importante que já existiu. Afinal, é a geração em que ela vive, ora! Então, se algo glorioso e colossal deve acontecer com o mundo algum dia (inclusive seu fim), deve ser “nesta” geração!...

A verdade é que há cada vez mais gente no mundo, então é natural que haja mais gente morrendo por conta dos desastres naturais. Esse número maior de pessoas normalmente se fixa à beira ou de rios, ou do mar – então também é natural que haja mais gente sujeita a inundações e furacões. O aquecimento global pode ter um peso nisso, mas por enquanto ninguém sabe ao certo se e quanto isso produz de influência.

O mais interessante de tudo, porém, não tem nada a ver com bobagens proféticas: apesar de a população mundial ser cada vez maior, o número de guerras não pára de cair. Apesar de haver um número maior de pessoas disputando o mesmo montante escasso de recursos, há cada vez menos guerras.

Segundo o estudo do Instituto Heidelberg para Pesquisas em Conflitos Internacionais (HIIK, na sigla em alemão), no ano de 2009 o mundo presenciou um total de 365 “conflitos políticos”, entre os quais sete guerras e 24 “crises graves”. O HIIK criou o “Conflict Barometer” (algo como “barômetro de conflitos”, ou “conflitômetro”). Veja a íntegra do estudo aqui: http://hiik.de/en/konfliktbarometer/index.html

Conforme se verifica, os conflitos de Estado contra Estado são cada vez mais raros desde o fim da Segunda Guerra Mundial, e o número decresceu ainda mais com o fim da União Soviética. Ainda pelos dados do HIIK, essa queda, no entanto, não foi contínua: entre 1980 a 1990 houve crescimento dos conflitos, com um ápice em 1992 (ano de 52 conflitos “altamente violentos”) – exatamente o período do colapso da URSS. As crises mais comuns, desde então, são conflitos internos travados entre grupos rivais de um mesmo país. Ainda que muitas vezes grupos rebeldes recebam auxílio de países estrangeiros, a natureza desse tipo de conflito é muito mais limitada do que as guerras totais entre Estados. O número de vítimas, naturalmente, também é muito menor.

O fenômeno é bastante complexo, mas a causa principal, certamente, é que é cada vez menor o número de ditaduras no mundo. Não é à toa que o fim do nazismo marcou o início dessa queda no número de guerras e que o fim da URSS tenha acentuado a diminuição: até hoje, em toda a história da humanidade, não houve nem um único caso de duas democracias que tenham entrado em guerra. Guerra é coisa de ditaduras. Há, claro, o recente, estúpido e vergonhoso caso de uma democracia que atacou uma ditadura sem ter sido atacada antes (a invasão do Iraque pelos EUA), mas isso é outra história.

Não sei se o mundo vai acabar em 2012, mas há bons motivos para acreditar que, se ainda estivermos por aqui, vamos habitar um planeta um cada vez mais pacífico. É algo pelo qual vale a pena trabalhar.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Culto a um Assassino

"O ódio como elemento da luta; ódio inabalável pelo inimigo, que impele o ser humano para além de suas limitações naturais, transformando-o numa máquina de matar, eficaz, violenta, seletiva e a sangue frio. É isso o que nossos soldados precisam se tornar..."

Sabe de quem é essa frase? Ela pode não ser muito conhecida, mas seu autor é. Parece coisa de Adolf Hitler, não? Ou de alguém muito parecido com ele, quem sabe. O texto que a contém foi escrito com todo cuidado (nada de “foi um momento de raiva...”), o autor era inteligente e ela não está “fora de contexto” – pelo contrário, o texto todo segue exatamente essa linha. Ela expressa o que ele de fato pensa e o que efetivamente demonstrou por seus atos durante toda sua vida. Ainda está difícil? Vou dar mais algumas pistas. Ao fim delas, você vai achar que o conteúdo da frase é pouco se comparado ao caráter de quem a escreveu...

Seu autor veio de classe média-alta e teve ótima educação. Bem cedo se uniu a movimentos radicais que buscavam o poder no estrangeiro e, com a desculpa de “impor a verdade” (da qual ele, claro, era o legítimo e iluminado portador), passou a usar a luta armada para atingir seus objetivos. Afeganistão? Bin Laden? Não; nem tão longe, nem tão recente.

Aproveitando-se de um movimento popular que queria, apenas, depor um governo corrupto, ele e seus partidários chegam ao poder e rapidamente impõem suas concepções radicais. Na luta interna de poder que se segue, nosso personagem acaba ficando com um papel “subalterno”: assassinar os dissidentes. Quem não concorda com o poder total dos novos donos do trono merece a morte – e é o autor da frase o encarregado de matar centenas de inocentes desarmados. Stalin? Lênin? Mao? Saddam Hussein? Não, nada tão óbvio.

Insatisfeito em ser apenas o mandante dos homicídios, ele determina pessoalmente os fuzilamentos – e, em boa parte dos casos, faz questão de estar presente e assistir às mortes. Há milhares de testemunhas relatando sua satisfação em presidir as execuções, algumas vezes sorrindo. Como médico de formação, tem um prazer sombrio e pervertido em assistir como os corpos dos inocentes reagem às intermináveis sessões de tortura que ocorrem nas prisões sob seu comando.

Sim, ele era médico. Joseph Mengele, então? Hum, ainda não, mas está esquentando.
Ainda não satisfeito, ele tem a “honra” de ser o criador dos campos de trabalho forçado no país que, agora, se tornou uma ditadura totalitária, sem limite algum. O país inteiro se transforma numa enorme senzala, o povo é reduzido à miséria absoluta e à condição de “máquinas de trabalhar” de propriedade do governo – cujo resultado mais explícito são, justamente, os campos de trabalho forçado, para orgulho de seu envaidecido criador.

Ainda está difícil?

A luta interna pelo poder (que agora é poder absoluto) se acirra, e nosso assassino/escravocrata sai derrotado. Em função disso, ele resolve tentar conseguir o poder em outro país estrangeiro – e dessa vez, escolhe um ainda mais pobre do que o anterior, certo de que isso tornará mais fácil manobrar as massas para que aceitem a luta armada.

Seu plano, dessa vez, é um fracasso total. Num um único habitante do seu “novo alvo” aceita ser bucha de canhão de seus sonhos totalitários. Capturado, demonstra uma enorme covardia; ele, sempre tão tranqüilo em mandar milhares de jovens para a morte, se borra de medo perante seus captores e implora por sua vida – mais uma grande semelhança com seu colega Hitler, que, diante do fim iminente, preferiu o caminho covarde de um suicídio indolor a ter de responder por seus atos.

Ah, agora ficou fácil, não é mesmo? Sim, esse assassino covarde, que dedicou sua vida a criar um regime de escravidão total é Ernesto Guevara de La Serna, mais conhecido como Che Guevara. A forma como ele, Fidel Castro e seus comparsas transformaram uma revolução que originalmente era democrática num experimento socialista e totalitário é algo apavorante. Encastelado no poder com o cargo de procurador-geral, ele foi o responsável direto por centenas de fuzilamentos em múltiplas prisões (inclusive a primeira a promovê-los, a Fortaleza de São Carlos de La Cabaña).

Escravocrata convicto, ele foi o criador dos horrendos “campos de trabalho coletivo” (campos de concentração com trabalho forçado, sendo os primeiros na península de Guanaha. Até hoje, esses campos são um dos piores pesadelos do povo cubano). A frase que inicia este texto é parte da Mensaje a los Pueblos Del Mundo, seu famoso manifesto em que pede “dois, três, cem Vietnams”.

Tendo perdido a disputa de poder para Fidel Castro, foi tentar ser dono de sua própria ditadura na Bolívia, onde – como dito – nem um único boliviano seguiu seus sonhos de tirania. Capturado, o assassino frio demonstra um enorme medo da morte – por se tratar da sua própria, claro, e implora pela vida com a frase famosa: “por favor, não me matem... Eu sou Che Guevara, tenho mais valor vivo do que morto...” Além de covarde, egocêntrico!...

Como um monstro desses pode ter sido eleito à categoria de ídolo da juventude? Como alguém que criou um regime que exigia obediência absoluta vira sinônimo de “rebeldia”? Como um tirano escravocrata se torna “herói libertário” no imaginário das pessoas?

Eu não sei a resposta.

Muita propaganda, claro; muita doutrinação socialista, claro também, desde sempre; muita falta de informação por parte de quem veste a famosa camiseta, é óbvio; mas isso só não explica. Há algo de mais profundo na transformação do assassino em mito que precisa se estudado em profundidade. Claro que Hitler e Stalin até hoje também têm seus seguidores, mas nada que se compare à escala de “mito moderno” a que chega o Comandante Assassino (como se referem os sobreviventes e familiares das vítimas).

O mais próximo que eu já consegui de uma resposta, que foi obtida de seus próprios seguidores, é que “Che foi um idealista, que morreu por seus ideais”. Ora, se é esse o motivo, então eles deveriam prestar culto também a Hitler, outro socialista que também morreu “por seus ideais” (insisto, ambos demonstrando idêntica covardia na hora de “morrer pelos ideais” e ambos partilhando “ideais” coletivistas bastante semelhantes).

Alguém tem alguma teoria? Eu não tenho. Eu só fico horrorizado de ver esse sujeito ser alçado à condição de “herói”, mas não consigo explicar tal coisa.

Alguém consegue?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Melhor que ser do contra é ser chato

- Você vai gostar! É pop, mas você vai gostar. Tente não ser do contra uma única vez, tá bem? Você vai gostar!
- Se você diz...
Nunca entendi exatamente o que é música “pop”. Rock e erudito, que são os estilos de que gosto, são razoavelmente fáceis de definir. De música eletrônica gosto de alguma coisa, mas nunca consigo explicar qual das “vertentes” me agrada; a última vez que tentei, com um sujeito que entendia muito do assunto, fiquei sabendo que o que eu gostava era “house”. Aceitei a definição, até por não ter embasamento para contrariar, mesmo sem entender até hoje o que ela significa. Mas e pop?
- É uma verdadeira revolução no pop! É uma mudança de paradigmas, diferente de tudo que já foi feito... Não seja chato e tente escutar de mente aberta...
- Chato, eu? – Ironizei. – Vamos lá, quero ouvir sua revolução... Agora fiquei curioso...
E então ela toca Poker Face, de Lady Gaga.
- Plágio! – grito eu, logo nos primeiros acordes. – Plágio! Sua “revolução do pop” é simples plágio, e ainda por cima de uma música bem velha... Grande novidade essa!
- Plágio?! Não é possível – responde ela. – Plágio de qual “música velha”?
- Hãn... Não sei.
- Como, “não sabe”?
- Não sei, mas tenho certeza de que essa música é pura cópia de outra bem velha, que já ouvi faz tempo... Até esse “ma-ma-ma” do refrão é copiado...
- Duvido!!!...
Fiquei bastante tempo com isso na cabeça. Minha memória, que não costuma ser “lá essas coisas”, com música dificilmente falha.
E, depois de muito, muito tempo:
- Achei o vídeo, a música, a banda, a letra, tudo.
- Do quê?
- Do plágio descarado que a sua Lady não-sei-quê fez.
- Nossa, você ainda lembra disso? Porque não admite que a música é legal? Só porque é pop? E o nome é Lady Gaga...
- A música É legal. Só que é plágio. Confere aqui...
- Ora, só porque... Ah, não!?... Não acredito!!... Até o “ma-ma-ma” é igual... Que droga, é plágio mesmo...
Ficou curioso? Então assista ao vídeo de Ma Baker, do grupo Boney M, direto do longínquo ano de 1977 (a música foi composta um ano antes), e tire suas conclusões...

http://www.youtube.com/watch?v=NhiCAUoMgXw&feature=related

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Dinheiro Compra Felicidade?


Uma ex-aluna, por e-mail, me pede que comente um tema antigo: afinal, dinheiro compra felicidade ou não?

Em primeiro lugar, acho que é preciso esclarecer que o grande problema da pergunta é que ela relaciona coisas que, a rigor, não têm relação. Como dizia um sábio professor de matemática que tive, “é como comparar melancia com parafuso”. Ainda assim, penso que algumas considerações são possíveis.

Não vou discutir a natureza do dinheiro, nem as regras do sistema econômico que balizam sua obtenção; vou, ao invés, tentar tratar do aspecto psicológico relacionado a ele – é disso, parece, que trata essa pergunta ancestral. Por sua vez, o próprio conceito de felicidade já é, por si só, tão complexo que fica difícil relacioná-lo ao que quer que seja. Então, vamos começar pelos extremos, porque é neles que as características de qualquer coisa são sempre mais visíveis.
Comecei dizendo que conta bancária e felicidade eram duas coisas que não tinham relação; ao mesmo tempo, pensando em extremos, também acho fácil de constatar que ninguém consegue ser “feliz” (seja isso o que for) se estiver passando fome. O extremo oposto também é elucidativo: se um dos filhos de Bill Gates morrer, a dor e a tristeza dele serão exatamente iguais a de qualquer pai – talvez, apenas, com o acréscimo desencantado de pensar que todo dinheiro foi inútil para evitar o ocorrido.

Lembro também da história antiga do milionário que dizia a um pescador o quanto ele poderia aumentar sua produção se trocasse seu barco por outro maior, a motor, se ampliasse suas instalações, se usasse redes maiores, com gruas etc. Ao que o pescador, sorrindo, responde “sim, aí eu poderia ficar rico o suficiente para morar numa praia maravilhosa, ter uma vida muito saudável e feliz, e passar o dia inteiro pescando, sem me preocupar com nada... Ou seja, exatamente a vida que eu já tenho!”...

Outra história de que gosto muito, que ajuda a ilustrar um pouco a questão de “qual o valor das coisas”: um milionário visita um leprosário na Índia (não sei se a história é verdadeira; me contaram como sendo). Ao ver uma freira cuidando de um doente terminal, com pústulas terríveis, ele lhe diz “nossa, Irmã, eu não faria isso por dinheiro nenhum do mundo”; ao que ela responde, sorrindo, “nem eu, meu filho, nem eu!”

Mas o quê, afinal, é preciso para ser feliz? E qual a relação disso com dinheiro? Um campo bom de pesquisa são os ganhadores de loterias, pela situação muito peculiar de passarem de repente da situação “muito pobre” para “muito rico”, sem escalas. Existem vários estudos de psicologia sobre esse grupo tão específico de pessoas – e a maioria mostra que a alegria geralmente dura pouco. Há um prazer muito intenso mas também muito fugaz com a compra de bens anteriormente tão desejados – a pessoa rapidamente “se acostuma” com o carro ou a casa caríssimos, e o que tinha sido fonte de tanta alegria se torna apenas parte da rotina, parte da “paisagem” diária.

Curiosa, também, é a constatação de que só uma pequena parcela desses ganhadores de prêmios mantêm a fortuna; a maioria, em pouco tempo, torra-o de tal forma que rapidamente volta à exata situação financeira que tinha antes do sorteio.
Há, claro, o “peso da sobrevivência” a ser considerado; a batalha diária para obtenção dos recursos básicos para continuar vivo que é anterior a qualquer anseio de “felicidade”. Ainda que muito facilitada pela vida moderna nas sociedades atuais, esse peso continua existindo e, se não é fator de infelicidade, pelo menos é de preocupação constante. Pergunte a qualquer pessoa rica que começou a vida na pobreza sobre o melhor aspecto de ser rico e ele certamente responderá: a grande vantagem de se ter bastante dinheiro é justamente não precisar se preocupar com dinheiro. É ficar fora da roda viva de “como vou pagar as contas”; ou, na expressão brilhante da música do Capital Inicial, “vocês se perdem no medo de não conseguir dinheiro pra comprar sem se vender”.

Parece, então, que existe uma certa hierarquia de valores, e essa complexa condição chamada “felicidade” depende não apenas de quais desses valores conseguimos obter, mas de quais os valores que elegemos como importantes. Um exemplo fácil? É comum se dizer que a única pessoa mais infeliz do que a que só pensa em conseguir vingança é a que realizou sua vingança...

Falar da relação felicidade / hierarquia de valores é falar de Maslow e sua famosa pirâmide. Abraham Maslow propôs, na primeira metade do século passado, a teoria de que a felicidade humana dependeria de satisfazerem-se determinados anseios, dos mais básicos a, progressivamente, os mais elevados, nesta ordem: fisiologia (respirar, comer, dormir), segurança (física, de abrigo, de saúde, de recursos), amor e relacionamento (amizade, família, sexo), estima (confiança e respeito) e, finalmente, realização pessoal (moralidade, estética, criatividade, realização profissional). É essa pirâmide, com texto em português, que você vê no começo do texto. Esse sem dúvida foi um grande avança sobre as teorias anteriores, mas é bastante criticado tanto pela impossibilidade de se universalizar os anseios humanos (essencialmente pessoais e próprios), quanto pela variedade de reações que um mesmo valor pode ter para pessoas diferentes (há desde os felizes com muito pouco até os que não se satisfazem com nada) quanto, finalmente, da dificuldade de se obterem provas de qualquer hierarquia que seja.

Se você lê em inglês, há uma crítica interessante à teoria de Maslow aqui: http://www.rare-leadership.org/Maslow_on_transpersonal_psychology.html.

Pra encerrar: o texto definitivo sobre dinheiro, na minha humilde opinião, é o discurso de singelas quatro páginas do personagem Francisco d’Anconia, no monumental Quem É John Galt?, de Ayn Rand. Esse é, apenas, o melhor livro que já li na vida – o mesmo em que, aliás, Rand defende que “o que move o ser humano é seu código de valores”.

Acho que é por aí ;-)

domingo, 17 de janeiro de 2010

Suspiro Diet


Suspiro é delicioso, ninguém questiona; o problema é que é quase só açúcar... Uma amiga achou esta receita de suspiro diet e me pediu para experimentá-la. Sempre tive minhas dúvidas com esse tipo de receita, mas... O resultado ficou muito bom! É um pouco diferente do suspiro normal, especilamente na textura (não “derrete” tanto, nem tão rápido), mas ainda assim delicioso. E bem nutritivo, já que a base é clara de ovo (quase albumina pura, uma das melhores proteinas que existe).

Como adoçante, usei sucralose, que é natural e com gosto bem próximo do açúcar. Não sabe onde achar “amido de milho”? Sabe sim; o nome comercial de amido da marca mais conhecida é “Maizena” ;-). E como “essência de limão” só existe artificial pra vender, substituí pelas raspas da casca de um limão.

Se você gosta de suspiro, experimente este pra comer sem culpa:

Ingredientes:
3 unidade(s) de clara de ovo
3 1/2 colher(es) (sopa) de adoçante
3 colher(es) (sopa) de amido de milho
4 gotas de essência de limão

Preparação:
Bata tudo junto na velocidade máxima da batedeira por 15 a 20 minutos (até ficar branco). Use o bico pitanga, monte a assadeira forrada com papel manteiga untado com margarina. Asse em forno brando (90ºC).

sábado, 28 de novembro de 2009

1989: A vitória da raça humana contra seu pior inimigo

Desde que os humanos começaram sua jornada pela Terra, inúmeros perigos ameaçaram sua existência: de grandes predadores nos primórdios, passando por fome, pragas, doenças, até ao risco de uma guerra nuclear. Porém, de todos os muitos inimigos que já atacaram a espécie humana, um claramente se destaca como o mais temível de todos, o mais perigoso, o mais cruel.

O pior inimigo da raça humana é o socialismo.

Nenhum outro causou tantas mortes, nenhum outro gerou tanto sofrimento; nenhum outro, dos tantos inimigos que a raça humana já teve, causou tanta miséria e tanta fome.

Não importa a época, não importa a cultura do país, não importa a situação da economia, não importa nenhuma característica do país ou do povo: os resultados do socialismo são sempre fome, miséria, assassinato em massa. Não importam as eventuais “boas intenções” dos líderes que o implantam; não importa quão dedicados e obedientes sejam os integrantes todos do país que os segue – os resultados são sempre os mesmos: fome, miséria, assassinato em massa. E são os mesmos em TODAS as vezes, em TODOS os países.

Essa é a prova final de que os horrores do socialismo são causados pela própria essência do regime, não pelas decisões dessa ou daquela pessoa. Por que, precisamente, os resultados são sempre tão idênticos? É porque esses resultados decorrem da própria natureza do socialismo, não de alguma circunstância histórica, social ou econômica deste ou daquele país.

O final das experiências socialistas também foi exatamente igual, em todos os países que a elas se sujeitaram: depois de décadas de horror e inanição, o povo, apesar de esgotado, acaba juntando forças para derrubar o regime (com exceção da China, em que o próprio partido comunista abraçou a economia de mercado para se perpetuar no poder). Mesmo com toda a violência e repressão, mesmo com a lavagem cerebral desde o berço, mesmo com os campos de concentração e de extermínio em massa, o resultado final é sempre o mesmo: o povo se rebela e põe fim ao horror. Mas isso, contudo, só ocorre à custa de décadas de sofrimentos sem limite. Cuba e Coréia do Norte são os dois últimos exemplos em que o sofrimento ainda não teve fim.

Poderíamos nos perguntar, no entanto, que sendo o socialismo o pior inimigo da raça humana, que lugar então ocupa o nazismo? A resposta é simples: ocupa o mesmo lugar.

O nazismo é, simplesmente, um tipo de socialismo – um dos muitos tipos que existem, mas nada além de mais uma das tantas cabeças da mesma hidra. Os próprios nazistas deixaram isso muito claro desde que criaram seu partido e lhe deram o nome: Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Mas a identidade, é claro, vai muito além da nomenclatura; analisem-se as características essenciais de domínio absoluto do povo, de controle e planificação da economia, de estatização das instituições, de criação de um partido único que tudo pode, de doutrinação desde o nascimento, de diminuição do indivíduo à condição de propriedade do Estado, de coletivismo generalizado em todas as esferas em detrimento do indivíduo e a conclusão será inevitável: os líderes nazistas estavam, de fato, tecnicamente corretos em chamar seu partido de socialista.

E o que seria, então, o irmão gêmeo do nazismo, o fascismo? Nada além de outro tipo de socialismo. As características essenciais são – adivinhe! – as mesmas e se repetem aqui. Benito Mussolini, criador do fascismo, era filho de um socialista fervoroso e se tornou ainda mais fervoroso do que o pai – como se vê nos muitos artigos por ele escritos no jornal socialista “Avanti”, em que era redator-chefe. Membro do Partido Socialista Italiano desde os 17 anos, do qual chegou a ser diretor, seu desejo de criar um novo partido se deu, somente, por ter sido preterido numa disputa interna. A essência desse novo partido, porém, continuou tão socialista quanto as idéias de seu criador sempre foram. São duas faces da mesma moeda – e a suposta rivalidade entre fascismo e socialismo não é nada além de uma disputa de poder entre irmãos gêmeos, nunca uma briga ideológica. Muda a cor da camisa, mas as idéias idênticas são bem esclarecidas pelo sempre socialista Mussolini, ao definir a natureza do fascismo: “tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”.

E a história do socialismo se repete; sempre idêntica, sempre terrível. Rússia, Ucrânia, Bielo-Rússia, Estônia, Letônia e todos os países da ex-URRS: os resultados do socialismo são miséria, fome, assassinato em massa. Polônia, Hungria, Alemanha Oriental, Romênia, Tcheco-Eslováquia, Albânia e todos os países em que o socialismo foi imposto à força pela URSS: os resultados são os mesmos, sempre. China, Camboja, Vietnam, Coréia do Norte, Cuba: os resultados são SEMPRE os mesmos.

As vítimas diretas do socialismo são contadas aos milhões, com histórias tragicamente parecidas. Foram 65 milhões de mortos na China; 20 milhões na URSS; 10 milhões de mortos pelo movimento comunista internacional e partidos socialistas fora do poder; 2 milhões na Coréia do Norte; outros 2 milhões no Camboja (ou seja, um quarto da população do país inteiro); 1 milhão no Vietnã; 1,7 milhões na África e 1,5 milhões no Afeganistão; 1 milhão no Leste Europeu; e, aqui na América Latina, “apenas” 150.000 mortos. Segundo o maior estudo já feito a respeito, consolidado no Livro Negro do Comunismo, o total geral chega aos cem milhões de seres humanos assassinados.

Essa é a essência da “glória socialista”. Esse é o verdadeiro legado do maior inimigo que a raça humana já enfrentou.

É por isso que o ano de 1989 é tão importante: nele ocorreu, no mês de novembro, uma vitória decisiva para a raça humana. O que se comemora neste aniversário de 20 anos é muito mais do que a simples derrubada de um muro, ou apenas a reunificação de um país; o que se deve comemorar é a estrondosa vitória do povo sobre o regime opressor criado por esse terrível inimigo. Novembro de 1989 marca o capítulo final da luta entre o regime assassino da Alemanha Oriental e o povo oprimido – o ponto culminante de uma revolta popular que se espalhou por toda a Europa oriental e acabou por chegar até à própria União Soviética. É algo a ser celebrado longa e calorosamente por cada integrante da espécie humana, em cada canto do planeta Terra.

É fácil comprovar, em âmbito teórico, as falhas grosseiras do ideário socialista, mas este não é o momento nem o lugar. É fácil demonstrar, no campo das ciências humanas e econômicas, os erros e mistificações em que o socialismo se baseia, mas esta não é a sede nem a data para tanto. É fácil explicar como e por que TODOS os regimes socialistas, em TODOS os países, geraram fome e miséria em proporções continentais – e por que isso vai se repetir TODAS as vezes em que houver socialismo, em qualquer país que seja. É fácil comprovar, mesmo no campo da pura teoria, que os resultados do socialismo serão sempre, necessariamente, miséria, fome e assassinato em massa. É fácil, mas esta não é a hora nem o lugar para isso: a hora é de comemoração.

A hora é de comemorar o fim da escravidão de milhões e milhões de seres humanos, nossos irmãos – pessoas iguais a mim e a você. A hora é de celebrar a queda de um regime que, de tão terrível, precisa construir muros para impedir que o povo fuja. O momento é de comemorar e celebrar a imensidão humana que está livre do jugo desse inimigo tão terrível, está livre da causa de tanta fome e tanta miséria.

O momento é de homenagear, com o máximo de respeito, cada um dos milhões e milhões de seres humanos que foram assassinados sob o peso desse inimigo, sem ter – como nós – a chance abençoada de vê-lo ruir. É tempo de, em homenagem a eles, ensinar quem foram e por que morreram aos mais jovens, para que nunca os esqueçam. É tempo de celebrar que o verdadeiro responsável por suas mortes caiu: não apenas este ou aquele líder delirante, mas o regime que criou tais líderes – o regime canibal que se sustenta à custa de sacrifícios humanos; o regime que é o verdadeiro responsável por surgirem criaturas como Stalin, Hitler, Mao e tantos outros.

É tempo de comemorar, mas essa comemoração deve esclarecer, nunca entorpecer; a comemoração deve servir para relembrar, nunca para acomodar. Porque, por mais que tenha sido uma vitória espetacular, ela não foi de maneira alguma definitiva. Basta ver em quantos países o canto de sereia do socialismo volta a ser ouvido (como no triste e próximo exemplo da Venezuela) para se ter certeza: o pior inimigo da raça humana continua à espreita, apenas aguardando uma oportunidade para atacá-la.

Celebremos a derrota absoluta do socialismo, espetacularmente simbolizada pela queda do Muro de Berlim. Mas celebremos lembrando, como disse Wendell Phillips, que o preço da liberdade é a eterna vigilância.

domingo, 8 de novembro de 2009

Barra Bonita







Quem diria, tão perto de São Paulo... A segunda maior barragem fluvial, depois do Canal do Panamá:



terça-feira, 15 de setembro de 2009

Aquecimento Global e Controle de Natalidade

Qual a melhor forma de se evitar a degradação do meio ambiente e, em especial, o famoso aquecimento global? Pesquisa recente deu respaldo científico ao que todo mundo já sabia: o maior problema é o excesso populacional; a grande solução, portanto, é o controle de natalidade.

Há gente demais no mundo – e esse é o maior fator na produção de poluentes.
A espécie humana é vítima de seu próprio sucesso. Sua capacidade de adaptação e a criação de tecnologias (produção agrícola, vacinas, saneamento...) lhe permitiram reproduzir-se num compasso tão grande que está pondo em risco o planeta inteiro. A urbanização e a produção de bens e alimentos para um contingente populacional tão grande é o verdadeiro vilão dos problemas ambientais.

Agora, a London School of Economics acaba de lançar o relatório Fewer Emitters, Lower Emissions, Less Cost (algo como "Menos Emissores, Emissões Mais Baixas, Custo Menor"). Veja a íntegra aqui: http://www.optimumpopulation.org/reducingemissions.pdf

O relatório mostra que o controle de natalidade é o mais eficiente meio de reduzir o impacto do ser humano no ambiente – e, também, é o mais barato.
O estudo foi encomendado pela ONG britânica Optimum Population Trust (OPT) para que seja distribuído às delegações que participarão da reunião das Nações Unidas (ONU) sobre o clima em dezembro, em Copenhague.

Com base nesse estudo, a OPT pretende que o assunto controle de natalidade seja incluído nos debates – no momento, esse é um ponto olimpicamente ignorado toda vez que se discute o tema, qualquer que seja o fórum. Os dados apontam que há “dez mil novos emissores de carbono por hora, 1,5 milhão por dia, 80 milhões por ano” – por emissores de carbono, entenda-se “habitantes” mesmo.

Na análise de custos, a OPT concluiu que cada US$ 7 investidos em controle de natalidade nos próximos 40 anos reduziriam as emissões globais de CO2 em mais de uma tonelada. A pesquisa compara a esse valor o preço calculado por um estudo recente da consultoria McKinsey sobre o custo de mudar-se a matriz energética para a chamada “economia de baixo carbono”, estimado em US$ 32 por tonelada (em 2020).

Já o cálculo do estudo da OPT considera apenas o investimento necessário para atender a demanda não atendida de cerca de 200 milhões de mulheres que engravidam indesejadamente todo o ano. Ou seja, ninguém está sequer cogitando nenhuma media cruel ou ilegal de redução forçada de natalidade: bastaria apenas que houvesse investimentos em planejamento familiar para aqueles que assim desejassem.

O relatório cita um levantamento da ONU que afirma que se essas mulheres tivessem acesso a métodos de contracepção, o número de partos no mundo cairia 72%, o que reduziria as expectativas de população mundial em 2050 em meio bilhão de pessoas.

Além disso (e saindo um pouco dessa pesquisa), as estatísticas vêm reiteradamente mostrando que índices de natalidade excessivamente altos caem de maneira brusca com o simples aumento da educação da população – ou seja, basta dar acesso à educação para que a natalidade naturalmente caia, sem nenhuma necessidade de idéias delirantes de controle forçado. Educação e investimento em planejamento familiar, portanto, são a combinação perfeita.

Quem diria... Camisinha não apenas protege contra AIDS, mas também salva o planeta!!... :-)

domingo, 6 de setembro de 2009

Sendo Prudente


Há alguns dias, recebi esse texto de uma amiga... A autora é a psicóloga Thaís Sá Pereira e Oliveira. É um pouco longo, mas vale a pena.


SENDO PRUDENTE

Vou falar aqui sobre indivíduos que são, comumente, vistos como lobos com pele de cordeiros. São indivíduos que tendo um mau caráter, sabem encobrir isso muito bem. É possível encontrá-los em qualquer lugar, por mais selecionado que seja. Tanto podem ser homens como mulheres, jovens ou maduros. As características básicas são o desejo de usar os outros para atingir seus objetivos e o fato de não se sentirem culpados por agir dessa maneira. Eles aparecem e desaparecem sem dar explicações, e não se preocupam com a reação de decepção e tristeza que podem provocar em parceiros ou amigos com esse tipo de comportamento. Na verdade, são raros e tênues os vínculos afetivos que chegam a estabelecer.

Através de um site de relacionamentos é possível se topar com um tipo desses. Repetindo: eles estão em todos os lugares. Quem sabe, lendo a respeito, fique mais fácil reconhecê-los? Na coluna, tenho feito, seguidamente, explanações sobre os riscos de contato com pessoas que possuem esse perfil. Raramente, chegam a um consultório para tratar-se, uma vez que seu modo de agir não lhes provoca mal-estar ou ansiedade.

Por não apresentarem os sintomas que caracterizam doentes mentais graves, como alucinações, delírios etc., os psicopatas respondem perante a lei pelos crimes cometidos, e recebem penas semelhantes às de um infrator comum. Da mesma forma, seu comportamento pode ser semelhante ao de um cidadão comum. Por isso, é necessário que se esteja atento a certos indícios que podem revelar essa disfunção de caráter. Tentarei, aqui, descrever seu modo de se apresentar.

Dificilmente, as pessoas que sabem quem são esses indivíduos fazem comentários a respeito deles, por temerem retaliações; não ignoram que por debaixo da capa de cordeiro se escondem seres humanos perigosos dos quais é preferível manter distância. No trabalho, mostram-se prestativos e sedutores, visando conquistar a simpatia de todos e ocultar sua patologia. Quando, por algum delito, chegam a ser encarcerados, sabem liderar seus companheiros e sofrem poucos danos. Em presídios manicomiais, costumam destacar-se por bom comportamento, ajudando médicos, psicólogos, enfermeiros e doentes. Sua meta é: 1) ser visto como tendo um bom coração; 2) ter prerrogativas que outros não têm; 3) verem encurtada sua pena.

Vale a pena desconfiar de homens ou mulheres particularmente envolventes, que captam detalhes da realidade que passariam desapercebidos à maioria das pessoas. Eles costumam perceber, com grande facilidade, os pontos fracos daqueles que estão em sua mira; têm um faro especial para descobrir o que agrada aos que lhes interessam assim como o que fazer para se tornarem, eles mesmos, agradáveis. Os psicopatas costumam fazer amizade e tornar-se íntimos com extrema facilidade; sabem pinçar as pessoas que irão ajudá-los a penetrar em lugares que lhes pareçam importantes e que eles não teriam condições de freqüentar por seus próprios meios. Buscam, também, obter informações privilegiadas para atingir seus objetivos ou mostrar às demais pessoas o seu prestígio.

Outra vantagem de se tornarem íntimos de indivíduos socialmente valorizados é a perspectiva de ter como chantagear os que sabem demais a seu respeito. Não têm nenhuma dificuldade em se adaptar a situações novas e mentem de forma convincente. Na relação com as mulheres que se propõem a explorar, aparecem, em geral, como totalmente disponíveis, o que as encanta.


Convencem-nas a mudar-se para a casa delas com naturalidade, e parecem manter com elas um estreito vínculo afetivo. Isso não impede que, de acordo com suas necessidades ou caprichos, inventem, subitamente, situações de atrito, fazendo-se de vítimas, com o intuito de justificar uma alteração de comportamento e retirar-se, tranqüilamente, indo se alojar, por exemplo, na casa de outra mulher, cuja aproximação lhes pareça mais promissora. Ao irem embora, podem levar consigo algum objeto, por menor que seja o seu valor, para mostrar a si mesmos e às suas vítimas seu poder e o desprezo que sentem por elas.

Os psicopatas dobram-se perante a lei quando esta chega a representar perigo à sua integridade física ou à sua liberdade. Precisam sentir-se ameçados e respeitam quem tem poder para contê-los ou para oferecer-lhes o que desejam. Quando as coisas não dão certo, eles são capazes de deprimir e procurar ajuda. Tais crises duram, porém, pouco tempo e o que acontece é a abrupta interrupção do tratamento. Se não forem acossados, podem optar por alimentar nos outros a impressão de que são vítimas inocentes de má sorte ou de injustiças sociais, e preservam sua face de “cordeiro”.

Há homens que não chegam a fazer ameaças violentas e agressivas mas manipulam suas presas de forma perigosa. Nos dias atuais, mulheres bem posicionadas profissionalmente, narcisistas e onipotentes (que se crêem capazes de tudo conseguir), podem ser incapazes, por "arrogância", de reconhecerem que estão sendo usadas. Deixam-se enredar por homens que lhes tiram não só dinheiro, mas que recebem presentes e favores: camisas caras, sapatos importados, perfumes, viagens românticas a locais sofisticados, carros, programas em restaurantes ou lugares dispendiosos que não teriam como freqüentar. Muitos fazem tentativas de estabelecer negócios em que a mulher é convidada a entrar com o capital. Normalmente, não levam adiante seus projetos, causando grandes prejuízos a quem confia neles e os financia.

Um dos cuidados desses homens é tentar afastar suas parceiras de amigos inteligentes e experientes. Comumente, são contra a idéia de que elas façam uma terapia por temerem que sejam esclarecidas a respeito da relação que estão mantendo com eles. Sabem que há o risco de uma terapia ajudá-las a sair de uma posição de negação da realidade e reconhecerem o que está praticamente claro e evidente, mas que elas, inconscientemente, não querem perceber. A terapia teria como efeito levar a “vítima” a escapar ao controle deles. Muitas das mulheres que se relacionam com esses tipos estão sujeitas a entrar, mais cedo ou mais tarde, crises depressivas causadas por sentimentos de impotência e vergonha. Muitas vezes, é o medo da solidão que sustenta esses relacionamentos.

Soube de homens que ficaram muito irritados quando descobriram que a mulher estava fazendo terapia. O motivo é que ela estava gastando o dinheiro dela consigo mesma, o que era considerado por eles como um desperdício. Na cabeça deles, dinheiro bem empregado é o que é gasto com eles... Esses mesmos homens costumam alimentar vários casos paralelos com mulheres em geral sem posses, que não lhes despertam inveja. Fazendo isso, tripudiam, mesmo que de forma oculta, sobre aquelas que exploram e invejam.

Sem dúvida, há mulheres jovens e maduras também psicopatas. Representam, igualmente, perigo a homens pouco experientes ou incapazes, por um problema de "negação", de perceber que entre eles e o objeto cobiçado existe uma autoconfiança patológica da parte deles, que os cega e que os fará derrapar e levarem um tombo cujas consequências podem ser graves. Homens também se apaixonam e são vítimas de mulheres sem caráter, que usam a beleza e o sex-appeal para enredá-los.

Você dirá que é difícil discernir um/a psicopata de uma pessoa equilibrada que apresente algumas das características aqui mencionadas. Sim, não é fácil, sobretudo se você for onipotente, arrogante e desatento. Bem, meu conselho é: atenção e prudência. Dei aqui várias pistas que devem ser observadas. A regra é: precaver-se. E uma das regras básicas de proteção pessoal é não hospedar em casa nem no coração, pessoas desconhecidas. Para isso, é preciso que se saiba diferenciar uma pessoa conhecida de uma desconhecida. Aquele que é incapaz de estabelecer essa diferença dá provas de não estar preparado para lidar com a realidade de forma adequada, expondo-se a sérios riscos. A pessoa dita de “boa-fé”, “ingênua”, é, na verdade, indiscriminada, e pode ser considerada mais prejudicada quanto à sua saúde mental do que uma outra com traços paranóides (que vê perigo em tudo), posto que o mundo está visivelmente violento e ameaçador.

O desinteresse pelo que acontece em torno de si, a aversão em ver programas em que são exibidos fatos violentos do cotidiano, e a recusa a ler notícias que trazem fatos desagradáveis do dia-a-dia indicam também um tipo de patologia em que a negação da realidade (gênero avestruz) coloca os cidadãos mais expostos a situações de risco. Isso acontece quando a pessoa se toma como invulnerável, sentindo-se destacada do mundo em que vive, como se a vida fosse um filme ao qual ela assiste tão protegida como um espectador. Espero que aproveite esta leitura e que reflita sobre sua boa-fé, sobre a presença ou não de onipotência (confiança exagerada em si mesmo) em você. Uma visão superficial dos fatos nos deixa sempre mais expostos aos perigos que sempre existem quando se vive em sociedade.

Thaïs Sá Pereira e Oliveira, psicóloga (CRP: 1821/05), psicanalista da Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle (Rio de Janeiro) e da Federação Internacional de Sociedades Psicanalíticas (Nova York).

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Procurando Ladislaw Wypych




No final dos anos 20, o polonês Ladislaw Wypych estava diante de uma difícil decisão. Seu país sofria os rigores da Grande Depressão num grau ainda maior do que o resto do mundo, já que a independência da Polônia era recente e a economia ainda estava longe de ser minimamente estável quando a crise estourou. O desemprego era tão epidêmico que havia programas oficiais estimulando a emigração; somente assim, dizia-se, iria haver empregos para os que ficassem. E os que emigrassem poderiam ser bem sucedidos em outros países, ajudando a Polônia com o envio de recursos e, quem sabe um dia, voltando em definitivo, talvez ricos até.

Sem nenhuma perspectiva em seu próprio país, Ladislaw ponderou bastante e, como tantos outros europeus na primeira metade do Século XX, decidiu emigrar – uma terrível decisão que implicava em abandonar, de uma só vez, tudo que conhecia e amava, incluindo família e amigos, incluindo até a própria língua. Ladislaw veio para o Brasil, sem falar uma palavra de português e carregando pouco mais do que as próprias roupas.

Talvez ele tenha pensado em trabalhar, como primeira opção, na polícia ou como segurança. Veterano da Guerra Polaco-Soviética, tinha muita experiência no assunto – e tinha, também, várias cicatrizes no peito para provar. A única explicação para que ele continuasse vivo é que a metralhadora que o atingira devia estar além do limite de alcance útil, porque era impossível que alguém com tantos “furos” no peito pudesse ter sobrevivido. Mas as balas (ou estilhaços, ninguém sabe ao certo) haviam penetrado, as cicatrizes estavam ali para provar e ainda assim ele tinha sobrevivido. Aliás, essas balas alemãs que o perfuraram possivelmente tiveram, para ele, uma dor adicional à de seus compatriotas, já que seu pai era polonês, mas sua mãe era alemã.

De qualquer maneira, esse polonês corajoso veio para o Brasil e, aqui, como é tão comum nesse incrível caldeirão planetário chamado São Paulo, se apaixonou por uma italiana – uma baixinha briguenta que soltava impropérios no incompreensível dialeto da Calábria toda vez que se irritava com ele (o que, dizem, ocorria com bastante freqüência).

Os dois se casaram, tiveram uma filha e, conforme a década de 30 ia se aproximando do fim, a recessão mundial parecia definitivamente vencida; o mundo progredia, a economia do Brasil também e era difícil imaginar que algo pudesse ameaçar a família que Ladislaw criara tão longe de sua terra natal.

Porém, em 1º de setembro de 1939, tropas nazistas invadem a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial. Poucos dias mais tarde, os soviéticos covardemente atacam pelo leste, obrigando o desestruturado exército polonês (montado às pressas depois da independência) a ter de enfrentar, ao mesmo tempo, as duas maiores potências militares da época.

Ladislaw se desespera. Os velhos inimigos – alemães e russos – estão, mais uma vez, tentando jogar a Polônia de volta à escravidão, da qual ela saíra tão recentemente e a custa de tantos sacrifícios. Esses velhos inimigos, porém, estão mais perigosos do que nunca: agora compartilham credos doentios de fanatismo coletivista (o nacional-socialismo e o socialismo bolchevique, tão diferentes nos detalhes e tão idênticos na essência).

Era de conhecimento geral que a resistência do exército polonês não faria mais do que adiar o avanço dos nazistas e comunistas. Essa resistência, que reconhecidamente foi além de todos os limites do heroísmo, deteve os invasores por mais tempo e a um custo muito maior do que qualquer um poderia sonhar – mas o fato é que era uma guerra perdida antes mesmo de começar. As poucas armas dos poloneses eram sobras da Primeira Guerra; enquanto que os nazistas, além de uma superioridade numérica esmagadora, tinham armas, táticas e equipamentos que estavam décadas à frente de todo o resto do mundo. Já os soviéticos dispunham, só na chamada “frente polonesa”, de um exército pouco menor do que toda a população da Polônia.

Com família, nacionalidade e patrimônio brasileiros, com uma vida toda estruturada no Brasil, não faria o menor sentido pretender voltar à Polônia – algo que, aliás, nunca lhe fora pedido por ninguém; além disso, àquela altura a guerra já estava perdida. Ninguém jamais saberá quão difícil foi a escolha de qual caminho seguir, mas o fato é que o velho soldado decide abandonar tudo, inclusive a filha de dois anos, e volta à Europa para proteger os que haviam ficado.

Algumas semanas depois, sua desesperada esposa recebe uma carta; nela, há uma foto de Ladislaw, vestido (“fantasiado”, diria ela mais tarde) de cozinheiro. “Não se preocupe”, dizia ele, “minha atividade aqui é de cozinheiro, e por isso fico longe da linha de fogo”. Ela não precisava lembrar das cicatrizes de bala para saber qual exatamente era o tipo de atividade que ele teria no front; o fato de que ele nunca soubera nem fritar um ovo era suficiente. Além, é claro, de que várias outras esposas de soldados, vizinhas dela no Cambuci, também haviam recebido fotos quase idênticas, com os respectivos maridos com as mesmas roupas, na mesma posição ridícula (ao lado de uma panela enorme, e com uma colher de pau empinada) e com a mesmíssima explicação sobre a segurança proporcionada pelo encargo de “chef”. “Mentiroso maledeto!”, teria dito ela, acompanhada pelas demais.

Essa foi a penúltima notícia que ela teve do marido. A última foi uma carta recebida meses depois, escrita em polonês, informando que ele tinha morrido em combate; ela, claro, sabia do conteúdo antes mesmo que uma das vizinhas viesse traduzir. Ladislaw Wypych tinha morrido no campo de batalha, lutando contra os invasores nazistas.

Em maio de 2009, visitei a Polônia; um dos objetivos da viagem era tentar descobrir qualquer informação adicional sobre as circunstâncias da morte de Ladislaw Wypych, meu avô. Sua filha de dois anos era minha mãe. Não tive sucesso na empreitada, mas vou continuar tentando. Aliás, é um ótimo motivo para retornar a esse país maravilhoso, e cada vez mais belo e desenvolvido em que a Polônia, finalmente livre de nazistas e comunistas, está se tornando.