quarta-feira, 1 de julho de 2009

Floripa e Outras Histórias


Publicado por Braghittoni Ives em 02 Fev 2009 sob: Carros, Viagens (editar)

Esse texto é de 2005 e conta como foi o encontro nacional do Clube Calibra daquele ano. Ok, é antigo, mas acho que explica algumas coisas a respeito de… Bom, de outras coisas.E você, também tem uma história de viagem que evoca recordações??… Conte pra mim nos comentários.

Floripa e Outras Histórias

— Esportivo de verdade tem de ser vermelho.
— Eu prefiro preto…
— Vermelho sempre chama mais atenção.
— É, mas preto é mais sóbrio…
— Bom, então vamos combinar: um dia, nós voltaremos aqui pra Floripa… Você com um esportivo preto, eu com o meu futuro carro vermelhão!…
— Tá combinado e eu vou cobrar!!

Depois daquela conversa, ainda levaria muito tempo para eu tirar a carta de motorista, mais ainda para comprar meu primeiro carro e muito, mas MUITO mais tempo para conseguir o esportivo que eu queria. Preto, claro.

Não vou no comboio, acordar às 4:00 está fora de questão. Eu acordaria se não tivesse ido dormir tão tarde na sexta – mas deixar de ir ao aniversário de um grande amigo está completamente fora de questão. Às 22:00h, vejo as fotos da lua de mel de que ele acabou de voltar. Parece que foi ontem que apresentei a ele a menina que hoje é sua esposa… Às 7:30 do dia seguinte o motor já está aquecido, ronronando, pedindo atividade. A marginal está livre, antes das oito meu fiel companheiro está em seu habitat natural, a estrada.

Chega de vielas minúsculas, o lugar dele é na estrada! O fato é comemorado transformando o ronco leve num urro sensacional, o corpo sendo empurrado contra o banco, a liberdade crescendo com as rotações. Seu viado, você precisava ver isso.Gott Segnet Calibra. Enquanto lembro dos amigos antigos, peço que abençôe também aos novos – que ninguém exagere no pé direito, que cheguem todos bem, que aproveitem a viagem. Gott Segnet Calibra, e aos donos também! Seu viado, você tinha que conhecer esses caras.

O projeto de som ficou ótimo – forte, definido, está perfeito mesmo para um chato metido a audiófilo como eu. Sem a ajuda dos camaradas, nunca teria ficado tão bom, e com certeza sairia muito mais caro. Aliás, como a própria reforma do carro todo… Faço questão de tocar a seleção que fiz de músicas dos anos 80… As mesmas músicas da primeira vez em Floripa.

Mas às vezes é bom desligar o som, curtir só a sinfonia que o engenho humano criou… O motor, o vento, toda aquela cavalaria ali disponível, mas com um controle tão dócil e tão seguro… O som puro de uma máquina tão perfeita, com forma e função tão bem somadas…

Abro o teto solar, recebo o vento; contorno as curvas, sinto o carro pedir mais velocidade, contenho a mim e a ele com um sorriso… A viagem é pra ser apreciada, não pra se transformar numa briga contra o relógio… Mas isso inclui, claro, eventuais “esticadas” prazenteiras…
A melhor aerodinâmica de todos os tempos, o único campeão mundial de DTM, eleito o carro mais bonito do mundo em… Qual ano mesmo? Tanto faz, pra mim ele sempre teve esse título. O que realmente falta aqui é um igual, vermelho, aqui do lado… Do lado o cacete – atrás, é claro!
Ou talvez fosse um Eclipse vermelho, ou um Audi, só pra me contrariar… Bom, aí sim é que iria ficar pra trás mesmo. Seu viado!

Na altura de Curitiba encontro o comboio que veio de Santos – e o vôo solitário se torna um show acrobático de uma esquadrilha de oito integrantes, dominando a estrada até Floripa. A vista da Ponte é sempre emocionante… “Ei, onde fica o hotel? Alguém conhece a cidade?” Eu conheço bem Floripa, deixa que eu vou na frente!!

Amigos que vejo sempre, amigos que só vi no ano passado, tão longe que estavam – mas agora estão todos aqui, sorrindo e mostrando os carros tão bem cuidados (e quanto nos ajudamos mutuamente nisso!) quanto um filho. No fundo, são quase isso mesmo. Somos todos tios dos carros uns dos outros.

Nunca acreditei em destino, mas algumas coisas são mesmo engraçadas – como essas coincidências tão impossíveis que exigem foto, senão ninguém acredita. E é assim que encontro, na entrada do hotel, um amigo de infância, e é bom tirar a foto logo depois do abraço, senão ninguém acredita. Há meses não nos falávamos pessoalmente, e vamos nos achar tão longe de casa… Floripa é mesmo incrível. Cara, você tinha que ver isso.

Gott Segnet Calibra. Com todos juntos, no dia seguinte, a esquadrilha se torna um esquadrão de quase quarenta carros. É um assombro de se ver… E mais ainda de participar. E pensar que o grande problema das primeiras viagens era o enorme tempo perdido em ônibus pra ir de um lugar ao outro… Floripa sem carro é uma dureza, é verdade. Quanta diferença agora!

À noite revejo meu amigo – não importa há quanto tempo não nos víamos, é como se fosse ontem. Faz dez minutos que entramos no restaurante do hotel. Faz dez minutos que, dez anos atrás, conto a ele que estou insatisfeito no novo emprego, que me paga tão bem, e ele me responde “esquece salário… Como você mesmo me disse, só vai ser feliz quando tiver seu próprio escritório…” Faz dez minutos que, vinte anos atrás, exaustos, imundos e famintos, sorrimos quando olhamos para o topo do monte mais alto de São Paulo e, arrastando os outros quatro que queriam desistir, dizemos um ao outro: “vamos? Sim, vaaaaamos!!…”

Lembro que, antes da minha primeira viagem, não conseguia entender porque falavam tanto de Floripa, e alguém me respondeu que “entre outras coisas, lá até as caixas do supermercado parecem top-models”. No jantar da noite seguinte, é melhor tirar uma foto da garçonete da pizzaria, ou ninguém vai acreditar o quão incrivelmente bonita ela é. Cara, você tá perdendo mesmo…

Ainda há várias visitas por fazer – além das memórias, tantas viagens a Floripa criaram boas amizades. A visita daquele dia é especial, e quando me mostra seu segundo filho (esse eu ainda não conhecia!!), ela parece, aos meus olhos cansados, ainda mais bonita do que quando era a rainha da Joaquina (a Praia Mole naqueles tempos não estava na moda). Lembro como se tivesse sido há dez minutos aquela primeira viagem e eu, completamente perdido ali, e de ela me dizendo “ei, paulista, pára de falar ‘Florianópolis’, diz só Floripa mesmo…” Mesmo sabendo que é três anos mais velha do que eu, ela realmente me parece ainda mais bonita agora e, quando chega a hora de ir, ouço-a dizer “de um jeito diferente, eu ainda gosto de você…”

Vou perder o comboio da volta, há uma última visita por fazer. Uma última foto da ponte, que visão fantástica! Hora de colocar de novo o carro na estrada, e de novo encurtar tanto aquela distância que antes era tão maior… Demorou, mas aqui estou eu. Eu e meu esportivo preto, em Floripa. Espero que você esteja vendo isso!…

Onde quer que você esteja, deve ser um lugar muito parecido com Floripa…

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