terça-feira, 13 de março de 2012

Flex bom mesmo vai ser flex com turbo


Muito já se disse sobre todas as mazelas do Pro-álcool e todo o dinheiro que o país desperdiçou com subsídios estatais para satisfazer os delírios de “Brasil potência” da ditadura militar – que incluíram, até, a grave crise de abastecimento de 1989. Tempos depois, com o fim do subsídio, o álcool etílico se tornou competitivo graças ao próprio mercado (como sempre deveria ter sido...), via melhorias na produção e aumento do preço do petróleo. Hoje, sem subsídio nenhum, o etanol tem custo atraente em boa parte do país, mesmo com o preço da gasolina e do diesel artificialmente baixos. Pois é, o preço dos derivados de petróleo é artificialmente segurado graças a – de novo! – decisões populistas que vão custar caro no futuro. (Não vou tratar do fato de a gasolina brasileira, além da baixíssima qualidade, estar entre as mais caras do mundo; o preço dela está “baixo” para os patamares brasileiros, bem entendido).

De qualquer maneira, o fato é que as fabricantes (por favor, jamais chame uma fabricante de “montadora”. Elas não juntam pecinhas de Lego...) de veículos oferecem quase 100% dos veículos feitos aqui a tecnologia “flex”, ou seja, a possibilidade de usar gasolina, etanol ou qualquer mistura dos dois. Assim, seja qual for a barbeiragem que o governo de plantão faça, o consumidor sempre tem a opção de escolher qual combustível quer (só por curiosidade, lembram do Siena Tetrafuel, que também rodava com gás natural e gasolina sem álcool anidro?...).

Isso se consegue, essencialmente, graças a sistemas de injeção eletrônica bastante evoluídos. Eles detectam o tipo de combustível que está alimentando o motor em centenas de medições por segundo e o fornecem em quantidades muito precisas para aquela demanda de potência, naquele instante e com o tanto de ar necessário.

Tecnicamente, porém, esses motores enfrentam um problema sério: a taxa de compressão é fixa, determinada pela própria estrutura física do motor. Não há eletrônica que dê jeito nisso. Além disso, um motor que fosse especificamente projetado para o etanol poderia ter taxas de compressão muito mais altas do que a suportadas pelos motores que também trabalham com gasolina (poderíamos estar em algo como 14:1 ou até 15:1). O motor flex, obrigado a ficar num meio termo entre os dois combustíveis, acaba sendo menos eficiente do que o motor específico para um só (algo em torno de 35%; os flex ficam por volta de 30%).

Existem projetos complicadíssimos de motores que alteram sua taxa de compressão para resolver isso: uns modificam, em pleno funcionamento, a estrutura do bloco; outros alteram a forma e o tamanho do cabeçote (o da imagem acima é o Omnivore, da Lotus. Veja um vídeo legal do funcionamento dele aqui: http://www.youtube.com/watch?v=fIG9pWldO8U ). Penso que são exercícios interessantíssimos de engenharia, mas o resultado final vai ser, inevitavelmente, caro e complicado – e talvez pouco confiável na mesma proporção. A solução, penso, se chama turbocompressor.

O famoso turbo usa a energia que seria desperdiçada pelos gases de escapamento para girar uma turbina (daí o nome), que “sopra” mais ar para o motor – resolvendo o velho problema do fornecimento de ar dos motores aspirados. Não é à toa que, com turbo, motores pequenos conseguem potências só alcançadas por motores muito maiores.

Essa vai ser, penso, a solução definitiva para a maior eficiência do motor flex – e finalmente permitir o melhor dos dois mundos para o consumidor. Detectada uma gasolina de baixa qualidade, a central eletrônica baixa bastante a pressão do turbo; com gasolina melhor, a pressão pode ser aumentada. A tecnologia para fazer isso é simples; o Golf GTi já dispunha dela há tempos – e era exatamente por conta da qualidade da gasolina que sua potência variava entre 180cv e 193cv.

Adaptar essa tecnologia para o etanol será razoavelmente fácil; o maior desafio vai ser produzir bicos injetores que suportem um “delta” tão largo (uma variação entre as quantidades de gasolina em marcha lenta até as quantidades extremas de etanol puro em aceleração máxima). Comparado ao desafio inicial do próprio flex, porém, esse vai ser moleza.

O flex turbo pode ser preparado para economia em carros populares; para potência em esportivos; ou para um misto dos dois, ou até, em carros mais caros, em opções selecionáveis pelo motorista entre um extremo e outro. Nos luxuosos e esportivos o turbo já é usado há muito tempo; com essa tecnologia se tornando cada vez mais popular, está mais do que na hora de termos um turbo, de fábrica, que aproveite as qualidades superiores do etanol. Quem tem turbo “mexido” entende bem dessas vantagens... Só falta a confiabilidade de fábrica!

Isso, claro, até os híbridos com turbinas não se tornarem a regra no mercado... Como este aqui: http://www.jaguar.com/gl/en/about_jaguar/project_c-x75/innovation ! A turbina, por não ter movimento reciprocante, apenas giratório, dura mais e tem eficiência muito maior do que os motores a pistão... E o “flex”, nesse caso, é bem mais radical: ela aceita gasolina, etanol, metanol, diesel, biodiesel, gás natural...

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Doutor é quem fez doutorado (ou “às vezes a vaidade é maior do que a própria lei”)



Do mesmo modo que existem as “lendas urbanas”, existem também no mundo do Direito as “lendas jurídicas” – histórias claramente absurdas mas que, por motivos que a razão ignora, vão se perpetuando no tempo e às vezes até adquirindo ares de verdade incontestável. Uma, em particular, é especialmente resistente, talvez por conta de costume arraigado (mas nem por isso menos errado), talvez por causa da invencível vaidade humana: a de que bacharéis em Direito “mereceriam” (vaidade, sempre a vaidade...) ser chamados de “doutores”.

As origens da lenda variam conforme o “contador do causo”; às vezes o motivo da pérola seria um “decreto real de Portugal” (hein?), noutras um “alvará” (ai, socorro...) que “determinaria” que “bacharel também é doutor” (socorro ao quadrado...). A versão mais famosa, porém, é a de que D. Pedro I, na mesma lei que determinou a criação dos cursos jurídicos, “inventou” que o bacharel teria o “direito” ao título de doutor.

A história, claro, é completamente falsa. Para não alongar muito, vamos logo à letra do texto da Lei de 11 de Agosto de 1827, que é a norma que criou os cursos de Direito no Brasil (em Olinda e no Largo de São Francisco – esse é o motivo, a propósito, de por que 11 de agosto é o dia do estudante e também o dia do advogado):

Art. 9.º - Os que freqüentarem os cinco annos de qualquer dos Cursos, com approvação, conseguirão o gráo de Bachareis formados. Haverá tambem o grào de Doutor, que será conferido áquelles que se habilitarem com os requisitos que se especificarem nos Estatutos, que devem formar-se, e sò os que o obtiverem, poderão ser escolhidos para Lentes.

Ou seja, a lei dizia exatamente O CONTRÁRIO do que afirma a lenda: quem se forma no curso de Direito tem grau de “bacharel”, enquanto que o título de doutor seria reservado àquele que obtivesse tal grau, segundo as regras que seriam estabelecidas para isso pelos estatutos das faculdades recém-criadas – ou seja, o obtivessem no curso de doutorado. E só quem tivesse o grau de doutor poderia ser escolhido como “lente” (o que hoje seria o “livre-docente”).

Uma variação ainda mais absurda da lenda dizia que a “habilitação de doutor” não seria o curso de doutorado, mas sim o ingresso na OAB (ó, resistente vaidade...). Quem inventou essa bobagem não se deu ao trabalho de pesquisar alguns segundos na internet e descobrir que a OAB só foi criada no anos 1930, ou seja, mais de cem anos depois da promulgação da lei...

É óbvio que essa lei não está mais em vigor, mas o importante é notar que NUNCA existiu a norma que a lenda propaga. Em tempos outros, talvez fosse justificável a dúvida, dada a dificuldade de se saber se uma lei antiga existiu mesmo ou não. Nos tempos atuais, em que tudo está ao alcance e ao tempo de um clique, é difícil entender como uma tolice dessas proporções continua fazendo adeptos.

Não acredita? Veja a íntegra da lei aqui:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_63/Lei_1827.htm

“Mas e o costume?”, dirão alguns. Ora, também há um “costume” de se dizer “menas” e é errado na mesma proporção.

Que leigos cometam esse erro é compreensível; não houve ninguém a ensiná-los. Temos nós, que tivemos a oportunidade de estudar, o dever de esclarecer a quem assim desejar. Pior (muito pior) são professores de direito propagarem o erro – aí é imperdoável.

Enfim, advogado não é doutor. Juiz não é doutor (a propósito, aproveite e pare de chamá-lo assim no endereçamento das petições!). Médicos e quaisquer outros profissionais também só serão doutores se e somente se cursarem uma pós-graduação stricto sensu chamada “doutorado” (ó, incrível descoberta!).

Uma questão final: “doutor” é título acadêmico. “Doutor” não é “pronome de respeito”, nem muito menos título profissional. Então, mesmo que tenha doutorado, só faz sentido chamar alguém de doutor no ambiente acadêmico, não no profissional. Se um advogado tiver título de mestre, o juiz deve chamá-lo de “mestre” na audiência? Ou o promotor ao juiz, ou este ao delegado? Claro que não. Então, é exatamente da mesma forma para o título de doutor. Ou, mais claro ainda: se fora do ambiente profissional o juiz tiver o hobbie de colecionar selos, você vai incluir isso no endereçamento da petição?...

Então, de uma vez por todas, diga não às lendas! :-)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Voto Distrital: vereador de luxo?


Sir Winston Leonard Spencer-Churchill foi, na opinião de muita gente (e eu me incluo entre eles), o maior estadista do século XX. Desde muito cedo tentou alertar o mundo sobre o perigo que representavam Hitler e seu nacional-socialismo, foi peça chave durante todo o decorrer da guerra e teve enorme importância na vitória final dos aliados. Talvez ele tenha sido, isoladamente considerado, o maior responsável por essa vitória – o que significa, em última instância, que é em grande parte graças a ele que eu, você e o resto do mundo não sejamos, hoje, escravos em um campo de concentração nazista. Churchill já tinha seis livros publicados aos 26 anos, foi um dos maiores oradores de todos os tempos e foi ainda vencedor do Prêmio Nobel de Literatura (1953) por sua espetacular obra “A Segunda Guerra Mundial”.

A par desses fatos largamente conhecidos, há dois outros que quero destacar aqui: 1. ele iniciou sua carreira política como deputado e 2. como é sabido, os deputados no Reino Unido, da mesma forma que na maioria das democracias consolidadas, são eleitos com base no voto distrital. Churchill, o insuperável estadista que enfrentou e venceu o nazismo, foi eleito pelo voto distrital.

Nos debates sobre reforma política de que tenho participado, um dos argumentos que alguns tentam usar contra o voto distrital é que essa forma de eleição transformaria o deputado em algo que chamam de “vereador de luxo”. E a primeira coisa em que penso quando ouço isso é, justamente, em Winston Churchill.

Claro, bastaria isso para encerrar a questão – teria sido Churchill então um “vereador de luxo”, seja lá o que isso signifique? Mas vamos aprofundar um pouco a discussão.

Como se sabe, o sistema de voto distrital divide os eleitores em grandes distritos, e cada um desses distritos elege seu deputado – o que gera incontáveis vantagens sobre o sistema absurdo de “voto proporcional” que o Brasil utiliza atualmente. Para alguns críticos, porém, o voto distrital faria imediata e automaticamente (para não dizer “por mágica”) com que o deputado, ao invés de se preocupar com as grandes questões nacionais, fosse cuidar apenas das picuinhas de seu próprio distrito.
Mas há então que se perguntar: o que gera essa vinculação entre uma coisa e outra? Qual é, exatamente, a relação de causa e efeito entre elas? Ora, nenhuma, rigorosamente nenhuma. A escolha do deputado é, sim, feita no distrito, mas porque diabos o deputado iria se preocupar somente com os problemas do distrito? Só mesmo mágica para explicar essa pretensa relação.

Os eleitores daquele distrito obviamente estão preocupados com as grandes questões nacionais – saúde, educação, corrupção, segurança, inflação. Então, se o deputado quiser se reeleger na próxima eleição, ele vai ter de se preocupar com elas também. Se, ao contrário, ele pretender ter um péssimo resultado eleitoral, basta agir como o tal “vereador de luxo”. Numa democracia saudável, isso será suficiente para que a grande maioria dos eleitores de seu distrito nem pense em votar nele de novo.

É assim, aliás, que as coisas funcionam na maior parte das democracias do mundo (Estados Unidos, Japão, França, Itália, Austrália... e, claro, Reino Unido) e em nenhuma delas se tem notícia de que os deputados tenham deixado de lado as mais importantes questões nacionais para se tornarem “vereadores de luxo”. Isso simplesmente não aconteceu em nenhum desses países. Muito ao contrário: com a fiscalização superior proporcionada pelo voto distrital aos eleitores, os deputados ficam ávidos por “mostrar serviço” e fazer um bom trabalho exatamente nas grandes questões, não nas picuinhas. Eles sabem que a sobrevivência política deles depende disso.

Em resumo, a teoria não se sustenta e a prática demonstra o exato oposto. E Churchill, no especial lugar que lhe foi reservado no Paraíso, certamente dá boas gargalhadas toda vez que escuta essa conversa de “vereador de luxo”.

domingo, 25 de setembro de 2011

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A Arte do Risoto, ou como não arruinar um jantar



Risoto, além de ser um clássico, é sofisticado e nunca enjoa. Versátil, é possível fazer risoto de quase tudo (o que gera desde combinações brilhantes até invencionices intragáveis, mas deixa isso pra outra hora), fazendo dele o acompanhamento perfeito em qualquer jantar mais elaborado. É uma refeição tão rica que, conforme o caso, pode deixar de ser acompanhamento para se alçar a prato principal.

Apesar disso tudo, não é muito fácil de fazer. Existem boas receitas na internet, mas alguns cuidados são indispensáveis para um bom risoto. Vou explicar os principais.

O primeiro, como em qualquer receita, é a escolha dos ingredientes. Já vi bons risotos feitos com tipos variados de arroz, mas o clássico é mesmo o de arroz arbóreo. Ele contém uma quantidade de amido muito maior do que o arroz comum – e é esse amido, quando corretamente desprendido do grão, que dá ao risoto sua consistência pastosa característica. Não adianta tentar fazer risoto com arroz agulhinha: pode ficar um delicioso “arroz agulhinha com alguma coisa no meio”, mas definitivamente não será um risoto.

Todo o resto decorre daí: por ter mais amido, o risoto exige uma quantidade muito maior de água do que o arroz comum. Como regra geral, será algo próximo de três partes (volume, não peso) de água para uma de arroz (o arroz comum exige algo em torno de 1,5 para 1). Essa água precisa estar muito quente e ser adicionada aos poucos, justamente para que se consiga a liberação do amido.

Esqueça os caldos industrializados (aqueles que vêm em cubinhos) e faça o seu próprio. Se vai fazer, faça direito! Caso contrário, já compre de uma vez aqueles “risottos prontos”...

O outro ponto fundamental, que é normalmente onde todo mundo erra: risoto exige esforço. E é “esforço” físico mesmo, que significa mexer vigorosamente o arroz durante todo o processo. É cansativo, especialmente com quantidades maiores, e por isso muita gente desiste no meio da receita; só que, sem isso, nosso querido arroz arbóreo não libera seu venerando amido, fica duro por dentro e o resultado é um desastre. É exatamente por exigir tanto movimento com a colher que a água deve ser acrescida aos poucos, já que não há como mexer corretamente o arroz se toda a água for jogada de uma vez.

Os ingredientes adicionais (abobrinha, pato, frango, seja lá do que você for fazer o risoto) já devem estar cozidos (ou assados, ou o que você preferir) porque são juntados quando o risoto já está quase pronto. É outro erro comum achar que “tudo vai para a panela” e submeter a pobre da abobrinha à mesma tortura do arroz... Lembre-se: abobrinha não tem amido para liberar! Acredite em mim e também não tente extrair amido de pato, funghi, rúcula ou qualquer outra coisa que não seja o próprio arroz, ok?

A manteiga é essencial para o sabor e para a cremosidade; porém, por ser um ingrediente mais delicado, deve ser juntado somente ou final do processo (não, não dá certo jogar a coitada da manteiga no meio daquela água toda!) ou logo no começo, antes da água, para refogar o arroz (eu gosto de dividi-la na metade para fazer as duas coisas). O parmesão, pelo mesmíssimo motivo, só é juntado ao final. Ambos são mexidos para homogeneizar, mas com delicadeza.

O “ponto” do risoto exige atenção. Ele deve ser pastoso, mas o interior dos grãos tem de manter uma certa firmeza ao morder (“al dente”). Se ficar tempo de menos (ou com água de menos) os grãos ficarão muito duros e sem gosto; se cozinhar tempo demais (ou com água demais) vai deixar de ser “pastoso” e virar “quase sopa”. Com o tempo, você pega prática e vai saber o momento de tirar do fogo só de olhar; até lá, não se acanhe e vá experimentando a receita até chegar ao ponto certo.

Então, resumindo, se você quer fazer risoto, você precisa, essencialmente, da seguinte receita: boa matéria prima, conhecimento adequado e bastante esforço.

Receita, aliás, que se aplica a praticamente tudo de bom que existe na vida :-)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Corvette C7


Está confirmado: o Corvette de sétima geração (C7) chega em 2012, já como versão “2013” para comemorar os 60 anos do carro. Não se sabe exatamente como ele será, mas já foi divulgado que vai ser baseado no famoso “Corvette Concept”, exatamente aquele que fez rápidas aparições no filme Transformers II. Com base nesse conceito é que foi elaborada a imagem acima – como um reflexo do Geração II, o mítico Stingray. A propósito, o próprio nome “Stingray” deve ser retomado.

Pouco se sabe também sobre as especificações técnicas, mas “os boatos” dizem que várias partes metálicas vão ser substituídas por fibra de carbono para uma redução radical de peso. Além disso, fala-se que o comando de válvulas finalmente sairá do bloco e irá para o cabeçote (o que me faz supor que teremos novamente um Corvette multiválvulas, como já havia sido o C4 de série especial Z06). Presume-se, ainda, que o motor siga o caminho seguido pelos Corvettes de competição, em que a cilindrada diminui um pouco (de 6.2 para 5.5) em prol de maiores rotações.

Curiosamente, o mesmo V8 6.2 do Corvette básico (chamado de LS2) tem, em alguns outros carros (como o crossover Escalade), versões flexíveis (que lá rodam com E85 feito de milho). Seria bem interessante um Corvette que, além de multivávulas, também rodasse com álcool, não?...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Dez Mitos sobre Bin Laden



Por ser o homem mais procurado do mundo, era natural que surgissem lendas e mitos variados sobre Bin Laden. O jornalista Jason Burke, do The Guardian (veja a matéria original aqui: http://www.guardian.co.uk/world/2011/may/03/osama-bin-laden-10-myths-cia-arsenal), compilou os 10 mitos mais famosos sobre o terrorista:

1. Ele foi “criado” pela CIA
Osama Bin Laden nunca recebeu nem dinheiro, nem treinamento dos americanos. Seus seguidores também não. Os guerrilheiros “mujahedin” afegãos é que receberam, no começo dos anos 80. Bin Laden e sua turma chegaram ao Afeganistão bem depois (só para lembrar: menos de 10% dos membros do Talebã é afegão. O resto é todo composto de estrangeiros, especialmente da Arábia Saudita e Egito).

2. Ele teria uma enorme fortuna
Apesar de pertencer a uma das famílias mais ricas da Arábia Saudita, Bin Laden teve de deixar todos os seus bens quando saiu de seu país em 1991 em direção ao Paquistão (e depois ao Sudão). A família o deserdou pouco tempo depois.

3. Ele foi o responsável pela explosão, em 1993, no World Trade Center
O terrorista que realizou o ataque, Ramzi Youssef, trabalhava para Khaled Sheikh Mohammed, que só entrou na Al-Qaeda três anos mais tarde.

4. Ele enriqueceu com o tráfico de drogas
Apesar de essa acusação constar do estudo feito pelo governo britânico logo depois do 11 de setembro, nenhuma prova foi encontrada nesse sentido.

5. Ele nunca se expunha ao perigo
Apesar de ser falsa a história que ele gostava de contar a respeito de ter enfrentado sozinho um general soviético, testemunhas afirmam que ele participou de combates em Jaji, em 1987, e em Jalalabad, em 1989.

6. Ele passou a maior parte do seu período no Afeganistão se escondendo em cavernas
Apesar de ter se encontrado com jornalistas numa caverna em Bora Bora, ele vivia numa confortável fazenda próxima dali, na cidade de Hadda. Em 1999 se mudou para Kandahar e, seis anos depois, para o lugar onde foi encontrado pelos americanos. Não há nenhuma prova de que ele tenha morado em cavernas.

7. Ele levava uma vida de farra em Beirute antes de se tornar religioso
Não há nenhuma prova nesse sentido: tudo que se apurou indica, ao contrário, que ele era tímido e quieto. Ele se casou jovem e passava muito tempo lendo textos religiosos.

8. Ele estava à beira da morte por causa de uma doença nos rins
Havia relatos de a respeito de algum problema nos rins mas certamente nada que pudesse levá-lo à morte. Suas dores nas costas eram, provavelmente, originárias da sua altura (1,95m) e de sua vida quase sedentária.

9. Ele ordenou ataques na Chechênia, nas Filipinas, na Indonésia e teria uma vasta rede de terrorista ao sul do Saara, na África do Sul e até no Paraguai
Vários governos e agências de inteligência fizeram essas afirmações, mas nenhuma prova nesse sentido foi encontrada.

10. Ele torcia pelo time de futebol Arsenal, da Inglaterra
A torcida desse time grita “Osama, Osama, está escondido em Cabul e ama o Arsenal”; apesar disso, não há nenhuma prova de que ele se interessasse pelo futebol britânico.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Obama Pegou Osama...


E, claro, agora pululam os mitos e as teorias de conspiração. Há quem diga que se trata, somente, de uma jogada eleitoral para favorecer o atual presidente. É mesmo? Fácil assim? Ora, então porque o presidente anterior não fez isso?... John McCain, seu candidato à época, bem que precisava de uma mãozinha!...

Segundo o jornal O Estado de São Paulo, chega a 80,46% o número de leitores que duvidam que Osama tenha morrido. Veja-se: não se trata de analfabetos ou ignorantes, mas de leitores de um jornal de prestígio... A justificativa geral é de que “não acreditam no governo americano”. Mas quem disse que precisam? Também não acreditam na Al Qaeda, que confirmou a morte? Não acreditam na esposa de Bin Laden, que declara que ele morreu na frente dela?

Deveriam, então, ao menos acreditar no próprio Osama: se estivesse vivo, obviamente faria questão de gravar mais um de seus vídeos e expor os inimigos a um gigantesco ridículo. Aliás, era exatamente o que ele sempre fazia toda vez que surgia um novo boato de que ele estava morto ou muito doente.

Talvez, então, ele não esteja morto, mas apenas preso – o que evitaria os vídeos. O risco, porém, de a história vazar, ou mesmo de ele escapar, seria tão alto que é difícil acreditar que alguém fosse estúpido o bastante para tentar algo desse gênero.

Claro que foto, DNA ou qualquer outra prova continuaria sendo inútil para muita gente: os que gostam de achar que “sabem coisas que ninguém mais sabe” acreditam em qualquer bobagem, desde que lhes dê esse gosto de exclusividade – de Papai Noel a invasão alienígena.

Outro fato bem interessante, trazido pelo mesmo jornal pelas mãos da correspondente Adriana Carranca, que vive em Cabul: os afegãos comemoram a morte de Osama muito mais do que os americanos. Não é para menos, se lembrarmos que os ataques de 11 de setembro nos EUA não são, na essência, diferentes do tratamento que o Taleban impunha ao povo afegão.

Como não faltam mitos sobre Bin Laden, no próximo texto vou abordar alguns. Até!

(Ah, claro, alguém reparou o dia em que a morte de Bin Laden foi anunciada? Não? 1º de maio não lhe sugere nada?...
...
Ocorre que esse é o mesmo dia em que se anunciou a morte de Adolf Hitler......
Mais um prato cheio para teorias da conspiração, numerologias e outras bobagens...)...

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Mais uma teoria da conspiração...


Para os que gostam de teorias da conspiração: a Sra. Catherine Middleton, a partir de hoje Duquesa de Cambridge e futura rainha da Inglaterra, morou durante um bom tempo na Jordânia e é fluente em árabe...

Espaço aberto para conjecturas, teorias e especulações :-)

(Enquanto isso, na Síria, que é o que realmente importa, continua difícil de saber quais vão ser os desdobramentos dos protestos, ou se as sanções aprovadas vão surtir algum efeito).

terça-feira, 22 de março de 2011

Um Velhinho em Boston



Sim, existe um velhinho em Boston! Há muitos, é claro, mas esse é especial. Miúdo, meio encurvado pelo peso de seus 83 anos, ele é simpático e de extrema gentileza; quase patologicamente tímido, nunca se casou nem teve filhos. Mora numa casa muito simples, de tijolos aparentes, num bairro operário no lado leste de Boston, onde planta orquídeas e tenta arrumar espaço suficiente para as várias pilhas de livros.

Gene Sharp, além de plantador de orquídeas, é o homem que ajudou o Egito a derrubar Hosni Mubarack. Também é o homem que ajudou a Sérvia a derrubar Slobodan Milosevic e mais um punhado de outras ditaduras.

Seu trabalho já era conhecido antes da revolta egípcia, mas é esta a que agora está lhe dando o status de celebridade. Do alto de sua timidez intensa, ele obviamente não dá a mínima para isso; as ditaduras do mundo, ao contrário, estão com cada vez mais preocupadas com suas idéias e com a velocidade com que elas se expandem.

Desde 1972, Sharp é professor de ciência política na Universidade Dartmouth, em Massachusetts. Fascinado pelo pacifismo de Einstein e pela doutrina de “resistência não-violenta” de Gandhi, ele resolveu estudar a fundo a natureza e a fonte de poder das ditaduras – e como elas poderiam ser combatidas. Seu trabalho de doutorado foi defendido em 1968 e publicado em 1973 sob o nome de “As Políticas de Ação Não-Violenta”. Com base nos elementos elaborados nesse trabalho, ele escreveu outro, bem curto, direto e acessível, para servir de “guia” aos povos oprimidos: Da Ditadura para a Democracia, traduzido para mais de sessenta idiomas e facilmente encontrado na internet.

É fato que as “mídias eletrônicas” (em especial Twitter e Facebook) foram ferramentas importantes para os revoltosos do Egito e da Tunísia, algo que a imprensa do mundo todo tem dado muita ênfase. Mas o quê, exatamente, eles comunicavam por esses meios? O que se divulgava, além de que vinagre e suco de limão no lenço ajudam a minimizar os efeitos do gás lacrimogêneo? A resposta é: as idéias de Sharp.

Segundo ele defende, o poder realmente emana do povo, e nenhuma ditadura consegue se manter indefinidamente se for baseada somente na força. Se perder o apóio popular, e se essa retirada de apóio for feita de forma organizada e planejada, nenhuma ditadura se sustenta – e Da Ditadura para a Democracia explica, de forma simples e detalhada, o passo-a-passo de como isso pode ser feito.
A resistência pacífica, segundo Sharp, não é apenas moralmente melhor do que o combate pela violência: é mais eficaz. O uso da força é o campo da ditadura, e dificilmente os defensores da democracia podem ser páreo para ela nesse seu terreno próprio. Minar suas fontes de poder, ao contrário, sem uso de armas, é muito mais eficiente.

Muito antes das revoltas no Oriente Médio, o trabalho de Sharp já era o livro de cabeceira dos movimentos de libertação na Sérvia e em várias das ex-repúblicas da URSS. O movimento Otpor, da Sérvia, chegou a receber treinamento diretamente do instituto de Sharp (o Albert Einstein Institution, cujo site está aqui: http://www.aeinstein.org/ ).

Tal qual seus colegas do leste europeu, o Otpor (que em sérvio significa “resistência”) teve um papel fundamental na queda de ditaduras que até então pareciam invencíveis (nesse caso, a do ditador-genocida Slobodan Milosevic). Não é à toa que, tão logo começou a se organizar, a juventude no Egito tenha procurado auxílio e treinamento com os militantes do Otpor – e o manual básico de todo o planejamento da revolta tenha sido o livro de Gene Sharp.

Nada mau para um velhinho introvertido!... :-)

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Dominó no Oriente Médio?

Depois dos atentados terroristas em Nova York e em Madri, muito se discutiu sobre o afluxo de imigrantes árabes e muçulmanos nos países ocidentais e os impactos culturais que daí decorreriam. Particularmente no caso do metrô de Madri, alguns aspectos chamavam a atenção: os terroristas eram todos muçulmanos e descendentes de árabes, mas haviam nascido e crescido na própria Espanha. Isso gerou a teoria da “síndrome de desterro”: esses jovens não se sentiriam nem bem árabes (etnia), nem bem espanhóis (nacionalidade). Os pais se reconheciam como estrangeiros e eram gratos à Europa que os recebera e lhes dera boas condições de trabalho; seus filhos, porém, se sentiriam “entre dois mundos” e sem pertencer de fato a nenhum deles; completamente deslocados, acabariam por odiar tanto a Espanha quanto o Ocidente inteiro. Adicione-se isso ao contato com religiosos extremistas, diziam os defensores da teoria, e tem-se como resultado centenas de inocentes mortos barbaramente.

Não sei se essa análise está correta. Provavelmente ninguém nunca vai saber, já que os responsáveis estão mortos. Certa ou errada essa explicação, o que é bem provável, todavia, é que tenha ocorrido um fluxo inverso: o contato cada vez maior dos jovens árabes com o ocidente parece ter sido determinante para a série de revoltas recentes batizada de “Primavera Árabe”, cujo último capítulo (até agora...) se dá na Líbia.

Os próprios revoltosos no Egito explicaram: o estopim dos protestos contra o governo Mubarak foi a revolta na Tunísia, mas a inspiração de seus objetivos são as democracias ocidentais. O maior contato com elas propiciado nos últimos tempos tornou ainda mais visível as diferenças entre sociedades abertas e as ditaduras em que viviam – e da indignação para a revolta aberta não foi um passo tão longo. Se o resultado da revolução vai mesmo ser uma democracia ainda é cedo para dizer, e muito depende de qual caminho o exército egípcio vai seguir. É notável, porém, que até o momento não haja nada no movimento relacionado a religião: não se fala de influência do islamismo na política, em nenhuma vertente. Não se fala de extremistas – pelo contrário, houve cenas tocantes de cristãos coptas protegendo os muçulmanos durante as orações destes na Praça Tahrir, e em seguida sendo convidados pelo imã a orarem juntos. Não se viu ninguém queimando bandeiras dos EUA ou mesmo de Israel.

Nem mesmo a temida Irmandade Muçulmana (autora confessa, no passado não muito distante, de ataques terroristas contra turistas com dezenas de mortos) manifestou interesse em se aproveitar do eventual vácuo de poder. Ao contrário, seus representantes declararam abertamente que não há interesse da organização em disputar a presidência nas eleições que se aproximam (se é verdade ou não, novamente só o tempo vai dizer).

O início é promissor, mas os receios da comunidade internacional sobre qual será o final não são sem fundamento: a História está cheia de exemplos de revoluções que tinham por objetivo pôr fim a uma ditadura e que tiveram como resultado ditaduras piores que as anteriores – o exemplo do que ocorreu no Irã em 1979 é bastante eloqüente.

Há ainda um aspecto fundamental dessas revoltas de que pouco está se tratando: um velhinho numa casinha, num confim gelado do mundo, cercado de livros por todos os lados. Mas vou tratar de Gene Sharp no próximo texto.

Ah, sim, as relações Brasil-Rússia-Ucrânia vão muito bem, obrigado :-)

sábado, 25 de dezembro de 2010

Férias e Diplomacia

A maioria entra agora em férias; este escriba, porém, inicia missão diplomática para fortalecer as relações entre Brasil e Rússia.
Feliz Natal e até 2011!! :-)

sábado, 11 de dezembro de 2010

A farsa da classificação “direita e esquerda”


Socialistas são “de esquerda”? Os liberais são “de direita”? Comunismo é “extrema-esquerda” e nazi-facismo é “extrema-direita”? O “centro” seria então uma mistura dos dois extremos? Qual a “régua” que mede exatamente onde fica cada coisa nessa pretensa divisão bidimensional? Hum, que confusão... Na verdade, essas supostas classificações são a manifestação de uma mal disfarçada ideologia anti-liberal – e, acima de tudo, são completamente falsas. Vou provar.

A origem desses termos bidimensionais é histórica. Na época da monarquia francesa havia o instituto dos “Estados Gerais”, uma assembléia que reunia os representantes da nobreza (“primeiro Estado”) da igreja católica (“segundo Estado”) e do povo (“terceiro Estado”, composto por girondinos e jacobinos). Criou-se o costume, não se sabe ao certo o motivo, de os dois primeiros se sentarem à direita do presidente da assembléia, e os representantes do povo se sentarem à esquerda (aliás, eram exatamente estes que se opunham ao estado totalitário e absolutista, veja que curioso...). Nobreza e igreja, claro, sempre votavam a favor da monarquia e da manutenção de seu poder absoluto; e, com isso, o povo sempre perdia por 2 a 1 – o que, como se sabe, foi um dos fatores que culminaram com a Revolução Francesa em 1789.

A partir daí, consolidou-se a “nomenclatura” de que “direita” significa elitista, ou monarquista, ou “anti-povo”, ou essencialmente conservador – alguém que quer manter as coisas como estão (nenhuma relação com "conservadorismo" como ideário político). Nessa mesma nomenclatura, “esquerda” passou a significar republicano, ou pró-povo, ou simplesmente revolucionário – alguém que quer mudar radicalmente o modo como as coisas estão.

Curiosamente, logo depois da revolução, os girondinos, por serem mais moderados, passaram a ser chamados de “direita”; os jacobinos, mais radicais, se tornaram a “esquerda”. Mais tarde, com a restauração da monarquia, os termos, de novo, mudaram completamente de sentido: direita passou a ser pró-monarquia e esquerda, pró-república.

A simples descrição da raiz histórica dessa divisão já mostra quão pouca relação ela tem com o espectro político moderno. Mas sigamos!

Conforme já expliquei em outro texto, o nacional-socialismo e seu irmão gêmeo, o fascismo, são simplesmente tipos de socialismo. Essa é a essência e a gênese de ambos, e não a de “opostos” do socialismo. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, essa verdade óbvia era extremamente incômoda para os países socialistas. Seus líderes precisavam vender a idéia de que o inimigo não era um igual, mas um “oposto” do que eles próprios representavam.

Lênin já havia usado e abusado do esquema "esquerda é socialismo" e "direita é capitalismo". Stalin não teve muita dificuldade em usar uma “atualização” conveniente: o socialismo seria extrema-esquerda; as “democracias burguesas”, liberais ou social-democratas seriam centro e o nazi-fascismo seria extrema-direita (nos EUA, Adorno teve papel fundamental na divulgação desse esquema falso, com seu delirante livro "A Personalidade Autoritária", em que afirma que a origem do nazi-fascismo seria... repressão sexual. Puxa, então não existia repressão sexual antes do fascismo?...).

Só pelos "autores" já seria possível ver quão pouco crédito a idéia merece; mas é no histórico que essa fraude se mostra por inteiro. A criação, como se vê, é essencialmente ideológica: Stalin quis se identificar como “pró-povo” e “anti-nazista”; ao mesmo tempo, impinge na sua classificação a idéia de que seus adversários são “contra o povo” e “com um pé no fascismo”. A realidade e os fatos históricos comprovam, porém, exatamente o contrário.

Não é de admirar as bobagens colossais que daí são geradas por essa classificação viciada. Veja um exemplo: o governo Fernando Collor, que fez o mais absurdo e inacreditável ataque do Estado à propriedade dos cidadãos, bloqueando os depósitos em banco, é comumente chamado “de direita”... Ou então, a ditadura militar brasileira, também chamada "de  direita", em que no auge do período Geisel tinha quase 80% da economia estatizada...Vá entender!

Não caia nessa. Chame as coisas pelo que elas são, não pelo esquema falso que os marxistas inventaram (liberais de "liberais", conservadores de "conservadores", social-democratas de... ok, você entendeu). Nem eles acreditavam nessa “régua” que pretende classificar as complicadas divisões políticas num mundinho bidimensional de direita/esquerda.

No mundo real, essa divisão tola só confunde, ao invés de esclarecer.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Lula, seus discursos e sua candidata

Pouco antes do segundo turno, fui perguntado num desses fóruns da vida se eu achava que a provável vitória da candidata Dilma seria decorrência da habilidade verbal de Lula. Que cada voto dela era devido a ele ninguém questionava; mas qual seria o peso, nessa relação, de seus famosos discursos?

Muito pequena, a meu ver. Penso que a popularidade de Lula tem pouco a ver com sua capacidade de comunicação. O ponto essencial, e que não tem nenhuma relação com comunicação ou com “carisma”, é que houve um enorme aumento de renda nos últimos 15 anos por decorrência do fim da inflação. É isso que faz Lula ser popular e é isso que elegeu Dilma; os discursos em que ele fala palavrões ou aparece bêbado têm pouca importância para quem, pela primeira vez, consegue comprar comida suficiente para o mês inteiro. É dessas pessoas que o “imposto inflacionário” sugava tudo e são essas pessoas, incluindo as que não recebem Bolsa Família, que lhe dão são sua aprovação recorde.

Falar de incontáveis escândalos comprovados de corrupção não causa efeito nessa imensidão de remediados. Eles não sabem ou não se importam que Lula, no bom e no mau, manteve quase tudo exatamente idêntico ao que havia no governo anterior – e seu grande mérito foi fazer isso na economia, para desespero de seus colegas de partido e para sorte do país e dessa massa de ex-esfomeados. Não adianta dizer que o fim da inflação foi obra do governo anterior, que Lula e seu partido atacaram o Plano Real e votaram contra ele em todas as votações Congresso, nem que Lula (esperto como sempre) colocou como presidente do Banco Central (o “dono do cofre”) um membro histórico do PSDB (ciente que ninguém em seu próprio partido era qualificado). Isso tudo importa pouco para quem passava fome e hoje consegue comprar frango todo domingo.

Lula, como comunicador, é na verdade bastante sofrível, mesmo quando fala para o povão. Se não fosse o frango dominical, suas metáforas de futebol e seus palavrões teriam tão pouco efeito quanto suas demais bravatas tiveram nas três vezes em que foi derrotado – o povo, mesmo com pouca educação formal, não é burro como o PT costuma supor. Ninguém, nem mesmo os analfabetos do mais profundo sertão, têm dúvidas das fragilidades intelectuais e de caráter de Lula; seus discursos deixam as duas coisas bem claras. Mas, lá nos confins da caatinga, esse analfabeto e ex-faminto pragmaticamente apóia quem lhe parece responsável pela melhoria em sua vida – e ninguém pode recriminá-lo por isso.

Aliás, a própria oposição tem grande responsabilidade nesse processo de permitir que o atual governo se aposse do Real e da estabilidade econômica que tanto condenavam.

Lula, mostrando a sagacidade política que, essa sim, é seu grande trunfo, também não mudou absolutamente nada nos pontos que precisavam desesperadamente de mudança. Ele sempre soube, e sempre declarou em seus discursos como candidato, que só com o peso político de um presidente recém-eleito é que o Congresso alteraria alguma coisa nos sistemas previdenciário, tributário e político (a reforma política, em particular, era prometida por Lula “logo nos seis primeiros meses” de seu primeiro mandato). Porém, espertamente, ele ficou bem longe desses vespeiros durante 8 anos, gastando-os em viagens burlescas e colecionando gafes internacionais. Ele sabe que, se tivesse enfrentado esses problemas, os resultados de curto prazo certamente gerariam um desgaste político muito grande. Essa esperta inércia quanto aos grandes problemas é o outro segredo muito especial de sua popularidade tão alta – e o país que pague o preço no longo prazo.

Na educação, que é péssima desde sempre e que deveria ser a prioridade máxima do país inteiro, ele cuidadosa e preguiçosamente fez o que faz melhor: nada, rigorosamente nada. Tudo na estrutura educacional, da forma de financiamento à regulamentação dos currículos, da divisão de competências entre os entes estatais à alocação de recursos, tudo permanece rigorosamente intocado. De novo, no longo prazo se pagará o preço dessa popularidade viçosa.

Com a sorte de não enfrentar crises internacionais, a única que Lula viu encontrou a economia brasileira tão sólida que aqui passou como “marolinha” – e é exatamente essa a “herança maldita” que ele desbragadamente copia há 8 anos, mesmo a amaldiçoando em público.

Mas a esperteza final de Lula, a esperteza maior, foi como se perpetuar no poder. Depois de perceber que proposta de alterar a Constituição para conseguir um terceiro mandato teria um custo político alto demais, ele descobriu um caminho diferente: criou uma candidata que, sem histórico político nenhum, sem ter participado de nenhuma eleição, sem nunca ter recebido um único voto em toda a sua vida, seria em tudo e por tudo completamente dependente dele – e Lula, o político mais esperto que já se viu, encontrou um meio de continuar no poder sem precisar se eleger.

Claro, há um perigo escondido aí – e o homem do povo talvez pudesse explicar a Lula que, “como diz o dito popular”, quem tenta ser esperto demais acaba sendo engolido pela própria esperteza. Ninguém garante que a nova dona da caneta não tome gosto pela coisa e resolva libertar-se de seu patrono. Ou ainda: Lula se orgulha de nunca ter lido nenhum livro, mas os de ficção científica e os de religião talvez lhe ensinassem aquele princípio difícil de fugir de que “a criatura sempre se volta contra o criador”. Por ora, porém, isso ainda é conjectura...

Enfim, a força de Lula não está em seus discursos ébrios e mal educados. Na verdade, o que ele diz tem muito pouca importância. O que ele faz, porém, vem definindo os rumos do país inteiro, num nível mais profundo do que se vê a primeira vista. E, pelo jeito, por um prazo muito mais longo do que se poderia supor.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Heróis da Resistência


Porque as ruas estão sempre cheias de lixo? Porque as pessoas jogam lixo nelas, é óbvio – e é assustador saber que, em São Paulo, a prefeitura gasta com varrição mais de um terço de todo o gasto com educação. E, mesmo assim, as ruas continuam sempre imundas; o que também não é de surpreender, já que, enquanto as pessoas continuarem jogando lixo na rua, nem se fosse gasto o triplo do orçamento da educação elas ficariam limpas (claro: ou muda-se a cultura, ou vai ser preciso um gari para cada habitante).

E esse é só o sinal mais visível de um grau de incivilidade que, além de profundo, parece estar piorando; é o mais visível, mas está longe de ser o único. Sinceramente, não sei se eu é que estou ficando velho demais, e portanto incomodado demais, ou se as coisas realmente estão piorando. Afora a incontornável questão da idade, às vezes acho que há, sim, um assustador contágio de tudo que existe de pior no comportamento das pessoas (tenho vontade de falar sobre o “efeito espelho”, mas isso fica pra outro dia). Parece que o certo é rapidamente desaprendido, enquanto o errado é assimilado com a mesma velocidade. O que diabos está acontecendo? Isso me lembra aqueles filmes de vampiro (os de zumbi também servem) em que o sujeito mordido se torna vampiro, e em seguida também sai por aí mordendo e... Será que falta de educação é contagiosa?...

Não sei, sinceramente não sei. O que sei é que vou dedicar este texto a todos aqueles que bravamente se recusam a ingressar nessa pavorosa maré de desrespeito e anti-cidadania. São verdadeiros heróis da resistência. A eles! :-)

A todos aqueles heróis que, óbvia e primeiramente, se recusam a jogar lixo na rua – que se recusam a usar como lixeira o espaço que é de todos. Àqueles que, além de não fazerem isso, ainda conseguem se sentir indignados com quem o faz, tanto quanto com quem diz coisas como “todo mundo joga” e “os garis ganham para isso”.

A todos aqueles corajosos que se recusam a falar no elevador, incomodando o espaço coletivo com seu palavrório privado – especialmente usando o bendito telefone celular. Aos que, igualmente, vão ao cinema para assistir ao filme, não para incomodar o mundo com sua verborragia infecciosa. Aos que se negam a aderir à barbárie no trânsito e continuam respeitando suas leis (lembremos que são LEIS, não “sugestões”!) – e se recusam a fechar os outros, a parar em cima da faixa de pedestres, a entupir o mundo estacionando em local proibido. A esses bravos que se recusam a aderir ao “todo mundo faz” das ruas, mesmo assistindo os absurdos ao volante praticados pela turma do “o bom é levar vantagem”. Aos sentinelas que rejeitam as infinitas formas de “jeitinho” para resolver, com algum tipo de patifaria, o que não conseguem (ou têm preguiça de) resolver com competência. Aos que, por não terem necessidades profundas de auto-afirmação, conseguem conversar sem interromper o infeliz interlocutor a cada meio segundo.

Aos guerreiros que não aceitam tossir em cima dos outros, nem espirrar em cima dos outros, nem bocejar exibindo o esôfago para o mundo – e, em respeito à saúde e higiene alheias, praticam o enorme esforço de pôr a mão na frente da boca durante esses atos. Heróis! Aos que conseguem deixar que os outros espirrem em paz, sem dizer “saúde” ao pobre autor da esternutação. Aos valentes que não furam fila, mesmo assistindo o mundo inteiro fazendo isso. Aos que têm a fulgurante inteligência de entender que, para entrar em qualquer lugar (seja numa sala, num elevador ou num vagão de metrô) é também muito mais fácil, além de mais educado, esperar sair quem já está dentro! Vejam que idéia revolucionária!

Acima de tudo, aos heróis que rejeitam a imundice suprema de falar de boca cheia – e cuspir comida em cima dos outros e da comida dos outros (sem falar naquele barulho nojento)!!... Esse, pior do que o crack, o analfabetismo ou a corrupção, é o mal maior que atinge nossa civilização cambaleante! Aos guardiões da civilidade que não se contaminaram com essa podridão, Ave! Ave adsertor civitas, mortitani salutari!! A barbárie avança, mas a civilização ainda tem os seus soldados!

Brincadeiras à parte, sempre defendi que, nas últimas décadas, o mundo tem melhorado muito, em quase todos os aspectos. Em alguns pontos básicos de civilidade, porém, pelo que consigo enxergar do meu pouco tempo de vida (“pouco” em termos históricos; não vou desmentir no final do texto o peso dos anos que admiti no começo) parece que estamos regredindo. O que está acontecendo?

domingo, 22 de agosto de 2010

Camiseta Famosa!... :-)


Quem disse que eu não ligo pra moda? Olha o modelito da minha nova camiseta, que coisa mais fashion!...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Menos Guerras no Mundo

Desde sempre ouvimos que “Nostradamus previra” o fim do mundo para o ano 2000. Quando 2000 chegou, disseram que tinha havido uma “falha na interpretação”, e o fim na verdade ocorreria em 2001. Ou seja, a partir de 2002 ficamos livres de ouvir esse tipo de bobagem, certo?

Não, claro que não!... Agora, os “intérpretes de Nostradamus” dizem que o fim virá em 2012 – e, pra melhorar, incluem na trambicagem profética o “fim do calendário maia”... Afirmam que “os sinais do fim dos tempos” estão claramente visíveis (!); o mundo, segundo dizem, estaria cada vez pior: mais crises, mais desastres naturais e, claro, mais guerras. Será mesmo?

Essa discussão é praticamente idêntica à ocorrida – acredite! – no longínquo ano 1000, em que "profetas” também garantiam que o mundo chegaria ao fim. Além, claro, do nosso inexplicável fascínio por “números redondos”, existe nisso um outro aspecto mais fácil de explicar: toda pessoa sempre acredita que a sua geração é a mais importante que já existiu. Afinal, é a geração em que ela vive, ora! Então, se algo glorioso e colossal deve acontecer com o mundo algum dia (inclusive seu fim), deve ser “nesta” geração!...

A verdade é que há cada vez mais gente no mundo, então é natural que haja mais gente morrendo por conta dos desastres naturais. Esse número maior de pessoas normalmente se fixa à beira ou de rios, ou do mar – então também é natural que haja mais gente sujeita a inundações e furacões. O aquecimento global pode ter um peso nisso, mas por enquanto ninguém sabe ao certo se e quanto isso produz de influência.

O mais interessante de tudo, porém, não tem nada a ver com bobagens proféticas: apesar de a população mundial ser cada vez maior, o número de guerras não pára de cair. Apesar de haver um número maior de pessoas disputando o mesmo montante escasso de recursos, há cada vez menos guerras.

Segundo o estudo do Instituto Heidelberg para Pesquisas em Conflitos Internacionais (HIIK, na sigla em alemão), no ano de 2009 o mundo presenciou um total de 365 “conflitos políticos”, entre os quais sete guerras e 24 “crises graves”. O HIIK criou o “Conflict Barometer” (algo como “barômetro de conflitos”, ou “conflitômetro”). Veja a íntegra do estudo aqui: http://hiik.de/en/konfliktbarometer/index.html

Conforme se verifica, os conflitos de Estado contra Estado são cada vez mais raros desde o fim da Segunda Guerra Mundial, e o número decresceu ainda mais com o fim da União Soviética. Ainda pelos dados do HIIK, essa queda, no entanto, não foi contínua: entre 1980 a 1990 houve crescimento dos conflitos, com um ápice em 1992 (ano de 52 conflitos “altamente violentos”) – exatamente o período do colapso da URSS. As crises mais comuns, desde então, são conflitos internos travados entre grupos rivais de um mesmo país. Ainda que muitas vezes grupos rebeldes recebam auxílio de países estrangeiros, a natureza desse tipo de conflito é muito mais limitada do que as guerras totais entre Estados. O número de vítimas, naturalmente, também é muito menor.

O fenômeno é bastante complexo, mas a causa principal, certamente, é que é cada vez menor o número de ditaduras no mundo. Não é à toa que o fim do nazismo marcou o início dessa queda no número de guerras e que o fim da URSS tenha acentuado a diminuição: até hoje, em toda a história da humanidade, não houve nem um único caso de duas democracias que tenham entrado em guerra. Guerra é coisa de ditaduras. Há, claro, o recente, estúpido e vergonhoso caso de uma democracia que atacou uma ditadura sem ter sido atacada antes (a invasão do Iraque pelos EUA), mas isso é outra história.

Não sei se o mundo vai acabar em 2012, mas há bons motivos para acreditar que, se ainda estivermos por aqui, vamos habitar um planeta um cada vez mais pacífico. É algo pelo qual vale a pena trabalhar.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Culto a um Assassino

"O ódio como elemento da luta; ódio inabalável pelo inimigo, que impele o ser humano para além de suas limitações naturais, transformando-o numa máquina de matar, eficaz, violenta, seletiva e a sangue frio. É isso o que nossos soldados precisam se tornar..."

Sabe de quem é essa frase? Ela pode não ser muito conhecida, mas seu autor é. Parece coisa de Adolf Hitler, não? Ou de alguém muito parecido com ele, quem sabe. O texto que a contém foi escrito com todo cuidado (nada de “foi um momento de raiva...”), o autor era inteligente e ela não está “fora de contexto” – pelo contrário, o texto todo segue exatamente essa linha. Ela expressa o que ele de fato pensa e o que efetivamente demonstrou por seus atos durante toda sua vida. Ainda está difícil? Vou dar mais algumas pistas. Ao fim delas, você vai achar que o conteúdo da frase é pouco se comparado ao caráter de quem a escreveu...

Seu autor veio de classe média-alta e teve ótima educação. Bem cedo se uniu a movimentos radicais que buscavam o poder no estrangeiro e, com a desculpa de “impor a verdade” (da qual ele, claro, era o legítimo e iluminado portador), passou a usar a luta armada para atingir seus objetivos. Afeganistão? Bin Laden? Não; nem tão longe, nem tão recente.

Aproveitando-se de um movimento popular que queria, apenas, depor um governo corrupto, ele e seus partidários chegam ao poder e rapidamente impõem suas concepções radicais. Na luta interna de poder que se segue, nosso personagem acaba ficando com um papel “subalterno”: assassinar os dissidentes. Quem não concorda com o poder total dos novos donos do trono merece a morte – e é o autor da frase o encarregado de matar centenas de inocentes desarmados. Stalin? Lênin? Mao? Saddam Hussein? Não, nada tão óbvio.

Insatisfeito em ser apenas o mandante dos homicídios, ele determina pessoalmente os fuzilamentos – e, em boa parte dos casos, faz questão de estar presente e assistir às mortes. Há milhares de testemunhas relatando sua satisfação em presidir as execuções, algumas vezes sorrindo. Como médico de formação, tem um prazer sombrio e pervertido em assistir como os corpos dos inocentes reagem às intermináveis sessões de tortura que ocorrem nas prisões sob seu comando.

Sim, ele era médico. Joseph Mengele, então? Hum, ainda não, mas está esquentando.
Ainda não satisfeito, ele tem a “honra” de ser o criador dos campos de trabalho forçado no país que, agora, se tornou uma ditadura totalitária, sem limite algum. O país inteiro se transforma numa enorme senzala, o povo é reduzido à miséria absoluta e à condição de “máquinas de trabalhar” de propriedade do governo – cujo resultado mais explícito são, justamente, os campos de trabalho forçado, para orgulho de seu envaidecido criador.

Ainda está difícil?

A luta interna pelo poder (que agora é poder absoluto) se acirra, e nosso assassino/escravocrata sai derrotado. Em função disso, ele resolve tentar conseguir o poder em outro país estrangeiro – e dessa vez, escolhe um ainda mais pobre do que o anterior, certo de que isso tornará mais fácil manobrar as massas para que aceitem a luta armada.

Seu plano, dessa vez, é um fracasso total. Num um único habitante do seu “novo alvo” aceita ser bucha de canhão de seus sonhos totalitários. Capturado, demonstra uma enorme covardia; ele, sempre tão tranqüilo em mandar milhares de jovens para a morte, se borra de medo perante seus captores e implora por sua vida – mais uma grande semelhança com seu colega Hitler, que, diante do fim iminente, preferiu o caminho covarde de um suicídio indolor a ter de responder por seus atos.

Ah, agora ficou fácil, não é mesmo? Sim, esse assassino covarde, que dedicou sua vida a criar um regime de escravidão total é Ernesto Guevara de La Serna, mais conhecido como Che Guevara. A forma como ele, Fidel Castro e seus comparsas transformaram uma revolução que originalmente era democrática num experimento socialista e totalitário é algo apavorante. Encastelado no poder com o cargo de procurador-geral, ele foi o responsável direto por centenas de fuzilamentos em múltiplas prisões (inclusive a primeira a promovê-los, a Fortaleza de São Carlos de La Cabaña).

Escravocrata convicto, ele foi o criador dos horrendos “campos de trabalho coletivo” (campos de concentração com trabalho forçado, sendo os primeiros na península de Guanaha. Até hoje, esses campos são um dos piores pesadelos do povo cubano). A frase que inicia este texto é parte da Mensaje a los Pueblos Del Mundo, seu famoso manifesto em que pede “dois, três, cem Vietnams”.

Tendo perdido a disputa de poder para Fidel Castro, foi tentar ser dono de sua própria ditadura na Bolívia, onde – como dito – nem um único boliviano seguiu seus sonhos de tirania. Capturado, o assassino frio demonstra um enorme medo da morte – por se tratar da sua própria, claro, e implora pela vida com a frase famosa: “por favor, não me matem... Eu sou Che Guevara, tenho mais valor vivo do que morto...” Além de covarde, egocêntrico!...

Como um monstro desses pode ter sido eleito à categoria de ídolo da juventude? Como alguém que criou um regime que exigia obediência absoluta vira sinônimo de “rebeldia”? Como um tirano escravocrata se torna “herói libertário” no imaginário das pessoas?

Eu não sei a resposta.

Muita propaganda, claro; muita doutrinação socialista, claro também, desde sempre; muita falta de informação por parte de quem veste a famosa camiseta, é óbvio; mas isso só não explica. Há algo de mais profundo na transformação do assassino em mito que precisa se estudado em profundidade. Claro que Hitler e Stalin até hoje também têm seus seguidores, mas nada que se compare à escala de “mito moderno” a que chega o Comandante Assassino (como se referem os sobreviventes e familiares das vítimas).

O mais próximo que eu já consegui de uma resposta, que foi obtida de seus próprios seguidores, é que “Che foi um idealista, que morreu por seus ideais”. Ora, se é esse o motivo, então eles deveriam prestar culto também a Hitler, outro socialista que também morreu “por seus ideais” (insisto, ambos demonstrando idêntica covardia na hora de “morrer pelos ideais” e ambos partilhando “ideais” coletivistas bastante semelhantes).

Alguém tem alguma teoria? Eu não tenho. Eu só fico horrorizado de ver esse sujeito ser alçado à condição de “herói”, mas não consigo explicar tal coisa.

Alguém consegue?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Melhor que ser do contra é ser chato

- Você vai gostar! É pop, mas você vai gostar. Tente não ser do contra uma única vez, tá bem? Você vai gostar!
- Se você diz...
Nunca entendi exatamente o que é música “pop”. Rock e erudito, que são os estilos de que gosto, são razoavelmente fáceis de definir. De música eletrônica gosto de alguma coisa, mas nunca consigo explicar qual das “vertentes” me agrada; a última vez que tentei, com um sujeito que entendia muito do assunto, fiquei sabendo que o que eu gostava era “house”. Aceitei a definição, até por não ter embasamento para contrariar, mesmo sem entender até hoje o que ela significa. Mas e pop?
- É uma verdadeira revolução no pop! É uma mudança de paradigmas, diferente de tudo que já foi feito... Não seja chato e tente escutar de mente aberta...
- Chato, eu? – Ironizei. – Vamos lá, quero ouvir sua revolução... Agora fiquei curioso...
E então ela toca Poker Face, de Lady Gaga.
- Plágio! – grito eu, logo nos primeiros acordes. – Plágio! Sua “revolução do pop” é simples plágio, e ainda por cima de uma música bem velha... Grande novidade essa!
- Plágio?! Não é possível – responde ela. – Plágio de qual “música velha”?
- Hãn... Não sei.
- Como, “não sabe”?
- Não sei, mas tenho certeza de que essa música é pura cópia de outra bem velha, que já ouvi faz tempo... Até esse “ma-ma-ma” do refrão é copiado...
- Duvido!!!...
Fiquei bastante tempo com isso na cabeça. Minha memória, que não costuma ser “lá essas coisas”, com música dificilmente falha.
E, depois de muito, muito tempo:
- Achei o vídeo, a música, a banda, a letra, tudo.
- Do quê?
- Do plágio descarado que a sua Lady não-sei-quê fez.
- Nossa, você ainda lembra disso? Porque não admite que a música é legal? Só porque é pop? E o nome é Lady Gaga...
- A música É legal. Só que é plágio. Confere aqui...
- Ora, só porque... Ah, não!?... Não acredito!!... Até o “ma-ma-ma” é igual... Que droga, é plágio mesmo...
Ficou curioso? Então assista ao vídeo de Ma Baker, do grupo Boney M, direto do longínquo ano de 1977 (a música foi composta um ano antes), e tire suas conclusões...

http://www.youtube.com/watch?v=NhiCAUoMgXw&feature=related